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Aramis

Geléia Geral

No rock, ao contrário da natureza, muito se perde e pouco se transforma. No descartável mercado de consumo de ídolos de hoje que são esquecidos amanhã, há que ser muito habilidoso para sobreviver. Por exemplo, Cazuza, cantor, compositor - filho de um dos tycoons da insdústria fonográfica, João Araújo (Sigla/Som Livre/RGE) começou com o grupo Barão Vermelho, mas logo partiu para sua carreira solo. Como o papai Araújo "limpou" a Sigla de contratados - mantendo a etiqueta apenas na linha de discos-marketing (com trilhas sonoras de telenovelas ou temas do momento), Cazuza também dançou. A Polygram, confiando no potencial do garoto, o contratou e lançou-o num elepê bem produzido ("Só Se For a 2"), acompanhado de forte material promocional. xxx "Só Se For a Dois" é apresentado por Maria Clara Jorge como um disco que "traz no título e na ideologia o único modelo de relação humana que deu certo: a relação a dois". E as músicas - "mesmo os rocks mais pesados" estão embebidos neste romantismo, mas o deboche também aparece. Das 11 faixas, Cazuza é o autor (ou co-autor) das letras em dez. Na que restou, ele abriu seu caminho como compositor para musicar um poema de Oswald de Andrade: "Balada do Esplanada". xxx Enquanto Cazuza faz seus vôos solos, o Barão Vermelho, que no elepê anterior ainda não havia libertado-se do ex-vocalista ("Declare Guerra"), agora em "Rock'n Geral" (WEA, maio/87), traz algumas surpresas, Afinal, é o quinto elepê do grupo que, como diz Teté Martinho, "encontra, afinal, uma cara própria - graças, basicamente, a descoberta pelo guitarrista-letrista-cantor Roberto Frejat, de novos caminhos vocais, que incorporam, a um espírito definitivamente rock, elementos de MPB de um swingue à Jorge Ben e a lembranças de Caetanos antigos". Assim, com Liminho e Ezequiel Neves (o descobridor do grupo) na produção, o Barão apresenta até um som balanceado. O repertório tem várias vertentes: o rock de "Tempo de Paz", "Contravenção" e "Dignidade"; o "Blues do Abandonado"; o funk-gafieira de "Copacabana" e até o blues (sic) de "Quem me olha só". xxx Outro retorno é o de Ritchie, inglês acariocado que há 5 anos explodiu com "Menina Veneno" e se tornou um ídolo nacional. Dizem que o seu sucesso na CBS foi tão grande que até Roberto Carlos se preocupou e puxou o seu tapete. Pelo menos é a versão que o gordo, maldoso e complicado Tim Maia espalhou. O fato é que a bola de Ritchie esvaziou e a partir do segundo elepê, o garotão foi esquecido. Agora, pela Polygram ("Loucura & Mágica", maio/87), tenta dar a volta por cima, com "um disco do século XXI, concebido, criado, gravado, montado e cortado com auxílio de computadores". Diz mais o release que acompanha o elepê: "Uma tecnologia avançada e compatível com o som proposto pelo seu autor". Quarto elepê de Ritchie, no qual vem acompanhado de músicos como Renato Ladeira, Roberto Lly, William Forghieri - desdobrando-se entre instrumental eletrônico. A música título é de Antonio Cícero, diz "Não é preciso ser tão trágica/ tudo tudo é impossível/ tudo é de arrasar/ Quando é um caso de loucura e magia". xxx Bob Geldof ficou mais conhecido como o idealizador e coordenador do maior show beneficente já realizado, em favor dos esfomeados do mundo, que lhe valeu até a indicação ao Nobel da Paz, do que pelo seu trabalho musical. Por isto mesmo, em boa hora a Polygram lança no Brasil o seu elepê "Deep In The Heart Of Nowhere". O ativista filantrópico e social confunde-se com o compositor e cantor, que, musicalmente faz uma colcha de retalhos, viajando da nostalgia à militância de uma faixa a outra ("This Is The World Calling"). Lançado em fevereiro na Inglaterra, este disco fez boa carreira nas hit-paredes e, para quem conhece a obra de Geldof, é superior ao anterior "In The Long Grass", o último que havia feito com o grupo Bootown Rats (85). Geldof acaba também de lançar sua autobiografia - "Is That It", que até agora nenhum editor se dispôs a publicar no Brasil. xxx O Rock In Rio II foi desativado, ao menos temporariamente, mas Tina Turner, que já havia sido contratada (ou ao menos sondada) virá entre janeiro/ fevereiro de 1988 ao menos ao Rio. Enquanto ela não chega, a Rocco lança sua biografia - "Eu Tina - A História de Minha Vida", de Kurt Loder (tradução de Alfredo Barcelos), na qual conta tudo - ou quase tudo - inclusive as surras que levava de seu neurótico marido-empresário-cantor, Ike Turner. O livro de Tina sairá em julho, mas a Odeon já antecipou seu novo elepê ("What You Get Is What You See", Emi/Capitol), com o mix no qual há três registros desta composição de Britten/Lyle, devidamente catapultuada nas FMs da vida. Agora é esperar ao próprio elepê. xxx Mais famosa do que a mãe, Thelma Houston, a gatona criola Whitney Houston chegou rapidamente ao 38º lugar da "Billboard"com seu novo elepê - "I Wanna Dance With Somebody", cuja faixa título, também num extendmix (RCA/Arista) chegou aos programadores das emissoras de rádio nos EUA em versões compact disc, tape e vinil. No Brasil, a RCA só distribuiu em disco convencional. Mas o single está rolando nas rádios e fazendo a gatona Whitney aparecer em destaque. LEGENDA FOTO 1 - Cazuza: sem o Barão Vermelho. LEGENDA FOTO 2 - Barão Vermelho: sem Cazuza.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
7
28/06/1987

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