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Aramis

Eliane, uma fogueira com bossa e balanço

A trágica e prematura morte de Clara Nunes (1943-1983) deixou Beth Carvalho numa liderança natural da música brasileira no que se refere às raízes populares. Embora na própria RCA haja uma cantora em ascensão unindo a força e calor do samba ao romantismo - a maranhense Alcione - muitas tentativas de ingressar neste segmento da MPB têm fracassado. Candidatas a interpretarem o samba, o forró, ou a canção romântica com a desenvoltura de uma Beth Carvalho existem muitas. Poucas, entretanto conseguem ser bem sucedidas. Por isto uma agradavel surpresa é Eliana de Lima, lançada no final do ano passado no lp "Fogueira de não se Apagar" (Continental, produção de Jairo Pires). A sua voz é uma das mais agradáveis, possui um ótimo ritmo e o repertório é interessante. Totonho, compositor já bastante conhecido, e autor de quatro faixas - "Fogueira de Não se Apagar", "Pode Não Pode", "Do inverno ao verão" e Benzerena". Aldir Blanc fez uma bela letra para um samba de Claudino Jorge ("O Espetáculo Continua"), o competente Jorge Aragão (em parceria com Jotabê) é o autor de "Sonhos Clandestinos" e o respeitado Talismã, o paulista que tem feito muitas músicas de sucesso é o autor de "Tamborim Mensageiro". Até a brega Roberta Miranda divide com Babalorixá uma curiosa música de raízes afro ("Mãe Babá"). Claro que não se pode comparar (ainda) Eliana de Lima a Beth, embora esta não deixe de ser a referência normal quando se ouve estas faixas. A produção também é bem mais modesta mas não deixa de ser interessante ouvir com atenção a nova cantora. Emoção e garra, numa presença salutar. xxx Um dos mais radicais defensores da música brasileira, inimigo figadal do colonialismo cultural, o jornalista Edilson Leal, da "Folha de Londrina", entusiasmou-se tanto com a audição do elepê de Silas de Andrade ("Fogo de Saudade") que fez sua metralhadora verbal girar contra os disc-jockeys e programadores que esquecem de programar artistas autênticos como este crioulo simpático para "entortar a boca no anúncio de músicas estrangeiras que não têm nada a ver com a nossa cultura musical". Edilson, bom baiano, bom de briga e grande amigo tem toda a razão. Silas de Andrade é um sambista de bossa e balanço, que com um repertório do melhor nível (Monarco, Arlindo Cruz, Mauro Diniz, entre outros) desfila um painel colorido e de muito molejo do samba autêntico nas 12 faixas deste elepê despretencioso, mas bem produzido e com amparo de um bom grupo coral. O próximo lp de Djalma Pires ("Samba de Ninar") é antecedido de um disco mix, que a julgar pelas duas faixas selecionadas - "Samba de Ninar" (JOrge Silva/Djalma Pires/ Belo Xis) e "Pisa nesse Chão com Força", (Geovana) promete bastante. Já Wilson de Assis também traz um bom repertório em "O improtante é que valeu", onde novamente se destaca o violão de sete cordas de Rafael Rabello. Os arranjos do maestro Ivan Paulo garantem um emolduramento feliz a sambas como "Mais uma vez", "Chinelo Velho" e "Barco da ilusão". Como o novo elepê do Fundo de Quintal ainda não chegou, o pagode em termos de grupo fica com o grupo Levanta Poeira. Em "O melhor do Pagode", este noneto vocal-instrumental apresenta um pot-pourri com nada menos que 24 pagodes incrementados. Uma revisão do gênero, feita com bossa e balanço. Tudo muito bem, tudo muito bom! Válidos discos. mas cá entre nós, o que estamos esperando - e lá se vão quase quatro anos - é o novo disco doPaulinho da Viola. FOTOS SEM LEGENDA
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
7
22/02/1987

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