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Aramis

Essa gente maravilosa do bom som da Atlantic

Anualmente a WEA faz lançamentos deliciosos para um público classe "A". Ao lado da produção-marketing, com muito rock supérfluo, a multinacional também brinda com coleções básicas, em diferentes campos. Neste primeiro semestre, já trouxe três ótimas séries: a continuação dos álbuns históricos de blues, uma coleção com grandes vozes popularizadas pelo cinema dá seqüência a Atlantic Jazzlore com mais quatro volumes, somando ao pacote jazzístico álbuns com Count Basie, Duke Ellington e Coleman Hawkins, o trio de Ahmad Jamal, e um duplo da fase jazzística de Nat King Cole. Jazzlore - Os quatro novos títulos da "Atlantic Jazzlore" não poderiam ser mais expressivos, confirmando assim os tesouros que estão no acervo desta etiqueta fundada há 40 anos e cujos direitos pertencem hoje a Warner. Os quatro primeiros volumes da série já haviam saído no início do ano, com Keith Jarret Trio ("Somewhere Before"), Charles Mingus (o clássico "Pithecanthropus Elerectus"), Ornette Coleman ("Twins") e o antológico encontro do flautista Herbie Mann e o pianista Bill Evans ("Nirvana"). Agora temos mais quatro, alguns igualmente indispensáveis a quem se interessa pelo jazz moderno, através de expressões do primeiro time. Começa com o álbum do saxofonista Sonny Sttis, falecido em 1982, aos 58 anos, numa gravação realizada nos dias 16 e 17 de julho de 1962, quando encontrava-se na melhor fase de sua carreira. Conhecido bastante no Brasil - aqui esteve em festivais de jazz e chegou a dividir um álbum com o Zimbo Trio (selo Clam, ainda em catálogo), Sttis tinha um estilo romântico, personalíssimo, que pode se sentir no belo repertório selecionado para este álbum, no qual ao lado de suas próprias composições ("Sea Sea Rider", "Hey Pam", "Stittsie"). Há dois temas do ótimo Tadd Dameron - arranjador do álbum - "The Four Ninety" e "On a Mist Night" - e, até um arranjo jazzístico de "Souls Valley" do diluitivo Richard Carpenter, mas valorizado pelo ótimo grupo de instrumentistas que participa do álbum, entre os quais os trombonistas Duke Jordan, o baixista Joe Benjamin e o baterista Frank Brown. Ray Charles (Robinson), 58 anos a serem completados no dia 23 de setembro próximo, americano de Albany, cego aos 6, órfão aos 15 e que a partir de 1947 iniciou sua carreira de instrumentista, cantor e compositor com um trio, está entre os nomes mais conhecidos da música americana. Jazzista por formação, seu estilo romântico, o fez popular com hits como "Ruby", "I Can't Stop Loving You", "Born to Lose", "What I Way" e, especialmente, "Stella by Starlight". "The Genius After Hours", volume 6 de Atlantic Jazzlore, está entre os melhores momentos jazzísticos da carreira de Charles. Em três sessões, realizadas em 29 de abril; 20 e 26 de novembro de 1956, com diferentes músicos, Charles registrou temas notáveis, oito dos quais estão nesta seleção, reeditada agora pela WEA (anteriormente, por duas vezes, o disco já havia sido lançado no Brasil). Nas faixas "Hornful Soul", do próprio Charles e "Ain't Misbehavin" (Walfer / Razaf), os pistões de Joseph Bridgewater e John Hunter e o sax de Dave Newman e Emmot Dennis estão presentes com arranjos de Quincy Jones. Já na faixa que dá título e "Charlesville", ambas composições próprias, a formação exclui metais: apenas Roosevelt Sheffield no baixo e William Peeples na bateria. Em "The Man I Love" (Gershwin) e "Down Nay" (Charles), o baixo de Oscar Pettiford e a bateria de Joe Harris. São momentos marcantes, de uma das melhores fases do "genius" Charles. Em 12 de setembro de 1958, no estúdio da Atlantic, em Nova Iorque, houve um encontro histórico do vibrafonista Milt Jackson (Detroit, 01/01/1923) e saxofonista Coleman Hawkins (1904-1969), que resultou no álbum "Bean Bags" que agora, finalmente, chega ao público brasileiro. Amparados em quatro outros extraordinários instrumentistas - o pianista Tommy Flanagan (durante anos acompanhante especial de Ella Fitzgerald; guitarrista Kenny Burrell), então com apenas 17 anos; Eddie Jones no baixo, e Connie Kay na bateria, esta produção supervisionada pelo fundador da Atlantic, Nesuhi Ertegun, resultou também em momentos antológicos. Seis temas estão neste álbum, com dois de autoria de Jackson ("Indian Blues" e "Sandra's Blues"), um revival de "Get Happy" (Harold Harlen / Ted Koehler), o "Stuffy" de Hawkins e mais "Don't Take your Love from Me" (Henry Nemo) e "Close your Eyes" (Bernice Petkere). O som de Hawkins foi sempre considerado da mais alta personalidade, enquanto a suavidade de Jackson desagua no camerístico Modern Jazz Quartet - do qual faz parte também o suave baterista Connie Kay, presente nesta gravação. Assim, a fusão destes estilos faz com que "Bean Bags" seja, realmente, um álbum especial - por si só merecedor da maior atenção. Freddie (Frederick Dewayne) Hubbard (Indianópolis, 07/04/1938) é de uma família musical: a irmã era cantora de spirituals, o pai, pianista. Assim estudou música desde a infância e quando, por quatro meses, foi trabalhar com Sonny Rollins, já era um pistonista de sólida base. O que lhe valeu convites para gravar e atuar com nomes como J. J. Johnson, Quincy Jones e, a partir de 1961, integrar o Jazz Messengers de Art Blakey. Com uma das maiores fonografias de jazz, Freddie tem sabido percorrer diferentes caminhos e ampliado seus espaços. Em "Backlash", gravado em outubro de 1966, atuava com James Spauling no sax alto, Albert Dailey no piano, Bob Cunningham no baixo e Otis Ray Aplleton na bateria. Um repertório de temas próprios (quatro) ou pouco conhecidos aos ouvidos dos jazzófilos brasileiros não diminui a importância deste álbum também fundamental do pacote da WEA.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
25
27/05/1990

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