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Aramis

Esposas sofredoras em duas grandes estréias da semana

Por coincidência as duas principais estréias desta semana trazem dramas conjugais em conflitos dramáticos: tanto "O Reverso da Fortuna" (Itália) como "Dormindo com o Inimigo" (Bristol), colocam esposas vítimas de maridos-vilões, dispostos a tudo para se livrarem das caras-metades com as quais estabelecem relações de amor-ódio-interesse. Baseado em fatos reais - há 11 anos a milionária Martha Von Bulow se encontra em estado de coma, vítima de drogas, sexo e remédios, e da tentativa de homicídio de seu marido, o aristocrata dinamarquês Claus Cecil Borberg Von Bulow - "Reverse of Fortune", conta, de uma forma original, a trágica história de ricos sofredores - um tema que sempre fascina as massas e que parece até uma telenovela dos tempos de Félix Canet. Martha (Sanny) Von Bulow (interpretada por Glenn Close), herdeira da imensa fortuna do pai, fundador da Columbia Gas and Electric, depois de ter sido esposa do príncipe Alfred Von Auesberg, herdeiro (sem fortuna) dos Harsbhour, casou com outro aristocrata europeu, descendente de Cosima (que foi mulher de Richard Wagner) e que trabalhou com o multimilionário Paul Getty. Em 1º de fevereiro de 1982, foi condenado por tentativa de homicídio contra sua mulher, uma ex-dondoca na sociedade nova-iorquina (acusação principal: Claus deixou de lhe aplicar injeção de insulina, deixando-a em coma irreversível). Foi condenado a 30 anos. Von Bulow recorreu através de um famoso advogado, Alan Dershwotizi (Ron Silver, visto em "Inimigos, uma História de Amor"), professor de Harvard, defensor dos direitos civis que, no início não queria aceitar a causa mas acabou mudando de idéia. Com o auxílio de alunos e ex-alunos, Dershwotizi fez em 40 dias um dossiê em que rebateu os principais argumentos da promotoria e, em 10 de junho de 1985, Von Bulow foi considerado inocente (hoje, se dedica a obras de caridade, em Londres). O processo, pela importância dos nomes envolvidos, agitou Nova Iorque na primeira metade dos anos 80 (no Brasil, não teve maior repercussão) e o advogado Alan Dershwotizi escreveu um livro a respeito. Barbet Schroeder, 50 anos, nascido no Teerã, mas de formação francesa, conhecido mais como documentarista ("General Idi Amin Dada", 74) e diretor do asfixiante "Barfly" baseado em Charles Bukowski, interessou-se pelo tema e, em colaboração com Nicholas Kazan (filho de Elia, um dos mais notáveis cineastas dos anos 50), desenvolveu um roteiro inteligente que colocando o filme narrado a partir da própria vítima, tem um tríplice enfoque. Valorizado por uma fotografia elogiadíssima de Luciano Tovoli, "O Reverso da Fortuna" ganhou três indicações ao Oscar - roteiro adaptado, direção e ator - nesta categoria, com o inglês Jeromy Irons ("A Amante do Tenente Francês", "Gêmeos - Mórbida Semelhança") levando o troféu. Um filme inteligente, profundo, atual e com um estilo quase de reportagem - de visão indispensável a partir de hoje. xxx Se Sonny é hoje uma morta-viva, num caso clinicamente trágico, em "Dormindo com o Inimigo", a bela e desejável Sara (Julia Roberts), sofre o pão que o diabo amassou nas mãos de seu neurótico marido Martin (Patrick Bergin). Para escapar de suas surras busca um esquema digno do melhor thrilling hitchcokiano e tenta ter uma nova vida com novo nome, e em outra (distante) cidade. Só que o marido a segue e assim o filme tem um suspense intenso, numa narrativa que embora convencional - e partindo mesmo de um argumento (roteiro de Ronald Bass, baseado em livro de Nancy Price) que parece "deja vú", oferece atrações ao grande público. Julia Roberts, um dos mais belos rostos revelados no últimos quatro anos, esforça-se para fazer render a dramática personagem que lhe foi confiada. O diretor Joseph Ruben (desconhecido ainda no Brasil, mas já com alguns filmes elogiados pela crítica americana: "True Believer", "The Stepfather" e "Dreamscope"), tem um bom ritmo. O melhor, depois do visual de Julia, é a trilha sonora de Jerry Goldsmith. Sempre um mestre! xxx Nesta semana, inesperadamente, o Cine Groff inicia uma mostra de clássicos do cinema italiano, começando com um cult movie de Vittorio de Sica (1902-1974), que permanece como um dos maiores momentos do neo-realismo: "Milagre em Milão" (Milagro a Milano, 1950), previsto para hoje, em sessões às 15 e 20 horas. Amanhã, "O Dilema de uma Vida" (Il Deserto Rosso), primeiro longa-metragem em cores que Michelangelo Antonioni realizou em 1963 (e já à disposição em vídeo, pela Sagres). Domingo, "De Punhos Cerrados", extraordinário (mas pesado e difícil) filme com o qual Marco Berlocchio sacudiu o cinema italiano nos anos 60 - praticamente inédito em Curitiba. Na segunda-feira, "Amarcord", de Fellini - para rever e chorar. Depois, acontece uma semana de pré-estréias de filmes franceses, incluindo um musical de Jacques Demy ("Três Lugares para o 26", com Yvens Montand) e o penúltimo filme de Alain Resnais ("Melô"), o mesmo diretor do excelente "Quero Voltar para Casa", que continua em exibição no Luz. LEGENDA FOTO - Julia Roberts e Patrick Bergin em "Dormindo com o Inimigo", estréia no Bristol.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Cinema
17
19/04/1991

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