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Aramis

A droga, na tela grande e pequena

A ficção antecipando a realidade. Dois filmes - um na tela ampla, em lançamento nacional ("007 - Licença para Matar", de John Glenn, em exibição em Curitiba no Condor), outro em vídeo ("Pó Branco / Tropical Snow", de Ciro Duran) abordam uma temática que a verdadeira guerra civil que se trava, neste momento, na Colômbia, torna atualíssimo: o tráfico de narcóticos. Se a nova aventura de James Bond, com todos os recursos que a série dispõe, chegou precedido de uma grande promoção - o que garante um público fiel aos cinemas que o exibem, "Pó Branco" ficou meio perdido no penúltimo pacote da CIC Vídeo, que foi capitaneado pelo aguardadíssimo lançamento de "A Última Tentação de Cristo", de Martin Scorcese, de uma emotiva refilmagem de "A Princesa e o Plebeu" e do terrífico "Pesadelos Diabólicos", de Joseph Sargent, que com suas 4 estórias ganhou até um Emmy na televisão americana. Assim, as locadoras não estão dando maior atenção a "Pó Branco", uma produção relativamente modesta mas que, se bem promovida - e com a atualidade que o assunto (tóxicos) adquiriu nestes últimos dias - ganha até um certo sabor de jornalismo. Isto porque o diretor-roteirista Ciro Duran (de quem não se tem, absolutamente, maiores informações), desenvolve nos 87 minutos deste filme a denúncia de um aspecto terrível na exportação de cocaína da Colômbia para os Estados Unidos e outros países: transformados em pastilhas, são engolidos por jovens que acabam, inúmeras vezes, morrendo, em conseqüência do rompimento dos micropacotes que engoliram. Por trás desta denúncia, Duran captou todo o clima de miséria e subdesenvolvimento existente na Colômbia e o sonho de dois jovens - Tavo (Nick Corri) e Marine (Madeleine Stowe), amantes que sonham deixar seu país e tentar a sorte em Nova Iorque. Os dois aplicam pequenos golpes nos turistas, no aeroporto de Bogotá e a bela Marine tenta também trabalhar como garçonete em night-clubs da capital colombiana - a um passo da prostituição. Resistem, no início, às propostas do traficante Oskar (David Carradine), para ingressarem no perigoso jogo de transportarem, em seus estômagos, 300 doses de cocaína, embrulhadas e destinadas à conexão nova-iorquina. Entretanto, após a frustrada tentativa de Tavo em chegar a Nova Iorque, clandestinamente, num vôo via Nassau - no qual acaba preso e acusado de traficante - não resta outra solução a Marine em aceitar a proposta de Oskar e convencer seu amante a também participar da aventura, que termina tragicamente. Com uma narrativa convencional, um elenco de intérpretes desconhecidos - exceto David Carradine, como o vilão - "Tropical Snow" tem, entretanto, o mérito de ser um filme de utilidade pública, ou seja, daquelas produções que denunciam o poder dos barões da coca, suas implicações internacionais e as armadilhas mortais que criam para jovens inexperientes. Careta aos que defendem os tóxicos, quadrado como cinema para os vanguardeiros, mas merecedor de atenção, com uma fotografia de Eduardo Serra, que aproveita os exteriores da Colômbia, marcante trilha sonora de Alan Dermarderosian e, sobretudo, um elenco esforçado - no qual além de Nick, Madeleine e Carradine, estão outros intérpretes de composição. O produtor executivo é o americano Howard W. Koch, experiente realizador de filmes "b" e que acreditou no projeto de Ciro Duran. Inédito nos circuitos comerciais, "Pó Branco" chega na redução em vídeo. xxx Ator, diretor e roteirista, chamado por Rubens Ewald Filho ("Enciclopédia dos Cineastas", 1988) como "um sub-Woody Allen", Albert Brooks, tem aparecido como ator em filmes como "Recruta Benjamin" (1980), e "Infielmente Tua" (1984), ambas de seu amigo Howard Zieff, como diretor, estreou há dez anos em "Real Life", prosseguindo depois com "Modern Romance" e "Lost in America" (1985), nos quais também foi ator. Mas estes filmes ficaram despercebidos. Entretanto, "Lost in America" - com o subtítulo de "Relax", acaba de sair no Brasil pela Warner. Comédia up to date, trata de um yuppie aloprado, David Howard (Brooks), que após oito anos de intenso trabalho numa agência de publicidade, convence a esposa, Linda (Jullie Hagerty), a saírem em férias descompromissadas. O resultado é uma comédia interessante, que permite reflexões - e revela o talento de Brooks antes de sua consagração como diretor. Isto porque, há dois anos, fez "Nos Bastidores da Notícia" (Broadcast News), que com as indicações ao Oscar lhe deu uma merecida projeção. A atriz Jullie Hagerty também já foi vista ao menos em duas comédias importantes: "Apertem os Cintos, o Piloto Sumiu" e "Sonhos Eróticos de uma Noite de Verão" (de Woody Allen).
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Nenhum
8
14/09/1989

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