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Aramis

Faça a coisa certa vendo o excelente filme de Lee

Bastaria a estréia de "Faça a Coisa Certa" (Condor, 5 sessões) para fazer desta uma das semanas mais importantes do ano, o polêmico, irreverente, crítico, atualíssimo e inteligente filme de Spike Lee, que desde maio do ano passado - quando teve sua apresentação mundial em Cannes - é daquelas obras que fazem renascer a confiança no cinema. Simples e despretensiosa, esta crônica de Spike Lee sobre um dia de muito (muito) calor num bairro negro de Nova York mostra o quanto pode (ainda) ser colocado na tela em termos de discussão de assuntos sociais - como o racismo, tema sempre delicado, mas de forma inteligente, sem maniqueísmos e, principalmente discutido por um cineasta negro, jovem, que é também excelente ator, acumulando o principal papel. "Do the Right Thing" não chegou a ser premiado em Cannes mas isto não impediu a excelente carreira que vem fazendo há um ano em várias partes do mundo. Se houver inteligência (e não preconceito) dos membros da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood merecerá ser lembrado entre nominados para o Oscar deste ano. Mas como a vetusta instituição de Los Angeles nem sempre é confiável, não de espere isto: "FAÇA A COISA CERTA" é bom por si mesmo. Um filme de visão indispensável - na tela ampla do CONDOR. AMOR, ETERNO AMOR Duas outras estréias da semana merecem, no mínimo, verificação por quem gosta de filmes românticos com algo mais. Tanto "O Último Solteiro" (Bristol, 5 sessões) como "Amor a Segunda Vista" (Cinema I, 4 sessões) são obras de novos cineastas e que abordaram the best of everything: a busca do amor, do companheiro(a), da outra parte para dividir os dias numerados de cada um. Só que tanto Will Mackenzie em "Worth Winning" como Joan Micklin Silver em "Crossing Delaney" trazem um olhar contemporâneo, de final de século, na apreciação das relações homem-mulher/mulher-homem. Sem deixarem de cantar o esplendor do amor, á claro que a sensibilidade de Mackenzie e Micklin Silver buscam, a sua maneira, mostrar o novo comportamento do amor e sexualidade de personagens contemporâneos. A coincidência na exibição dos dois filmes - que, a rigor, tem sua semelhanças por aí - faz com que se torne obrigatória a verificação do duplo programa, que, dificilmente, emplacará segunda semana. Vindo da televisão onde dirigiu seriados como "Family Ties" e "Moonligh Thing", Will Mackenzie conta em "O Último Solteiro" os dilemas amorosos de Taylor Worth (Mark Harmon, visto numa pequena ponta em "Comes a Horseman") comentarista meteorológico da televisão na Filadélfia, solteiro, dividido entre três envolvimentos: Eleanor (Lesley Ann Warren), uma senhora casada; Verônica (Madeleine Stowe, aquela bela morena que estreou em "Tocaia"), uma pianista excêntrica e Erin (Maria Holvoe, atriz sueca, ex-modelo profissional em Nova York, a fada em "Willow", que é uma belíssima funcionária do "Filadelfia Eagles". Taylor Worth se envolve com as três e o roteiro de Josann McGibeson e Sara Parriott, baseado num romance de Dan Lewandowski, procura discutir o assunto amor & fidelidade de forma bem humorada. Fotografado na Filadélfia (as filmagens iniciaram em maio de 1988), a Câmera de Adam Greenberg procura aproveitar boas locações (Manufacturer's Golf, Country Club, Society Hill) em contraste com os planos internos, dando neste aspecto um certo atrativo a este filme que não tem nomes famosos. "Amor à Segunda Vista" tem, em compensação, uma atriz-projeção na cabeça do elenco: Amy Irving, que apareceu em "Yantel", o filme de Barbra Streinsand e, depois, se tornaria Sra. Steven Spielberg, de quem se divorciou há mais de um ano com a maior pensão da história do show business, US$ 50 milhões para sustentar o filho que teve com o golden boy da série "Indiana Jones". Hoje, para orgulho verde-amarelo, Amy é mulher do carioca Bruno Barreto, que conheceu quando a dirigiu em seu longa-metragem, há pouco concluído e que está estreando agora nos Estados Unidos. Em "Crossing Delaney", Amy Irving é Isabelle