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Fred reconhecido no Mundo mas prejudicado no Paraná

O cineasta Frederico Füllgraf passou o fim-de-semana em Laranjeiras do Sul, registrando em imagens coloridas aspectos da 2ª Romaria da Terra - para incluir em seu novo longa-metragem, "Sede de Guerra", já em fase adiantada de produção. Hoje, possivelmente, de volta do Oeste, Füllgraf deverá reunir a imprensa - incluindo os correspondentes de órgãos nacionais - para aqui fazer nova denúncia, sobre o boicote que sofreu por parte da Secretaria da Cultura e do Esporte em relação a outro de seus projetos, o longa "Alemão Batata", que se propõe a contar a saga da imigração germânica no Sul. No Paraná, ao contrário de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, Frederico Füllgraf encontrou má vontade e obstáculos para o seu filme especialmente por parte da Secretaria da Cultura (sic). O que o fará denunciar nacionalmente mais esta prova de incompetência da infeliz pasta do governo peemedebista. xxx Nascido na Alemanha mas tendo passado sua infância e juventude em Curitiba, Frederico Füllgraf, 36 anos, é hoje nome respeitado internacionalmente como cineasta e jornalista. Mais uma prova deste prestígio foi ter sido escolhido para representar o Brasil, no evento que a Gensuikin - federação japonesa contra Armas Nucleares - promoverá nos dias 6 a 8 de agosto, em Hiroshima e Nagasaki - cidades destruídas pelos bombardeiros atômicos em 6 de agosto de 1945, com a morte de 40 mil pessoas e 25 mil feridos (no dia seguinte o Japão rendeu-se, encerrando-se a II Guerra Mundial). Ligado a movimentos ecológicos e pacifistas desde os tempos em que residiu na República Federal da Alemanha, Frederico Füllgraf vem se dedicando a realização de corajosos documentários. Após "Quarup - Adeus Sete Quedas", no qual utilizou como texto narrativo o poema de Carlos Drummond de Andrade, Füllgraf fez "Expropriado", mostrando os dramas dos agricultores expulsos da terra devido as obras de Itaipu. Neste filme, inclusive, um dos focalizados é o líder Miguel Isloar Savio, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de São Miguel do Iguaçu, vítima de atentado na semana passada. No ano passado, Frederico realizou "Dose Diária Aceitável", que tem sido um dos documentários mais cotados pela crítica, festivais e pelo público que encontrou. Premiado no festival de Cinema Ecológico de Royan, na França, no ano passado, o "DDA" circula atualmente pela EZEF - distribuidora evangélica sediada em Stuttgart. Frederico inclusive foi a Alemanha para o lançamento do filme, com uma tournée realizada entre 25 de abril a 9 de maio, passando por 12 cidades. Fez uma verdadeira maratona de projeções e palestras sobre questões que abordaram desde a linguagem do cinema documentário brasileiro até o tema de seu filme: os agrotóxicos. A propósito, diz Füllgraf: - "foi quase uma atividade militante pela causa do cinema e da ecologia, pois não ganho um tostão furado com a exibição dessas cópias, sobre os quais a EZEF detém os direitos na Alemanha. Fui pago apenas como palestrista". Mas a trajetória de "Dose Diária Aceitável" não se limita ao eixo financiado pela Alemanha. No ano passado, o filme participou da seleção oficial da Jornada Latino-Americana do Curta-Metragem da Bahia, ao mesmo tempo em que Frederico o levava a Nova Delhi, numa reunião da Urban Rural Mission, do Conselho Mundial de Igrejas - em viagem estendida também a Bonphal. xxx O Asian Regional Exchange for New Alternatives, de Hong Kong, começa agora a difundir o "DDA" em versão inglesa no Sudeste asiático. Explica Frederico que "mesmo tendo resistido, desde o início, às tentações de uma linguagem didática, o filme passa a cumprir esta função através da FITPASC - Federação Internacional dos Trabalhadores Agrícolas, com sede em Genebra, enriquecendo o trabalho de formação sindical dos afiliados daquela federação pelo mundo afora". No Brasil, a carreira de "Dose Diária Aceitável" também está sendo intensa. Abriu a mostra especial do cinema ecológico da Semana do Meio Ambiente no Rio de Janeiro e foi levado ao Rio Grande do Sul, em promoção da Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural. "DDA" foi um dos poucos documentários brasileiros que nos últimos anos tiveram acesso ao complicado circuito da TV brasileira. Assim, em outubro de 1985, foi exibido, em cadeia nacional, pela Abril Vídeo/TV Gazeta de São Paulo: inicialmente pelo programa "Olho Mágico", posteriormente, na íntegra, em cadeia com várias emissoras regionais, de Norte a Sul do País. E agora, mais uma vez, é a Alemanha que contempla os méritos do "DDA": foi escolhido pelo workshop de Arnolds-hain - do qual participaram realizadores das TVs alemãs e distribuidoras do cinema independente - como a melhor produção estrangeira para o trabalho cine-educativo naquele país. Abriram-se também as portas da BR-TV, emissora regional de Munique do sistema ARD. xxx Agora Frederico trabalha em "Sede de Guerra", co-produzido por igrejas e organizações religiosas alemãs e brasileiras. Basicamente, seu novo filme se desenvolve em dois blocos: um abordando a questão dos sem-terras, registrando os vários movimentos ocorridos no Brasil. O segundo bloco focalizará a violência nas grandes cidades. Autor de reportagens internacionais para rádio, TV e publicações européias, atento aos temas do momento, Frederico está integrado ao Partido Verde, em formação no Rio de Janeiro - e que apóia Fernando Gabeira ao governo. Seu projeto de realizar "Alemão Batata" não foi abandonado - e apesar de prejudicado pela infeliz Secretaria da Cultura e Esporte, no Paraná - vai desenvolver o roteiro e viabilizar a produção para 1987. Afinal, felizmente, não há mal que sempre dure e, algum dia, o Paraná voltará a ter uma pasta da cultura ocupada por gente competente e que não se dedica apenas a politicagem e ao ódio, como acontece atualmente.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
13
08/07/1986

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