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Aramis

Filmagens familiares para "Flora's Story"

Quando terminou a apresentação de Airto e Flora, às 23h05min do último sábado, dona Zelinda Moreira, 76 anos, amparada em sua filha, Odene, e no genro, Arlindo Godoy, dirigiu-se até o camarim do auditório Bento Munhoz da Rocha Neto. Ali, abraçada ao filho e à nora, as lágrimas de emoção, que havia procurado conter durante todo o espetáculo, sentada na poltrona Q-32, da platéia central, afloraram no rosto. O cameraman Bo Boudart, da Djerassi Films Productions, 30 anos, americano da Califórnia, que acompanha a excursão de Airto e Flora, registrou em videotape, em todos os detalhes, o momento de emoção. A câmera, um moderníssimo aparelho que embora utilize fitas VHS oferece material para aproveitamento profissional, continuou a rodar, enquanto os artistas recebiam os abraços dos outros parentes - os sobrinhos Emerson, 30 (com sua esposa, Dayse), e Jefferson, 24, mais amigos e parentes, que ocuparam várias fileiras do Guaíra. O produtor Dale Djerassi, um americano alto e loiro, acompanhava de perto estas filmagens de grande emoção. Para ele, das 15 horas de material que está recolhendo no Brasil, as cenas do reencontro de Airto e Flora com seus familiares, em Curitiba, são fundamentais para pesquisa e referência que vem produzindo. O material que vem sendo registrado - nos shows, com Flora e sua mãe, dona Rachel, no Rio de Janeiro: agora a família de Airto, em Curitiba, e será utilizada para informação aos roteiristas e mesmo artistas que, dentro de alguns meses, estarão trabalhando em "Flora's Story" -, título provisório do há muito planejado filme sobre Flora Purim e Airto Moreira. xxx O projeto de levar para um longa-metragem a travessia artística de Flora e Airto, brasileiros, que chegando "sem lenço, nem documento" - e mesmo sem falar inglês - em Nova Iorque, há duas décadas, alcançariam uma posição artística reservada a raros profissionais, há muito que vem sendo negociado. A primeira idéia surgiu há alguns anos, quando da publicação do livro "Freedom Song". Dale Djerassi, 35 anos, descendente de búlgaros, austríacos e suíços - mas nascido em Detroit -, seu pai, Call, é um brilhante cientista da Stanford University, em Palo Alto, Califórnia (integrou a equipe que desenvolveu o projeto da pílula anticoncepcional), animou-se a produzir o filme sobre Flora e Airto em princípios de 80. Entretanto surgiu um projeto mais imediato - o longa-metragem "68", adiando o filme sobre os brasileiros. Dirigido por Steve Kovacs, um jovem cineasta - e ambientando vários personagens do explosivo ano de 1968 -, este primeiro longa de Djerassi estreou dia 17 de fevereiro em várias cidades americanas, com boas críticas. Agora, através da New World Productions está sendo negociado para o exterior. No Brasil, os primeiros contatos já foram estabelecidos com a Alvorada (ex-Gaumont), que está interessada em adquirir seus direitos para o nosso território. Realizador de uma dezena de documentários como produtor, ele próprio diretor do curta "The Horse Dealer's Daughter", Dale Djerassi já pretendia acompanhar Airto e Flora na excursão brasileira que fizeram em agosto de 1986. Entretanto, na época, o envolvimento na realização de "68" impediu a viagem. Agora, com uma equipe que inclui o câmera Bo Boudart e o assistente José Lorenzo, mais William dos Santos Júnior, contratado em São Paulo, está fazendo este trabalho que considera fundamental. "As imagens de Airto e Flora em seu país, com amigos e familiares, a reação do público nos espetáculos, ajudarão a Allan Young e Isabel Maxwell - que é minha esposa, a desenvolverem o roteiro, em seus novos tratamentos", explica. José Lorenzo, 35 anos, baiano de Salvador, desde 1976 vivendo em Los Angeles, é percussionista e animador cultural, tendo já desenvolvido vários trabalhos com Airto e foi um dos assistentes em "68". Como músico já gravou vários elepês com Kitaro - tecladista japonês, nome proeminente da New Age Music, incluindo seu último álbum ("Light of Spirits"). Assim, o projeto de trabalhar em "Flora's Story" o entusiasmou. Dale Djerassi faz questão de dizer que não há nada definitivo em termos de nomes. Realmente, o diretor Bob Rafaelson ("Cada um Vive Como Quer", "O Destino Bate à sua Porta", "A Viúva Negra") se interessou pela sinopse. Assim como Cher e Debra Winger já leram o roteiro, em seu primeiro tratamento, mas como atrizes notáveis - Cher especialmente, após o êxito de "Feitiço da Lua" -, a possibilidade de uma delas vir a interpretar Flora nas telas ainda depende de muitas negociações. Custo do filme? Dale diz que não há ainda orçamento estabelecido. - Vamos primeiro elaborar a pré-produção, ter o roteiro final, para então buscar os recursos. Será uma produção modesta, embora isto não signifique que não venha a ser um filme de condições a alcançar o publico internacional. Afinal, Airto e Flora são, há muito, artistas do mundo.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
14/04/1988

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