Grossman, uma senhora beirando os 30 anos, que vive em Manhattan de forma independente, apesar de sua intensa ligação com a avó, Bubbie Kantor (Reizl Bozyk), preocupada em lhe arrumar um casamento estável. Gerente de uma livraria, "Izzy" - como Isabelle é chamada - divide seu tempo entre amigos, o mundo dos livros e o namoro com o escritor, enquanto sua avó procura aproximá-la de "um homem de futuro", San Possner (Peter Riegert), dono de seu próprio negócio. Susan Sandler, autora da peça original, apresentada off-Broadway, fez o roteiro deste filme, cuja história reflete muito de sua vida. Como disse Susan, "eu ficava sentadinha na janela da casa de minha avó, escutando suas histórias. Ela me acarinhava e contava vários casos, numa época em que tudo que eu conhecia era instabilidade e emoção. Em diversos pontos as aventuras de Izzy são minhas próprias aventuras". Dirigida por uma mulher - Joan Micklin Silver, uma atriz mignon e tendo um tema terno, tudo leva a crer que "Amor à Segunda Vista" seja daqueles filmes-empatia para conquistarem corações e mentes. Pelo menos é o que parece. A conferir, pois, nesta semana. TERROR E AÇÃO Para quem gosta de misturas de ficções científicas com terror explícito, "Criaturas II" (Critters 2 - the Main Curse) de Mike Garris (São João, 5 sessões) pode ser uma opção. Criaturas vindas do espaço, famintas, ameaçam a população de uma cidade americana - numa temática que poderia adquirir tons simbólicos se o produto não fosse tão comercial. No elenco, somente gente desconhecida: Scott Grimes, Liane Curtis, Don Opper etc. Jean Claude Van Damme, a nova sensação das bilheterias, que Alex Adamiu da Paris Filmes teve a felicidade de "encontrar" para aumentar a sua já grande fortuna - e cujos filmes anteriores ("O Dragão Branco", "Retroceder Nunca... Render-se Jamais" e "Cyborg") faturaram milhões no ano passado, ataca novamente: está em "Contato Mortal" (Black Eagle), de Eric Karson, que o Palace Itália exibe nesta semana - enquanto aguarda a liberação da cópia do excelente "Café Bagdá", de Percy Adlon (já disponível em vídeo) para apresentá-lo em Curitiba. Há 15 anos, chegado à pouco em São Paulo, Hector Babenco já provava em "O Rei da Noite" o seu talento. Crônica amarga da vida de um boêmio paulista. Tertuliano Jatobá da Silva (Paulo José) e seus envolvimentos amorosos - com Pupi (Marília Pera), as Marias das Graças (Vicki Millitello), do Socorro (Isadora de Faria) e das Dores (Cristina Pereira), este filme com uma belíssima fotografia de Lauro Escorel esteve entre os melhores de 1975. Hoje, cineasta internacionalmente reconhecido, Babenco continua a ter a sensibilidade com que já fazia de "O Rei da Noite" um filme inteligente, bonito e sobretudo com um elenco em que arrancou excelentes interpretações - do premiado Paulo José (no melhor papel de sua carreira) até atrizes como Ivete Bonfá e Dorotee Bouvier que, até então, só haviam sido exploradas fisicamente em produções semipornográficas da Boca do Lixo. Em reprise no cine Groff, este filme embalado por uma nostálgica trilha sonora de Paulo Herculano e que busca recriar a São Paulo dos anos 20/30 merece ser revisto na tela ampla. Dois candidatos a entrarem na lista dos melhores filmes do ano continuam em exibição: "Vozes Distantes" de Terence Davis (Luz) e "Sur-amor e Liberdade" de Fernando Solanas (Ritz). E também os filmes que conseguem atrair bom público - como "Condenação Brutal" (Lock Up) de John Flynn, com Sylvester Stallone e Donald Sutherland (Plaza) e o divertido "Querida: Encolhi as Crianças" também terão ao menos mais uma semana de exibição. No Itália, um filme erótico, "O Prazer", de Joe D'Amato, com Gabriele Tinti - que em épocas melhores foi um galã que encantou até Norma Benguel em sua vivência na Itália. LEGENDA FOTO 1 - Amy Irving e Reizl Beizl Bozyk em "Amor a Segunda Vista" no Cinema I. LEGENDA FOTO 2 - Mark Harmon e Madeleine Stowe: "O Último Solteiro", em exibição no Cinema I [Bristol].
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Cinema
8
09/02/1990

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