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Aramis

Especulação imobiliária e fim do Teatro 13 de Maio

O que está acontecendo, de fato, no Setor Histórico de Curitiba, mais especificamente em relação ao prédio onde funciona o Teatro 13 de Maio? Há semanas que se fala na demolição da antiga construção - considerada como unidade de interesse para preservação (o que é diferente de imóvel tombado pelo Patrimônio Histórico), para dar lugar a um estacionamento - que, no caso, seria a ampliação do próprio "Heller", com entrada/saída para a Praça da Ordem e Rua 13 de Maio. Oficialmente, o Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba não recebeu, até agora, nenhuma consulta para a implantação de um estacionamento naquela área - o que aliás, não seria permitido. Em compensação, três diferentes consultas foram encaminhadas ao Ippuc já há algum tempo, de parte de interessados em adquirir aquele imóvel, pertencente a uma multidão de herdeiros das famílias Heller e Hoffman. xxx A primeira consulta é da Futurama Imóveis, que ali pretende fazer uma reforma do prédio e utilizá-lo exclusivamente para escritórios e prestação de serviços, "com estacionamento próprio". A segunda consulta é do sr. Luís Fernando Gottschild, que pretende algo totalmente vetado pela lei que criou o Setor Histórico-Tradicional de Curitiba: a demolição do prédio e construção de um prédio de apartamentos com lojas térreas. A terceira consulta é da sra. Regina Maria Oliveira Martins, que pretende a construção de um prédio residencial, de seis pavimentos. xxx Às três consultas, o Ippuc deu o mesmo parecer: só serão permitidas reformas internas sem modificar as paredes da frente da Rua 13 de Maio. O Instituto não tem poderes de impedir, obviamente, a venda do imóvel e sua transformação em outra atividade que não a cultural, como acontece atualmente, mas, em compensação, a demolição do mesmo está, até que seja revogada a legislação atual, vetada. Extra-oficialmente, consta que um grupo libanês, ligado à família Radd, teria adquirido não só aquele prédio, mas outras propriedades vizinhas - inclusive a própria casa da família Hoffman, numa transação de muitos milhões de cruzados. Ninguém confirma, entretanto esta venda e, em termos imobiliários, discute-se se seria um bom negócio imobilizar altas somas em uma área na qual as construções novas são interditadas. xxx O simples anúncio do fechamento do Teatro 13 de Maio - o antigo Teatro da Classe, construído graças ao entusiasmo, idealismo e, especialmente, trabalho de José Maria Santos, quando presidente da Associação dos Produtores Teatrais do Paraná, já provocou alguma movimentação no meio artístico. Mas uma movimentação ainda tímida, mais na base de esforços individuais, sem uma coordenação eficaz, capaz de pressionar as autoridades, a Prefeitura, a Câmara e o próprio governo para evitar que a cidade venha perder um espaço cultural. Entretanto, para que um lobby em favor do Teatro 13 de Maio se fortaleça, é necessário justificar a sua existência. Infelizmente, se forem examinadas as estatísticas daquele auditório se notará que, com raras excessões, os espetáculos ali apresentados tiveram freqüência mínima de espectadores. Repetidas vezes aqui denunciados a falta de melhor promoção dos eventos ali realizados e mesmo descaso administrativo da diretoria que substituiu a José Maria Santos. Atualmente arrendado a um grupo de profissionais, o 13 de Maio vem funcionando todas as noites, com shows de música caipira, rock, happenings comandados pelo poeta Paulo Leminski, peças infantis e, de quinta-feira a fomingo, às 21 horas, a remontagem de "A Dama de Copas e o Rei de Cubas", de Timochenko Wehbi, direção original de Antonio Carlos Kraide, com supervisão de Marcelo Marchioro. xxx No prédio há uma galeria de arte e um bar-restaurante, com música ao vivo e uma freqüência muito animada, especialmente nos fins-de-semana. É obrigação de todos que se preocupam com a vida artístico-cultural da cidade dar uma força ao movimento em favor da preservação do Teatro 13 de Maio. Mas é importante que os principais interessados se organizem, mostrem a utilização deste espaço que, adaptado graças ao idealismo de Zé Maria Santos, foi quase destruído devido à incompetência de alguns pseudo-profissionais que se apossaram, há algum tempo da Associação dos Produtores Teatrais. xxx Algo estranho aconteceu no corredor-hall de acesso daquele teatro. Ali existia uma placa em bronze, com o nome de todas as autroridades que colaboraram para a restauração do imóvel e sua transformação em teatro. Misteriosamente, esta placa foi retirada. Por quem? Por quê? Inveja, despeito, desinteresse em se manter perpetuado a imagem feita quando da inauguração do Teatro da Classe, há 4 anos? Eis uma questão que merece resposta.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
13
29/08/1986

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