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Fortaleza agora tem o drama do financiamento

As cineastas Berenice Mendes e Lu Rufalco estão em tempo de contagem regressiva, na maior (e natural) tensão: há uma semana encaminharam a diretoria do Banestado o pedido de financiamento de Cz$ 30 milhões para complementar o orçamento de "O Drama da Fazenda Fortaleza". Um processo bem fundamentado e documentado, amparado pela aprovação da Embrafilme, que entre 240 propostas, selecionou o filme das realizadoras paranaenses entre os que merecerão financiamento de 50% da estatal - em contrato já assinado. O lógico seria que o governo do Estado, dentro de uma política de apoio à criatividade cinematográfica, bancasse, através de quotas distribuídas entre várias empresas (e usufruindo para tanto os benefícios da Lei Sarney) a solicitação da Dokumenta Filmes. Entretanto, o governador Álvaro Dias decidiu que todos os projetos de cinema no Paraná devem ser tratados com empréstimos do Banestado, dentro das normas do estabelecimento. Mesmo sabendo dos riscos de um mercado inflacionado a cada mês, a disposição e garra de Berenice e Lu é tão grande que decidiram ir à luta: vão bancar o financiamento do banco estatal, oferecendo como garantia o próprio filme a ser realizado. xxx Lu Rufalco produtora executiva, tem um argumento objetivo: - "Assim como o Banestado financia uma safra futura, confiando na qualidade da produção e disposição de trabalho do agricultor, nós também queremos um financiamento por um projeto com boas perspectivas. A semente é boa e a safra poderá ser maior do que o governo pensa". Realmente, nunca antes houve um projeto para um longa-metragem, no Paraná, com tão bons créditos como "O Drama da Fazenda Fortaleza". O romance escrito há quase 50 anos pelo professor David Carneiro é tão fascinante que, um resumo do mesmo, em inglês, chegou às mãos dos produtores Harol Necht e James Hill, quando estes eram associados ao ator Burt Lancaster, numa produtora que realizou grandes filmes no início dos anos 60, que fez os americanos se interessar pelo argumento. O projeto não chegou a caminhar mas só o fato de experientes tycoons de Hollywood terem sentido a força do argumento, mostra que a história tem condições de se transformar num grande filme. xxx O professor David Carneiro, 83 anos, há mais de um ano, cedeu oficialmente os direitos de seu romance para a Dokumenta Filmes realizar o projeto. Berenice Mendes, curitibana, 29 anos, a grande premiada no II Festival do Cinema Brasileiro de Fortaleza, em agosto/87, com o documentário "A Classe Roceira" (prêmios Benjamin Abrahão e Samburá), está fazendo cinema no Paraná há oito anos. Começou no super 8, passou para o 16mm e com seu primeiro curta em 35mm, o filme infantil "O Foguete Zé Carneiro", obteve o certificado de qualidade da Concine, que lhe garantiu exibição nacional. Em Londrina, há dois anos, realizou um belo documentário e, trabalhando em vídeo, acaba de concluir um documentário sobre o professor David Carneiro. Portanto, créditos não faltam a Berenice, advogada da turma de 1981 da Universidade Federal do Paraná, sólida formação cultural, ex-presidente da secção paranaense da Associação Brasileira de documentaristas e que, graças a um trabalho honesto e competente, adquiriu credibilidade nacional, participando de várias comissões e grupos que têm se empenhado na luta pelo cinema brasileiro. xxx Ao montar a pré-produção de "O Drama da Fazenda Fortaleza", Berenice teve mais uma prova da confiança e estima que desfruta hoje no cinema brasileiro. Começou pelo entusiasmo com que artistas de renome nacional aceitaram os convites para interpretar os papéis centrais: Othon Bastos, Marieta Severo, Sílvia Buarque, Maurício Mattar, Grande Otelo e Antônio Abujamra, entre outros. Dos paranaenses, já está certa a participação de Ivone Hoffman, Sansores França, João Mello, Poca Marques (ex-grupo Proteus, de Londrina), Dire Thomas, Jane Martins, Lúcio Togo (Gabiroba) e Christo Dikoff. Na equipe técnica, os nomes também do maior conceito: Pedro Farkas como diretor de fotografia (entre outros filmes que realizou, "Inocência", "A Marvada Carne" e "Ele, o Boto"); na cenografia, Felipe Crescenti, experiente pela sua participação em filmes como "Asa Branca - um Sonho Brasileiro", de Djalma Batista (prêmio de cenografia no Rio/Cine Festival); "O Beijo da Mulher Aranha", de Hector Babenco e os inéditos "Fogo e Paixão", de Isaí Winfeld e Márcio Kogan e, "O Corpo", de José Antônio Garcia. No teatro, Crescenti já foi premiado por suas cenografias em "Filhos do Silêncio", "De Braços Abertos", "Sopro de Vida" e "Lúcia McCartney". Como técnico de som, Romeu Quinto, premiado dentre outros pelos filmes "O Homem que Virou Suco", de João Batista de Andrade; "A Marvada Carne", de André Klotzel; "Noite do Sertão", de Carlos Alberto Prates e, "Patriamada", de Tizuca Yamazaki. Na direção de produção, Wagner de Carvalho, que já trabalhou com João Batista de Andrade ("O Homem que Virou Suco"), Denoy de Oliveira ("Baiano Fantasma"), Zelito Viana ("Abaeté"), Chico Botelho ("Janete" e "Cidade Oculta"), além de centenas de curtas e médias metragens. Na montagem, o curitibano Mauro Alice, nome maior como editor de montagem, coruja de Ouro por "Tristeza do Jeca", e "Anjo da Noite" de Walter Hugo Khouri; montador de "O Beijo da Mulher Aranha" e cujos trabalhos mais recentes foram "Besame Mucho" de Francisco Ramalho Jr., e "Fogo e Paixão. xxx Portanto, competência na equipe que Berenice está sabendo formar para realizar "O Drama da Fazenda Fortaleza" não falta. O roteiro é de Valêncio Xavier e a história não poderia ser mais paranaense - mas ao mesmo tempo com interesse universal. A Embrafilme aprovou o projeto e já assinou o contrato de financiamento. Agora, só falta a aprovação do financiamento do Banestado. Veja-se bem: financiamento para um projeto cultural, válido e possível de trazer prêmios e boas bilheterias. Será que vamos ter um exemplo de apoio e talentos da terra ou a autofagia fará com que um trabalho com todas as possibilidades de ser bem sucedido seja boicotado pelo governo do Paraná. xxx Aguardemos o próximo capítulo! LEGENDA FOTO - Berenice: o drama agora é conseguir financiamento final para iniciar o longa-metragem.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
12/06/1988

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