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Aramis

Em dez discos, a saudade do melhor da Bossa Nova

Os trinta anos da Bossa Nova - que poderia ter suas comemorações até retroagidas para 1988, considerando-se que a gravação-marco do movimento que modificou a MPB foi mesmo "Canção do amor demais", produzido por Irineu Garcia, para a Festa, reunindo Elizeth Cardoso às primeiras parcerias de Vinícius e Antonio Carlos Jobim - e tendo ao violão o baiano João Gilberto com sua batida diferente - proporcionaram que dezenas de gravações - e algumas publicações - se voltassem a esta efeméride. Desde o ambicioso projeto-brinde patrocinado pela Líder Táxi Aéreo, distribuído no final do ano passado, com excelentes textos de gente que conhece realmente o assunto, até reedições comerciais, feitas sem maiores critérios (e nenhuma informação para o público mais jovem, que só agora tem acesso aos grandes momentos deste movimento) aconteceram nos últimos meses. E muito mais poderia ser feito, pois material não falta. Zuza Homem de Mello, 54 anos, que acompanhou toda a série O Fino da Bossa, na TV Record (em seus anos de glória), tem mais de 15 horas de gravações inéditas, com os mais importantes nomes da MPB nos anos 60 e que desde já há anos [ ] transformar numa bem cuidada série de discos, com remixagem das fitas, encartes com textos esclarecedores, dentro da seriedade que caracteriza suas produções, como jornalista, radialista, ex-presidente da Associação de Pesquisadores da MPB, autor de um livro básico para a compreensão da Bossa Nova e incansável animador cultural. Entretanto, devido a estupidez de executivos encastelados em algumas gravadoras, seu projeto continua à espera de dias melhores. Os tesouros da RGE - Felizmente, alguns projetos foram desenvolvidos para marcar as três décadas da Bossa Nova. A RGE, etiqueta paulista que fundada ainda nos anos 50, soube valorizar grupos instrumentais e vocais, cantores e compositores (como Chico Buarque e Toquinho, que ali fizeram seus primeiros discos) lançou, já há alguns meses, a coleção "10 anos de Bossa Nova". Embora faltando encartes que situem cada gravação em sua época e os registros escolhidos sejam de uma fase da Bossa Nova posterior ao seu deslanchamento - ocorrida mesmo no Rio de Janeiro, no virar da década de 50 e especialmente entre 1960/63 - esta coleção - lançada simultaneamente em laser, compact-disc e minicassete - não deixa de ter seu grande valor documental. Afinal, possibilita que toda uma geração surgida nos anos 70/80 possa, agora, conhecer toda a força e beleza dos autores-intérpretes-músicos que em programas de televisão, shows em teatro e mesmo gravações em estúdios ajudaram a firmar um movimento da maior importância - e que conquistaria o mundo. Muitos dos artistas que aparecem nestes dez álbuns continuam em atividades, outros foram esquecidos precocemente - por decisões pessoais ou, especialmente, devido a crueldade do show-biz, que condena a um precoce esquecimento tantos talentos maravilhosos - mas que não se dispõem as concessões do mercado. Apesar dos discos trazerem textos de contracapas das edições originais (conservadas também as mesmas capas), lamentável que não tivesse havido ao menos a preocupação de acrescentar-se um encarte localizando as datas de gravações e falando sobre os artistas que participaram dos movimentos. Isto, entretanto, repetimos não invalida esta coleção - uma das melhores reedições do ano e que mesmo já colocada há vários meses nas lojas (sendo possível encontrá-la inclusive em prateleiras e ofertas) merece o registro que a ela dedicamos.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
25
10/12/1989

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