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Aramis

A dupla dose latinista com a Casla "Ah! Mérica

No último sábado, pela manhã, Sheila Curi, coordenadora da temporada de "Ah! Mérica", em Curitiba (Auditório Salvador de Ferrante, de 2 a 6 do corrente), conheceu a pintora Marisa Bertolli, tesoureira da recém-criada Casa Latino-Americana, que será inaugurada oficialmente esta semana. Feliz coincidência: no momento em que um dos grandes atores do Brasil, Raul Cortez, aqui estará apresentando o mais elogiado espetáculo sobre a América Latina, a cidade ganha uma instituição preocupada em defender e divulgar a cultura continental. "Ah! Mérica" é um espetáculo com poemas e textos de autores latino-americanos, em montagem que desde abril último vem merecendo aplausos da crítica e do público em São Paulo. Agora, numa produção de Sandro Polonio, Raul Cortez começa a viajar com este show, fazendo justamente uma temporada curitibana, com estréia amanhã à noite. xxx A Casa Latino-Americana foi fundada por um grupo de latino-americanos preocupados com a necessidade de divulgar a música, a literatura e as artes plásticas do Continente, bem como de estabelecer uma presença política, ao menos no campo da informação. A assembléia de fundação aconteceu já há alguns meses (20 de junho último), no Museu Paranaense, com a eleição da primeira diretoria. A presidente é uma uruguaia, a médica Glady de Souza, casada com um técnico do Ipartes. O vice-presidente é o economista Ronaldo Lopes Garcia. Nos demais cargos, estão Elisabeth Azevedo (secretária geral), Paulo Mossoca (1º secretário), Edmar Meimes (tesoureiro geral), Marisa Bertolli (1ª tesoureira) e Denise Oliveira e Belmiro Fiorani, vogais. No Conselho Fiscal, constam João Bosco da Silveira Vidal, Lucia Santos e Miguel Gueissler. No Conselho Consultivo, muitos políticos: Paulo Schilling (ex-assessor de Brizola, durante anos exilado no Uruguai) e os deputados Nelton Friedrich, Roberto Requião, Marcio Almeida, Sérgio Spada, Gernote Kirinus e Osvaldo Alencar Furtado, este um dos que mais batalharam pela criação da entidade. xxx A Casa Latino-Americana - a Casla - começa funcionando na Rua Lívio Moreira, 514 (fone: 253-7234), mas, para a abertura oficial, a diretoria obteve o Solar do Barão, onde, aliás, tempos atrás já houve um núcleo de música latino-americana. Para assinalar o acontecimento, foi organizado uma "Semana América Latina Sem Fronteiras", que inclui palestras interessantes. Exemplo: Olympio Serra, antropólogo, chefe do Departamento de Etnias do Sphan Pró Memória/MEC, aqui estará, dia 6, debatendo o tema "O que é patrimônio cultural?" Numa reunião em que também estarão a crítica Adalice Araujo, Ricardo Giorglia, Maria Beatriz Flazas de Fontana (Colombia) e Maria Teresa (representando a União das Nações Indígenas), serão levantados temas que possam abranger toda a diversidade do Continente, como a questão indígena, a cultura afro-brasileira e a política de ação cultural, a preservação e restauração de nossos acervos, etc. Na próxima semana, prosseguirão os debates com temas como "Imprensa na América Latina" (com a presença de Paulo Schilling); Alternativas Político-Econômicas para a AL; Intervenção na AL e o Grupo de Contadora; Educação na AL, e, finalmente, Língua e Sociedade, e [Plurilingüismo] nos ensinos de 1º e 2º grau. xxx O interesse pela América Latina - nos aspectos culturais, econômicos e políticos - vem crescendo nos últimos anos. Hoje, o grupo Tarancon, de São Paulo, formado na maioria de brasileiros, tem um público seguro em Curitiba. Outro grupo, este bem mais firme nas propostas musicais, o Raízes da América, já tem meia dúzia de elepês gravados pelo Estúdio Eldorado. A Copacabana, há alguns anos, aqui editou dezenas de discos de artistas argentinos, chilenos e de outros países. As canções de Violeta Parra são populares e os discos de Mercedes Sosa têm sempre vendagem certa. Até um grupo local, de apaixonados pela música latino-americana, foi formado para apresentar canções de nossos países vizinhos. Curitiba, tradicionalmente, sempre reuniu estudantes de vários países da América do Sul e Central, atraídos pelos cursos da Universidade Federal do Paraná, aos quais, em virtude de convênios internacionais, sempre tiveram acesso sem vestibular. Muitos, após formados, casaram-se com brasileiras, e aqui permanecem, inclusive em bens sucedidas carreiras na medicina, arquitetura, engenharia - entre outras profissões. Portanto, a criação de uma Casa Latino-Americana é mesmo oportuna. Agora é de esperar que o excesso de política (e o domínio dos parlamentares do PMDB em seu Conselho Consultivo já é um sintoma disso) não venha a prejudicar a participação cultural que possa desenvolver a Casla no Estado.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
01/10/1985

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