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Aramis

Geléia Geral

Dentro do revival de nomes famosos dos anos 60 que estão agora fazendo circuitos no Brasil - Chubby Cheeker, Johnny Mathis, Trini Lopez, Johnny Rivers e, mais uma vez, Ray Connif e sua orquestra - esteve também o compositor, guitarrista e cantor José Feliciano. Portorriquenho, 41 anos, cego de nascença, Feliciano aconteceu internacionalmente em 1968 com "Light My Fire" e "California Dreamin". Hoje, já tendo acumulado 32 discos de ouro e inúmeras outras premiações, este garoto que era fã de Presley, Ray Charles e Frankie Laine tem estado meio esquecido mas sua excursão animou a RCA a reunir alguns temas conhecidos no "The Best of José Feliciano". Assim, de um amplo material que 22 anos de contrato com a RCA garantem, foram selecionados os hits maiores - "Light My Fire" e "California Dreamin", naturalmente, há curiosidades como "Samba Pá'Ti" (Carlo Santana) ou uma pastosa adaptação de "Concierto de Aranjuez" do espanhol Rodrigo, chamado "En Aranjuez Con Tu Amor". Do próprio Feliciano, são "Weatch It With My Heart" e "Chico And Je Man". Bom violonista, voz suave, Feliciano tem um certo encanto na forma de dizer as músicas - como mostra em "Lonely Teadrops", "Susie Q" e "Everybody Loves Me". xxx Depois do boom do choro (1975/78), este gênero tão marcante e brasileiro entrou em recesso, de forma que atualmente - com o consumismo do pior rock e a crise de produção fonográfica, raro aparecer um elepê. Por isto, merece aplausos a RGE ao lançar um novo disco de Evandro do Bandolim e seu regional ("...E o choro Continua"). Novo é porque se trata de uma gravação feita há poucos meses, no estúdio Sigla, em São Paulo, porque, infelizmente, em termos de repertório, não houve a mínima preocupação de Evandro em buscar choros inéditos - ou ao menos que não fossem tão estandartizados como os que estão neste lp ("Doce de Coco", "Lamento", "Flor Amorosa", "Odeon", "Noites Cariocas", "Naquele Tempo", "Carinhoso", "Tico Tico no Fubá", "Pedacinhos do Céu"). Este, aliás, foi um dos problemas do prematuro desgaste do choro, como gênero de catálogo: a limitação da maioria de seus intérpretes em buscar diversificação. Bons músicos, mas na maioria das vezes acomodados num repertório normalmente aplaudido ao vivo, os chorões esquecem de que em gravação o público se cansa de ter as mesmas músicas. E só havendo virtuoses geniais, com criações muito próprias é que um mesmo choro pode resistir a tantas regravações. Evandro (Josevandro Pires de Carvalho, paraibano, 52 anos), é um simpático músico da noite paulista, vários elepês gravados, bom executante do bandolim - embora sem a inventividade de um Joel Nascimento (que, por sinal, foi o solista convidado por Norton Morozowicz para o "Concerto para Bandolim e Orquestra", de Radamés Gnatalli, gravado no penúltimo lp da Orquestra de Câmara de Blumenau). Músicos competentes acompanham Evandro: Luizinho no violão; Lúcio no cavaco (solista em "Pedacinhos do Céu"), Zequinha no pandeiro e Wolney no surdo. Tudo que faça em favor da MPB é legítimo e assim salve "...E o Choro Continua...". Mas esperamos que da próxima vez que tenha chance de fazer um novo elepê, Evandro tenha humildade de procurar um produtor competente e que lhe possa oferecer material com sabor de novidade, possibilitando-o mostrar um pouco mais de seu talento. xxx Com 19 anos de estrada, o Made In Brazil orgulha-se de proclamar que "conquistou um espaço" sem preocupações de modismos e fazer concessões de qualquer tipo a empresários ou gravadoras. Apresentando-se como uma "escola de rock" (sic), o grupo está na praça com nada menos que dois volumes de uma apresentação feita em setembro de 1984, no Lira Paulistano, em São Paulo. Com a participação de músicos como Oswaldo Fecchione (vocal, guitarra e gaita), Celso Vecchione (baixo, guitarra, vocal), Dudu Chermont (vocais/guitarra), Joaquim "Keigh" (guitarra/vocais), Otávio "Bangla" (sax), Babalu (guitarra), Percy e Cornélius (vocais), o Made In Brazil apresenta basicamente composições próprias - rock da pesada ao qual pretendeu sempre dar uma "roupagem verde-amarela": "Minha Vida é Rock'n Roll", "Mickey Mouse, a gata e