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Aramis

Gaúchos

Historicamente independente e rebelde, o Rio Grande do Sul reflete também musicalmente uma posição quase única no universo brasileiro: altivo e orgulhoso de suas potencialidades a tradição da música gaúcha, com nítidas influências dos pampas dos países do prata, enquanto que de outro se dá ao luxo de absorver e consumir de uma forma própria as mais diferentes influências externas. Afinal, sambistas como Lupicinio Rodrigues (1914-1974) e Túlio de Paiva sem nunca saírem de Porto Alegre fizeram músicas como os melhores autores cariocas e é de Porto Alegre uma das mais conscientes vozes da MP3 - Elis Regina. A nova safra de autores e intérpretes: constante - e um dos últimos exemplos foi a excelente Bere, lançada pela Continental há poucas semanas. Tradicionalmente, os CTGs cultuam a música dos pampas e a frente de todos, o bom amigo Paixão Cortês faz um trabalho intenso, merecedor da maior atenção - refletido em dezenas de gravações. Por isso, é natural que um grupo local criasse uma gravadora própria, a ISAEC, que em poucos meses vem fazendo lançamentos em vários gêneros. Inicialmente, é claro, a música tradicionalista, de mercado assegurado não só no RS, mas também em Sta. Catarina e principalmente Oeste e Sudoeste do Paraná, onde foi imensa a colonização gaúcha. O primeiro suplemento da ISAEC traz um punhado de cantores, instrumentistas, entre nomes já consagrados, saídos de outras fábricas, e novatos que prometem. É o caso do índio Sepé, que em "postal do Rio Grande" mostra 12 novas composições, entre diferentes gêneros (chots, milongas, valsas, vanerões, etc.). Heber Artigas, o Gaúcho da Fronteira, em "Mensagem do Sul" , mostra bom balanço ao violão e voz poderosa, cantando suas milongas e abaneras como "Teu Regresso" e "Querência". O acordeão, instumento bastante integrado a música campeana, tem grande força nas mãos do jovem Rivo Buhler, estudante de Direito e que com "Rodeio da Natureza" venceu a 1ª Abertura Regional da Canção em Venâncio Alves, Rio Pinheiro e Albino Manique são outros acordeonistas - compositores apresentados agora ao consumo nacional. O trio Sinuelo do Pampa, formado pelos irmãos Paulo e Francisco Martins, mais Vakil Pereira, trazem canções dolentes e profundas em "Cantigas Galponeiras", enquanto a dupla Negro da Gaita (Sérgio Mércio) e Siá Maria (Miguelina Medina), também acordeonistas, são bastante folclóricos em seus registros. Os Guapos (Genésio Simão e Alberto Caetano) e o duo Miguelzinho e Camponesa, possuem um estilo bem comercial, de fácil assimilação pelas platéias que curtem o gênero, assim como Flávio Mattes, integrante do grupo Os Homens do Campo e Jorge Camargo. este um jovem estreante. A mesma ISAEC é quem revela um excelente flautista e chorão gaúcho, Plauto Cruz, que acompanhado por um ótimo grupo instrumental - Jossé Silva (violão), Mário Schmia (violão, cavaquinho), Lúcio Quadros (cavaqinho), Sady (baixo) e Cabeça (pandeiro) mostra que no Rio Grande do Sul também se faz (bom) choro. Pena que muitas faixas sejam de choros excessivamente conhecidos - "Lamento" e "Carinhoso" (Pixinguinha), "Pedacinho do Céu" e "Brasileirinho" (Waldir Azevedo), pois pelo que demonstra em "Gaivota", "Sentimental", "Schimier no Choro", "O Choro é Livre", "Homenagem aos Chorões" e "Um Choro Pro Jessé", Plauto Cruz não é só um ótimo flautista, mas um compositor de mão cheia, que poderia, tranqüilamente, ter feito todo o disco apenas com suas composições. Aliás, outra prova de que os gaúchos são bons de choro e "Nós, Os Chorões" (Continental, setembro/78), reunindo alguns dos músicos de "O Choro é Livre" - Plauto, Jessé, Lúcio, a outros chorões gaúchos (Telinho, violão; Roberto André, violoncelo; Peri Cunha, bandolim; Miro, baixo; Beto, bateria; Azeitona, pandeiro e a cantora Cléa Ramos) para um desfile de composições dos próprios chorões gaúchos: "Meu Pensamento", "Paquetá", "Neblina", de Jessé Silva; "Pescaria", "Olha O Buraco, Darcy", de Peri Cunha; "Contratempo" e "Catimbó no Choro" de Lúcio do Cavaquinho; além de "Provocante", "Tema de Amor" de Plauto Cruz. Apenas uma faixa de chorões cariocas, só que bem escolhida, por se tratar de um tema pouco executado: "Só Para Doer" de Pixinguinha/Benedito Lacerda/Veriato de Souza. Ao lado da música regional e do choro, os gaúchos também fazem uma música mais jovem. E entre os grupos vocais - instrumentais surgidos em Porto Alegre nos últimos anos, dois se destacaram: Almôndegas e o Bicho da Seda. Enquanto este segundo anda meio parado, o Almôndegas continua a gravar na Philips, longe de qualquer regionalismo, buscando evidentemente uma faixa mais urbana, "Circo de Marionetes" (Philips, 63449381, setembro/78), a exemplo dos 3 discos anteriores, traz composições dos próprios integrantes do grupo - João Baptista (baixo e vocal), Kledir (flauta, violão, vocal), Kleiton (violino, viola, gaita, violão, vocal) e Zé Flávio (guitarra, violão, viola). Músicos como Marcos Rezende e Nelson Ayres (piano), Mamão e Marco Aurélio Bisi (bateria), e até a vocalista Zizi Possi (na faixa "Voltando Pra Casa") participaram deste disco, de bom nível e que é uma mostra da música feita por gaúchos - mas já em outra faixa. Por último há os gaúchos que mesmo fora do Rio Grande do Sul continuam a fazer a música tradicional. É o caso dos irmãos Ivan e Joel Taborda, que formam "Os Maragatos", já com sete lps em catálogo na Chantecler. Misturando humor aos vanerões, toadas e valsas, os Maragatos agradam bastante e "Dando nó em pingo d'água", lançado há poucas semanas, deverá fazer boa carreira no Interior do Paraná e Santa Catarina, onde tem o maior público.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Música
44
08/10/1978

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