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Aramis

Eugénia Melo e Castro traz inéditas músicas lusitanas

Nos anos 70, o elétrico Marcos Pereira (1930-1980) ao lançar o primeiro disco no Brasil da cantora portuguesa Paula Ribas procurou mostrar uma intérprete jovem, rejuvenescendo um gênero dolente e que tradicionalmente tem em Amália Rodrigues sua maior identificação. Quase 20 anos depois - e enquanto Paula ribas, infelizmente, parece ter desaparecido e Amália, a grande dama de canção portuguesa, continua em primeiríssimo lugar, surgiu uma nova , afinadíssima e bonita cantora portuguesa, Eugénia Melo e Castro, capaz de fazer chegar todo o encanto da canção portuguesa a platéia mais jovens - infelizmente distanciada do ritmo e alma-brasileira. Uma bela mulher de 33 anos, de uma família de artistas - seus avós, na cidade de Serra da Estrela, onde nasceu, e faziam aos três anos já ter aulas de piano - o avô Ernesto, era maestro, compositor e violonista, considerado um "figura-chave na ressurreição da música lusitana do início do século", ao lado de Antonio Fragoso e Luis de Freitas Branco. O pai, Ernesto Manuel de Melo e Castro, também um artista, compositor e jornalista. Identificando-se com a música brasileira - tornando-se [amigo] de Caetano Veloso e Wagner Tiso (que seria o arranjador de seus seis discos), Eugênia aproximaria-se da música brasileira, gravando canções brasileiras a partir de seu primeiro lp ("Terra de Mel",82), seguindo a receita em "Águas de Todos Ano" (32, neste já com a participação especial de Ney Matogrosso e gravado no rio de janeiro). Em "Eugênio Mello e Castro III-1986", o produtor Guto Graça Mello acrescentaria seus próprios arranjos - mais os de Toninho Horta e Tulio Mourão - ao trabalho de Wagner Tiso. Em 1988, "Coração Imprevisto", teve outras ilustres participações especiais: Caetano [Veloso], Zeca Assumpção e os portugueses Carlos Zingaro e Pedro Caldeira Cabral. Agora, após uma reedição de músicas selecionadas de seus três primeiros lps ("Canções e Momentos", [álbum] duplo, também em CD), Eugénia gravou aquele que é possivelmente, o melhor disco de sua carreira. Neste "Amor é Cego e Vê" (Polygram, maio/91) Eugênia decidiu assumir sua lusitanidade, mas sem perder as ligações que fez com o Brasil: reforçou as participações especiais e foi buscar um repertório precioso, no qual revela canções belíssimas em pesquisa feitas no arquivo da Rádio Atena 1, de Lisboa - que cuida da preservação da memória musical portuguesa. Assim, ao lado de [uma] afetiva homenagem ao avô Ernesto de Melo e Castro, gravando "O que a Primavera Trouxe", de 1924, Eugênia inclui incluiu canções lançadas há muitos anos, como "Beira-Mar" (Tomas Alcaide, 1930); "Amor é cego e vê" (Tomas Alcaide/1937), no filme "Bocage"); "Quando a tua boca beijo" (Nina Barreira), "[Caminho] errado" (Luiz Piçara, 1950), "Contrastes" (1907), "Saudades" (1927). Especialmente significativo é a gravação de quatro canções que Corine Freire, a maior cantora lírica de Portugal no início do século, registrou entre 1907/26 - "Embalando o menino", "Contrastes", "O que a primavera trouxe" e "Lenda". Eugênia explica estas escolhas: "São pérolas que as pessoas da minha geração desconheciam e que têm um paralelo interessante com as coisas que aconteciam no Brasil na mesma época, como o modernismo, Noel Rosa, o erotismo, a fossa", explica Eugénia, para quem naquela época havia mais proximidade cultural Brasil e Portugal do que hoje , quando outras influências entraram no caminho". Participam, em belos [duetos], amigos como Milton Nascimento, Gal Costa, Chico Buarque, Caetano e Ney Matogrosso, valorizando ainda mais este belo e requintado álbum. Há, também, algumas faixas conhecidas - como "Olhos castanhos", que foi sucesso nos anos 60 na voz do [cantor português] (radicado no Brasil) Francisco José e "Foi Deus", um dos clássicos do repertório de Amália Rodrigues (["És] Tu", também foi gravado por Francisco José). A música mais recente é "Noite", uma composição moderna de Maximiano de Souza (1974), mas inédita em disco. Um belo disco, com uma cantora que agrada até quem não gosta da música portuguesa. Auditiva e [visualmente], pois basta saboreá-la na excitante capa criada por Valéria Costa Pinto. LEGENDA FOTO - Eugénia Melo e Castro Amor é Cego e Vê Canções Portuguesas.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
4
07/07/1991

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