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Aramis

Geléia Geral

A prosperidade fonográfica está sendo tão grande neste 1986 post-Cruzado, com vendas acima do que previam os mais otimistas diretores de marketing das gravadoras, que novos produtos - como os artistas são tratados na linguagem fria dos executivos do setor - são mensalmente lançados na praça. Os que vendem tem caminho aberto para as novas produções, enquanto aqueles que empacam não chegam a abalar as finanças das gravadoras. Assim, se Os Paralamas do Sucesso vendem cem mil cópias de seu novíssimo lp, a Odeon pode, tranquilamente investir no grupo Muzak, no solista Ruban ou em Cézar de Merces, três "produtos" que saíram com grande promoção - num suplemento que, termos de qualidade, tem de outro lado, uma histórica gravação do jazzista Clarlie Parker - mas este sem a mesma carga promocional, já que se dirige a outro público. xxx Em dois anos, Osmar Buono (voz/baixo), Vitor Leite (bateria) e Nivaldo Campopiano (guitarra) vem fazendo algumas apresentações e o trio - que adotou o nome de Muzak - tem formulações bastante teóricas ("A banalidade cotidiana é uma imposição mortífera e cristalina, exigindo metáforas para simples objetivos). De duas faixas no lp-coletivo "Não São Paulo" (selo Baratos Afins, SP, 1985) a este disco-mix, de seis composições, o grupo traz "espectros de minimalismo pesado substituídos por um arredondamento mais melódico com temas sedutores e existencialistas", segundo a própria divulgação do gupo, em texto de Eduardo Logullo, que ainda garante: "O resultado é preciso, certeiro, isento de qualquer inútil acorde. Perambulando por zonas críticas da estética urbana, o Muzak surpreende por faiscantes frases musicais e relatos de sentimentos, paixões, imagens e aventuras. A música do trio relativiza referências estabelecidas, remetendo tudo a uma multiplicidade de experiências e fragmentos" (sic). xxx Ex-produtos, arranjador e compositor da fase mais supérfulas do discomusic - praga comercial que deu alguns dividendos há 2 ou 4 anos passados - Ruban, autor de alguns sucessos descartáveis para as Frenéticas ("Dancing Days", "Lesma Lerda" e "O Sempre Viva" (Eu Sou Frece"), tenta também a carreira solo. Assim, como "Essa Garota", "Vem Nessa" e "Cinderela" tiveram algum destaque nas paradas comerciais e ficou no ponto para ter o seu primeiro lo ("Vitrine", Odeon), reunindo, seus sucessos maiores ao lado de outras músicas, digestivas e de fácil consumo como "Suite de Castanhas" (parceria com Evandro Mesquita), "Só Ser de Você" (com Déa Nascimento/Beth Mafra) e a que dá título ao disco, em duas versões, abrindo e fechando o lp. xxx Procurando diversificar suas gravações, fugindo do (abominável) padrão Adelino Moreira - que durante décadas prejudicou a sua carreira em termos de qualidade (embora forte em termos comerciais), Nelson Gonçalves volta a convocar cantores do primeiro time para dividir um disco - "Ele e Elas - volume 2" (RCA, em fase de lançamento). Assim, o vozeirão de Nelson encontra a suavidade de Gal Costa "Dos Meus Braços Tu não Sairás", "Elizeth Cardoso ("As Rosas Não Falam"), além da presença renovadora de Tetê Espíndola ("Saia do Meu Caminho"), a força de Maria Bethania ("Caminhemos"), Joanna ("Alguém Me Disse") e Elza Soares ("Se Acaso Você Chegasse"). xxx Apesar de com atraso de alguns meses - o ideal teria sido o lançamento simultâneo a estréia dos filmes no Brasil - a WEA vai colocar ao alcance dos colecionadores brasileiros, as trilhas de dois dos melhores filmes do ano: "O Beijo da Mulher Aranha" e "Entre Dois Amores" (Out of Africa). O filme de Babenco traz além da música de John Neschlling, também alguns diálogos. Já a trilha de John Barry para "Out of Africa" é uma das mais belas dos últimos anos. A propósito da WEA, mais um selo passa a ser distribuído no Brasil por esta multinacional: a Factory. Grupos como New Order, Joy Divison e James sairão por este selo. E mais uma boa notícia: afinal André Midani lembrou-se de que o notável cantor-orquestra Bob McFerrin é contratado da Elektra e programou o lançamento de seu lp "The Voices", agora em junho. Bob McFerrin - na mesma linha de Al Jarreau (mas ainda com maior vigor) já tem dois lps gravados e agora está saindo seu terceiro álbum. Nos Estados Unidos, naturalmente! xxx "Não sou uma pessoa que agrada à crítica, mas não podem dizer que eu canto desafinado". A reclamação de Jerry Adriane (Jair Alves Souza, paulista do Braz, 39 anos, 22 de carreira), a Helena Carone, da "Revista JB", há algumas semanas, tem sua razão. Ele realmente canta direitinho, desde os tempos da jovem Guarda. Agora, longe do êxito dos companheiros Roberto e Erasmo Carlos, continua na batalha, com um novo lp pela Polygran, antecedido de um disco mix com "Planeta Amor", na qual, apelativamente, divide a mensagem de paz & fraternidade com uma garotinha, Gabriela, e ampara-se num coral infantil para o refrão apelativo. No outro lado, "Nada Existe Sem Você" (Evaldo Santos/Bira), antecipando assim, as faixas do lp, nos quais atacou até com uma versão do clássico "Tea For Two" que transformou em "Bobagens de Amor". Casado há 5 anos, 2 filhas, mas ainda pinta de galã, Jerry acha que tem seu espaço. E briga por ele, acreditando no amor. xxx Não se confundam, por favor, com Emilinha Borba - hoje uma sessentona cantora, que de vez em quando reaparece em programas de televisão. Emilinha, simplesmente, é uma morena sensual, esposa (ao menos era) do guitarrista Robertinho de Recife, que já andou fazendo um lp sem maior repercussão. Agora, em disco mix, está lutando pela divulgação em rádios com "Diário de Mentiras" (Leoni), produção de Mariozinho Rocha. Letrinha chula, arranjo comum - e uma vez que ainda não se definiu. Mas pode até acontecer... LEGENDA FOTO 1 - Ruban: agora em lp solo. LEGENDA FOTO 2 - Muzak: aproveitando a onda.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
3
15/06/1986

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