Login do usuário

Aramis

Em Maringá, o melhor foi o som que veio das cavernas

Maringá Assim como acontece na consagrada Feira Musical de Avaré (SP), o Femucic introduziu, já há quatro anos, premiações específicas para a competição exclusivamente instrumental. Este ano, o mais original trabalho foi uma pesquisa desenvolvida por dois jovens da cidade de Crato, Ceará - Alemberg Quindins e sua mignon esposa, Rosiane Limaverde, ambos de 26 anos, com toda justiça premiada como melhor música instrumental e melhor arranjo (o que lhes garantiu Cr$ 700 mil) por "Junto das Pedras", com o subtítulo de "A Lenda do Reino Subterrâneo". Utilizando instrumentos originais, por eles próprios desenvolvidos - como uma cabaça com cordas de viola ao corpo, tocada com um copo de vidro e uma espartala; uma cabaça fina com três lâminas de aço em três cavidades, tocadas com os dedos polegares; potes de barro queimado tocado a baquetas e até pedras de formação cretácea, Alemberg e Rosiane encantaram o público - e o júri - pela proposta apresentada. Rosiane, numa utilização em scat primitivo da voz como instrumento musical, fez empostações de textos do idioma Kariri. Resultado de três anos de pesquisas, em estudos feitos na região de cavernas em que habitam povos pré-colombianos, "Junto das Pedras" propõe uma livre identificação entre arqueologia e imaginário, tentando aproximações dos chamados povos "pré-brasílidios", os Tapuaias Barbaros - que teriam vivido em cavernas e formações geológicas nas diferentes regiões do continente - como as Sete Cidades do Piauí: Ubirajara, no Ceará, São Tomé das Letras, em Minas Gerais, Machu Pichu, no Peru, ou Cariri, em Pernambuco. Dentro de um festival em que as três outras músicas em disputa da premiação instrumental - "Fusão América", "Pant Flor" e "Pedra Bical" (as duas últimas de autores maringaenses), não se destacaram, a vitória de "Junto das Pedras" foi o reconhecimento a uma válida proposta de pesquisa sonora, desenvolvida por dois jovens que, vindo da árida Crato passaram quatro dias viajando de ônibus para, numa das cidades mais arborizadas do mundo, mostrarem um trabalho que merece ser ouvido nacionalmente - e que ocupará a faixa principal do elepê com as finalistas do Femucic, gravada ao vivo e que em 60 dias, José Monteiro, do Multim - estúdio maringaense, promete colocar nas lojas.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
02/10/1991

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br