eu", "Não Transo Mais", "Me faça sonhar... venha me arranhar" (no primeiro lp); mais "Anjo da Guarda", "Mexa-se boy"; "Vou te virar de ponta cabeça", "Gasolina" e até uma "Paulicéia Desvairada" que pouco tem a ver com o antropofagismo de Oswald de Andrade. xxx No Brasil, ele ainda é pouco conhecido, mas sua carreira já tem deslanche internacional: Chris de Burgh com o álbum "Man On The Line" ganhou dois discos de platina na Irlanda, dois na Suíça, um no Canadá, Alemanha e Noruega - e mais discos de Ouro na Inglaterra, França e Holanda. Agora, tendo a representação da A&M no Brasil, a Polygram lança "Into The Night", para mostrar o som deste filho de pais ingleses, nascido na Argentina e filho adotivo da Irlanda - onde mora com a mulher e a filha Rosana. Cresceu num castelo do século XII (onde funcionava um hotel), se formou em línguas e não tinha maiores pretensões musicais. Mas acabou caindo nas Swinging London e há 10 anos seu segundo elepê já estourava nas paradas: "Spanish Train And Stories". E desde então fez mais seis outros discos. Agora, "Into The Night", reflete uma mudança em homenagem a sua primeira filha - "For Rosanna". O que mostra que a inspiração paternal é comum tanto aos roqueiros europeus como aos brasileiros... A faixa mais trabalhada do disco é "The Lady In Red", que, por sinal nada tem em comum com o filme de Gene Wilder, cuja trilha de Stevie Wonder foi o grande hit no ano passado... xxx Nem só de Madonna pode viver o universo pop-erótico dos anos 80. Assim, outra loura escultural, Cyndi Lauper, após seu álbum de estréia ("She's So Unusual"), que vendeu 7 milhões de cópias em (quase) todo o mundo (ao mesmo tempo que compactos extraídos do lp vendiam outro tanto), está de volta com novo lp ("True Colors", CBS). No ano passado, Cyndi já havia retornado às paradas com o tema do filme "The Goonies", interpretando "Goonies R'Good Enough". Agora, em seu segundo lp, há ilustres participações especiais, como de Billy Joel (vocal), Robert Holmes (guitarra), The Bangles (vocais) e dos guitarristas Rick Derringer, Nile Rogers e Adrian Belew. Das dez canções, oito são da própria Cyndi - nas quais mostra sua potente voz (de quatro oitavas). "True Colors", a música-título, puxa o elepê e está a caminho das Top-10 da parada americana. Há momentos dançantes como "Change of Heart", "Calm Inside", "The Storm" e "The Faraway Nearby". Há também uma nearly bossa em "What's Going", recriação de um sucesso de Marvin Gaye e outro revival em "Iko Iko", hit calipso dos anos 60. A interpretação agressiva fica por conta de "911" e o tecno-pop em "One Track Mind". xxx Após três anos afastado dos estúdios, Billy Joel (William Martin Joel, Nova Iorque, 1949), retorna com o lp "The Bridge" (CBS, novembro/86), disco com o qual fecha a trilogia iniciada com "The Nylon Curtain" (82) e que prosseguiu em "Innocent Man" (83). Cantor, compositor e tecladista, Billy ganhou fama e prestígio, além de um Grammy (em 1978) com "Just The Way You Are". E desde então já vendeu mais de 30 milhões de cópias. Tecladista na adolescência, ex-integrante do The Hasles, hoje, aos 37 anos, mostra-se mais tranqüilo e emotivo - depois de seu casamento com a modelo Christie Brinkley e o nascimento de sua filha, Alexa. "The Bridge" (A Ponte), é um título feliz (há 25 anos, usado pelo saxofonista Sonny Rolins, marcando seu retorno ao jazz após um período de misticismo), aqui evoca tanto os laços emocionais quanto as fusões musicais na passagem de cada faixa. Há participações especiais, como a de Ray Charles, na Canção "Baby Grand", melancólico blues onde piano e voz dramatizam e coroam dois veteranos de um possível saloom de qualquer western-bar americano: Já o tecladista Steve Winwood mostra seu estilo Hammond-B 3 que aparece na canção "Getting Closer", um dos pontos altos do disco, principalmente em seu final, quando órgão e vocal se entrecruzam sob os versos: "Eu ainda não perdi a fé/Nas coisas em que acredito/ e se ainda não consegui chegar aonde quero/ Mesmo assim, estou certo". LEGENDA FOTO - Feliciano: retornando em disco e no palco.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
4
22/11/1986

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