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Aramis

Geléia Geral - Da música de umbanda ao brega que agrada

Campo fértil para pesquisas antropológica-musicais, o candomblé tem sido estudado em suas manifestações artísticas, com mais dedicação por parte de cientistas sociais estrangeiros do que no Brasil. E se a bibliografia ainda pode ser tida como razoável, em termos discográficos - em que pese toda influência da manifestação afro-religiosa há poucos documentos da maior validade. Isto fez com que um registro realizado há 25 anos no terreiro do respeitado Luís da Muriçoca (Luís Alves da Silva), em Salvador, ficasse como precioso referencial. Reeditado agora dentro da preocupação da gravadora Continental em remexer no seu arquivo, "Candomblé da Bahia - Toques, Cantos e Saudações aos Orixás" (Nação Kêto), está entre aquelas gravações que justificariam um apoio oficial, para financiar um encarte didático, feito por especialistas que enriqueceria sobremaneira este álbum-documento - mas que vale por si e deve ser procurado a todos que tem interesse em possuir sons de raízes, identificados a cultura popular. xxx Outro disco-documento, também reeditado pela Continental, é de Camafeu de Oxóssi, legenda do berimbau baiano, trazendo ritmos de São Bento Grande, São Bento Pequeno e Angola, e outras derivações, todos de domínio público. Igualmente ressente-se este álbum de um encarte explicativo - que poderia, inclusive, ser em bilingüe, considerando o interesse do mesmo para os estrangeiros. xxx Artista da maior popularidade no Nordeste, mestre de armação de letras picarescas de duplo sentido, Genival Lacerda ainda terá um dia estudada sua obra dentro de uma visão, sem preconceito, da música bem humorada que vem do povo. Difícil o ano em que este compositor-intérprete que encarna a imagem do machão simples e astuto, espécie de Pedro Malazartes do sexo, não escala as paradas de sucesso. É preciso entendê-lo, não apenas na visão do oportunista malicioso, mas também do picaresco que, a maneira de um trovador sertanejo - mas atingido pela sociedade de consumo - examina as relações sexuais, as mudanças de comportamento, a sociedade urbana - e que resulta em composições próprias ("Os Bichos da Fazenda", "Meu Jumento", "Cacho de Côco", "Aniversário do seu Vavá"), ou de outros autores identificados a esta música maliciosa - como a dupla João Caetano / Graça Gois, Niceias Drumont e Paulo Márcio. Saber falar as camadas mais humildes da população, criando imagens de duplo sentido, com malícia (mesmo que as vezes um pouco de grossura) faz com que quando houver mais espaço e menos preconceito, Genival Lacerda não seja visto tão superficialmente como acontece hoje. Por enquanto, tranqüilamente, emplaca sucessos e fatura bem - como por certo este seu novo disco, "Ripa na Chulipa" garantirá.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
24
16/07/1989

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