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Eron Vianna, a luta pelo espaço para nossa música

Mais do que um compositor-intérprete, Eron Vianna, paranaense de Palmas, 53 anos completados no dia 25 de outubro (*) é um brigador pela música brasileira. Deslocando-se mensalmente entre sua chácara no interior de Paula Frontim - onde criando porcos consegue recursos para a sobrevivência que a vida musical não lhe deu - para Curitiba, São Paulo, Brasília e Recife, Eron é hoje uma das pessoas que mais luta pelos direitos autorais. Procurador do Sindicato Nacional dos Compositores Musicais, ex-diretor do ECAD em Pernambuco, e, sobretudo, entendendo que só com um constante trabalho pode-se tentar abrir maior espaço a nossa música, Eron não pára. Assessorando o deputado Maurício Ferreira Lima (PMDB - Pernambuco), foi um dos responsáveis por dois corajosos projetos apresentados por aquele parlamentar que estão em tramitação na Câmara Federal. O primeiro tenta oficializar uma reivindicação antiga, objeto de outras leis mas que até hoje nunca prosperaram efetivamente: a reserva de um percentual de 30% para a música brasileira nas programações de rádio e televisão, preferencialmente com a produção regional, "como única forma de dar divulgação aos compositores e intérpretes fora do Eixo Rio-São Paulo que continuam inéditos em termos de audiência mais ampla", explica. O segundo projeto é mais audacioso: a volta de programas de auditórios, musicais, em emissoras acima de certo potencial, fortalecimento da programação ao vivo, "para que o Brasil não perca a sua característica cultural, ficando dominado apenas por redes de emissoras que colonizam culturalmente a população". Antes do deputado Maurício Ferreira Lima apresentar estes projetos, muitos outros parlamentares já levantaram bandeiras semelhantes. Prova disto é que mais de 20 projetos de lei assemelhados existem hoje no Congresso, necessitando de um trabalho de coordenação "para somar forças e permitir que se consiga alguns resultados práticos", diz Eron Vianna, que conseguiu motivar a seccional de Pernambuco da Ordem dos Advogados do Brasil a apoiar, em termos jurídicos, um seminário nacional no qual a questão dos direitos autorais possa ser amplamente discutida e viabilizada uma estratégia única em defesa da criação nacional. Em Curitiba, Eron vem fazendo contatos com os deputados federais, procurando mostrar os aspectos diversos da questão para existir um apoio legislativo quanto os projetos de lei a respeito entrarem em regime de votação. Em sua pasta 007, repleta de documentos, Eron reúne farto material para provar que a luta não é de hoje, "e infelizmente, não se resolverá em pouco tempo, embora haja empenho de lideranças, de entidades de classe e, especialmente, dos artistas mais conscientes da necessidade de defenderem seus direitos de trabalho", explica. Paralelamente ao seu trabalho na área dos direitos autorais - tema de um corajoso livro-denúncia a espera de editor (e que bem poderia ser publicado pela nossa Secretaria da Cultura, que generosamente vai beneficiar 30 autores nas próximas semanas, muitos com "obras" de discutível valor), Eron também tem sua carreira artística. No final do ano passado gravou seu segundo elepê ("Flor Humana", Itaipu), com composições próprias. Uma delas é a segunda homenagem que presta a nossa Capital, "Saudades de Curitiba, Sai da Frente" - com letra comunicativa e bom ritmo. Agora, entusiasmado com a proposta do prefeito Jaime Lerner em fazer a Capital Ecológica do Brasil, Eron desenvolveu em colaboração com o produtor Carlos Pinheiro um projeto interessante e que, pode dar uma repercussão nacional a cidade, em termos musicais. De uma família musical - seu irmão, Pedro Lima, 51 anos, é também compositor-cantor, dois elepês gravados e que se apresenta em um circuito estadual, Eron Vianna tem nos últimos tempos reduzido seus shows devido aos compromissos assumidos na luta pelos direitos autorais, e, especialmente, valorização dos artistas regionais. Idealista, sincero e corajoso - por suas posições idealistas, já sofreu ameaças e boicotes em muitos veículos de comunicação - Eron prossegue o seu trabalho, "que mesmo incompreendido muitas vezes, é indispensável de se fazer", diz em sua disposição de ver, "um dia, logo, se possível, o artista brasileiro, especialmente o regional, ocupando o espaço que legitimamente lhe pertence". Nota (*) Na edição de terça-feira, 8, em que comentamos a produção fonográfica no Paraná em 1990, entre outros erros, houve o da data de nascimento de Hilton Barcelos, que gravou o elepê "Arquétipos": ele nasceu em 26 de outubro de 1952 em Porto Alegre. Eron é do mesmo signo e quase da mesma data: nasceu em 25 de outubro, só que 15 anos antes.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
10/01/1991

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