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Espírito Santo, um novo pólo cinematográfico

Vitória - Sem tradição anterior na produção cinematográfica, o Espírito Santo passou, nos últimos meses, a ser visto como esperança para alguns realizadores, sempre em busca de recursos para seus projetos. O primeiro a encontrar o mapa foi o mineiro Paulo Thiago ("Jorge, um Brasileiro"), que aqui rodou a comédia "Vagas para Moças de Fino Trato", da peça de Alcione Araújo - uma das poucas produções em andamento no Brasil neste momento. Assim, outros cineastas também estão esperançosos de aqui conseguirem condições para desenvolverem projetos que estão há anos no "freezer", Tizuka Yamasaki ("Gaijin", "Parahyba, Mulher Macho"), considerada um "trator" por sua capacidade de trabalho - não se deixou abater pela crise e tem trabalhado na televisão ("Cananga do Japão"; iria também dirigir a série "Amazônia", para a Manchete), fazendo clips e até comerciais de motéis (Oklahoma), além de ter encenado uma ópera em Belo Horizonte ("Madame Butterfly"), é o nome mais conhecido presente a este festival. Veio para presidir o júri, mas está também orientando o curso de direção que, há menos de um mês, levou a Curitiba, em promoção de Luciana Ribas. Maria Senna, sua parceira nesta área didática, a acompanha, dirigindo a parte de interpretação em aulas que iniciadas na quarta-feira, estão com mais de 50 atentos alunos - "uma parte prática e importante, paralela ao festival", explica Cristina Valadão, coordenadora executiva. Tendo abandonado temporariamente o seu maior sonho - uma superprodução sobre a vida de Santos Dumont - que chegou a ter o roteiro escrito por Márcio (que virou um bom livro), Tizuka tem ao menos dois outros projetos importantes: "Gaijin II", e uma minissérie para a Rede Manchete, "Urgentemente me Abrace". O primeiro seria um filme sobre a situação dos Gaijins de hoje, ou seja, os trabalhadores que voltam ao Japão em busca de melhores condições de vida - dando uma atualização, 12 anos depois, do tema que desenvolveu (a colonização japonesa no Brasil) em seu primeiro longa: "Gaijin, os Caminhos da Liberdade". Para este projeto, Tizuka tem o apoio do franco-brasileiro Jean Gabriel Albicoco, da Distribuidora Belas Artes, que está tentando viabilizar a co-produção internacional, que terá inclusive participação japonesa. A atriz de "Gaijin", Kyoko Tsukanoto, também está entusiasmada pela idéia. O outro projeto, a minissérie "Urgentemente me Abrace", abordará um tema extremamente atual: o extermínio e adoção de menores. - "Quero realizar este projeto aqui no Espírito Santo" - explica, lembrando que o prefeito petista Victor Buaiz e a deputada Rita Camata (PMDB), coordenadora da CPI do Menor no Congresso Nacional, já apoiaram a proposta. Há dois meses já está implantada a Lei Rubem Braga, municipal, de incentivos fiscais - o que pode possibilitar recursos para a produção - e o Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo, também mostra simpatia pela possibilidade de ser formado um pólo de cinema e vídeo capixaba. Antônio Carlos Fontoura ("Copacabana me Engana", "Espelho da Carne", "A Rainha Diaba"), é outro cineasta de olho gordo na boa vontade das autoridades do Espírito Santo em relação a recursos para o seu planejado "Hospital Brasil". A exemplo de outros cineastas que também vivem procurando fontes oficiais de financiamento para seus projetos, Fontoura se ofereceu à coordenação do Festival para aqui comparecer, embora sua ligação com a área de vídeo - ao contrário do que acontece com Tizuka - não seja maior. Entretanto, na briga de foice pela sobrevivência do cinema nacional, todos os caminhos são possíveis - e assim, esquecido culturalmente por tantos anos, o Espírito Santo, agora começa a despertar maior interesse dos cineastas. Um dos poucos cineastas capixabas atuantes, Orlando Bonfim, neto - documentarista, premiado no Festival de Brasília de 1979 com "Itaunas, Desastre Folclórico", tem um projeto dos mais importantes - e que, pela lógica, deverá ter prioridade na cobertura financeira oficial: um documentário sobre Augusto Ruschi, o grande naturalista nos estudos de colibris, com uma obra que obteve reconhecimento internacional.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
24/11/1991

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