Login do usuário

Aramis

E Elymar realizou o seu sonho: cantar no Canecão

Em 12 de novembro de 1985, o Canecão - a grande casa de shows do Rio de Janeiro - teve uma noite diferente. Ao invés de Bethânia, Roberto Carlos ou Ivan Lins - nomes habituais nos super-shows que Zeca Prioli costuma apresentar em suas temporadas, ali se apresentava um cantor totalmente desconhecido: Elymar. Modesto cantor do circuito de churrascarias, vivendo na Ilha do Governador, Elymar fez uma jogada decisiva: arriscando seu único patrimônio - um apartamento comprado pelo BNH - alugou o Canecão para tentar uma última (e desesperada) chance de deixar o anonimato de tantos que buscam inutilmente um lugar no céu artístico. Graças à sensibilidade de uma jornalista, Léa Penteado, sua estória ganhou as páginas da imprensa nacional e comoveu muitas pessoas. O mais importante: dono de bela voz, Elymar agradou. O público que foi naquela noite era constituído basicamente daquele que já o conhecia nas churrascarias de subúrbios onde costuma se apresentar - e ao qual dirigiu a venda dos ingressos, para tentar pagar as despesas. Mas houve também jornalistas, produtores artísticos e até diretores de gravadoras que o assistiram (e gostaram). Assim, além das notícias na imprensa, Elymar ganhou, poucas semanas depois a chance de voltar ao Canecão, já então como contratado, para substituir, por 2 noites, Maria Bethânia - que ali fazia temporada, quando ela teve que se afastar. Novos elogios. E Elymar deixou de ser um nome anônimo entre tantos artistas que Brasil afora cantam na noite, em carreiras solitárias e opacas. Pela Arca Som, saiu há pouco um disco-mix com duas músicas do próprio Elymar, mostrando seu lado de compositor: a filosófica "Cachaça" - com toques melodramáticos - e a romântica "Assim Somos Nós". Muitos apostam e torcem para que este rapaz corajoso e há anos buscando sua vez a consiga agora. Nós também o vemos com simpatia. xxx Durante muitos anos a CBS produzia paralelamente a cada novo lp de Roberto Carlos, um álbum orquestral, com músicos de estúdio, apresentando versões instrumentais das canções do Rei. A fórmula funcionava em termos comerciais e não sabemos por que foi abandonada. Afinal, dentro do estilo consumista, aparentemente erótico-provocativo, nada melhor do que os estandartes de RC para embalar os momentos de paixão. Produtor de muita visão, Ramalho Neto convocou o competente Eduardo Lages para produzir arranjos extremamente coloridos em torno de 16 dos maiores sucessos de Roberto Carlos ("Proposta", "Amada Amante", "Seu Corpo", "Café da Manhã", "Outra Vez", etc.) para o lp "Os Sucessos Inesquecíveis de Roberto Carlos", edição da Arca. Embora sem identificação dos músicos que participaram das gravações - exceto o afinado Evaldo Gomes (trumpete e flugelhorn), eis um disco que oferece algo raro (e que faz falta em nossa discografia): versões instrumentais de música de sucesso. Um lp comercial, é verdade, mas realizado com extrema dignidade. xxx Durante as várias eliminatórias do Festival dos Festivais, uma concorrente mereceu uma justa torcida: a cantora Leila Pinheiro, intérprete da belíssima "Verde" (Eduardo Gudin - Costa Netto). Com uma magnífica harmonia e, especialmente, a criativa letra na qual José Costa Neto, ex-presidente do Conselho Nacional de Direitos Autorais mostrava toda sua sensibilidade ("Eu que sempre apostei/ Na minha paixão/ Guardei um país/ No meu coração/ Um foco de luz/ Seduz a razão/ De repente a visão da esperança!"), "Verde" foi um grande momento daquele Festival - que acabou vencido por outra bela música "Escrito nas Estrelas" que finalmente catipultuou a carreira de Tetê Espíndola. Assim como o lançamento do lp de Tetê ("Gaiola", março/86) teve que aguardar a carreira do mix, com a música vencedora do Festival, a Polygram antecipou ao lp de Leila Pinheiro - uma intérprete da maior força - com um mix, no qual além de "Verde", ela interpreta "Podres Poderes", mais interessante música que Caetano Veloso produziu no ano passado. xxx Fazia tempo que não aparecia um bom lp de choros - excluindo-se as reedições. Por isto, louve-se a RGE que acaba de editar o quinto lp do grupo Os Coroas, formado por Valter (bandolim), Milton (cavaquinho), Adauto e Antenor (violões), Airton (timba) e Hernani (pandeiro). Produzido por Reinaldo Brito, o lp tem o balanço certo e um repertório dos mais agradáveis - seja com choros clássicos ("Ameno Reseda", de Nazareth; "Proezas de Solon", Pixinguinha/Lacerda), sejam outros menos conhecidos - "Mexidinho" (Jairo Pereira/ Ivan Nepomuceno) e "Serpentina" (Nelson Alves). xxx Outro registro, rapidinho, mas indispensável: ótimo o novo lp do grupo Passport ("Running In Real Time"). Formado há 15 anos pelo saxofonista - flautista - tecladista Klaus Doldinger, este grupo (que já se apresentou em Curitiba, há alguns anos) tem resistido a mudanças de integrantes e sabendo sempre fazer uma música up to date. A partir de 1982, o Passport incluiu vocais - inicialmente com o tecladista Hermann Weindorf. Agora, neste seu novo lp, edição da WEA, é a americana Vitoria Miles que está em três faixas - "Help Me", "Mr. Mystery" e "Running In Real Time", todas de Dodlinger - mas em parceria com a própria Victoria. xxx Primeiro dos festivais nativistas do Rio Grande do Sul - a Califórnia em Uruguaiana, atingiu a 15ª edição consagrada como o grande evento artístico do sul do Brasil. Poucas semanas após sua realização - como sempre na primeira quinzena de dezembro - saiu o lp com as 12 finalistas, em produção de Airto dos Santos, para a Elenco/RBS - mesma etiqueta que também deverá lançar, nas próximas semanas, um álbum com as 12 melhores músicas das 14 Califórnias (1970-1984), indicadas por um júri nacional, do qual tivemos a honra de participar. A XV Califórnia teve seu resultado contestado de forma violenta. O público não aceitou a premiação máxima (Calhandra de Ouro) a Jerônimo Jardim, com "Astro Haragano" (também premiada na linha de Projeção Folclórica) e às vaias somaram-se latas de cerveja e até pedras atiradas no palco da Cidade da Lona. Aliás, Jerônimo, gaúcho dos bons, 3 lps gravados, há 5 anos, com "Purpurina" (defendida por Lucinha Lins, no Maracanãzinho) já havia sentido uma vaia do público. Nem sempre júri e público concordam e na Califórnia do ano passado a reação foi violenta. xxx A responsabilidade era grande! Após ter realizado o melhor lp de 1985 - "Paradise Café: 2:00 A.M.", com um clima jazzístico, participações de músicos como Gerry Mulligan e cantores como Sarah Vaughan e Mel Thormé, se esperava novo e excelente disco de Barry Manilow. Infelizmente este simpático cantor-compositor preferiu retomar a linha baladista e meio roqueira que marcava seus discos anteriores e assim seu novo lp (RCA) não ganha o mesmo destaque do "Paradise Café". As músicas são bonitas, Manilow é competente, buscou bons arranjadores e a produção teve até o apoio de George Duke, mas não há aquele clima mágico de envolvimento e beleza que marca "Paradise Café", sem favor, um dos melhores álbuns produzidos nos últimos 10 anos. Ao invés de um dueto com Sarah Vaughan temos um gritado duo com Muffy Hendrix em "Ain't Nothing Like The Real Thing" e a faixa mais especial é "Sweet Heaven" do filme "Copacabana" - do qual não se sabe maiores detalhes.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
5
06/04/1986

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br