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Aramis

Geléia Geral - Fafá assume o breguismo

Interessante que, no futuro, se analise a carreira de Fafá de Belém. Lançada por Roberto Santana, um baiano esperto (e expert) em termos de descobrir talentos (Quinteto Violado, Elomar, Zizi Possi, etc.), Fafá estourou com sua bela voz, beleza espontânea e bom gosto num repertório que, já no primeiro elepê, valorizava um importantíssimo compositor paraense, Waldemar Henrique, regravando "Tamba Tajá". O tempo passou, Fafá deslumbrou-se com o sucesso fácil e sua carreira foi pro brejo: esqueceu de muitos compromissos (só em Curitiba, por duas vezes, deixou o grande auditório do Guaíra, repleto de público esperando por shows que não fez) e, quando da campanha das Diretas Já, engajou-se nos comícios musicais - e ganhou, infelizmente, o apelido de abutre sonoro. isto porque depois de gravar "Menestrel das Alagoas", em homenagem a Teotônio Vilela, esteve ao lado do presidente Tancredo Neves. Agora, Fafá dá uma reviravolta em sua carreira e volta com apelo para o público mais simples: "Sozinha" (Polygram), na qual assumiu a produção, ataca com um repertório para tocar no rádio e chegar ao público classe "c", com músicas de autores como Chico Roque, Carlos Colla, ("Meu Disfarce"), Michael Sullivan/Paulo Massadas ("Gosto"), versões que ela própria fez ("Te Odeio e Te Quero", "Teu Imenso Amor") e até Leonardo, um nordestino brega que tem faturado os turnos. De autores de melhor nível, que marcaram seus melhores momentos, só sobraram João Donato/Chico Buarque ("Cadê Você") e Ivan Lins/Vitor Martins ("De Nosso Amor Tão Sincero"). Realmente, Fafá decidiu virar a mesa e assumir seu lado povão. Teoricamente, tem muito blá-blá a dizer - mas o tilintar da caixa registradora, após debacle de sua carreira até pode justificar esta nova virada... que seja bem sucedida. xxx O jornalista Edison Leal, bom baiano que vive em Londrina há mais de 20 anos, disc-review de Folha de Londrina, apaixonado pela MPB tradicional, observou dias atrás, o boom da música baiana e suas influências afro e da Jamaica, estabelecendo inclusive estudos sociológicos. Realmente, o campo é amplo e possibilita longas digressões, mas o importante é que em Salvador, ao contrário do que acontece em Curitiba, as rádios divulgam os artistas da terra e assim Gerônimo com "Eu Sou Negrão" ou Luís Caldas, antes mesmo de chegarem ao vinil, já eram campeões em execução através da catituagem de suas fitas. A continental, astutamente, sentiu a força deste mercado e tem sabido investir na área. Por exemplo, lançou os discos de Celso Bahia, que com "2 Neguinhos" e "Mandinga", escalou as da boa terra e estados vizinhos - somando-se a grupos como o Mel, Chiclete com Banana, Muzenza, entre outros que, nos últimos meses têm saído com força. xxx Wilson Souto Neto, diretor artístico da Continental, não fica apenas na Bahia: em Belém do pará, num karaokê, descobriu Beto Barbosa que, com composições próprias, de muito ritmo, também conquista popularidade no Norte/Nordeste e que com três elepês gravados vendeu mais de 300 mil cópias - embora ainda seja desconhecido no Sul. Também com muito balanço são as músicas do grupo Karetas ("Sabor da Fruta"), atrevidinhos nas letras como "Bum bum da nega tum" e "Em cima e em baixo" (ambas de autoria de Lulu, vocalista do conjunto), que estão vetadas para divulgação em rádio e televisão - mas são suficientemente comunicativas para conduzir o disco entre os bem vendidos junto a faixa mais popular. Dois outros intérpretes populares com muita comunicação para faixas específicas são Yuri Pithon (apesar do nome, bem nordestino como mostra em "Xamego", "Vem cá menina"e "Brota a flor") e Sandro Lúcio, este já puxando para o gênero brega-romântico, com canções como "O melhor da vida", "Um novo dia vai nascer" e "Marcas". xxx Depois de "Selvagem" e, gravado ao vivo, "D" (87), Os Paralamas do Sucesso foram buscar no Pacífico o título-inspiração para o novo disco: "Bora Bora" (Emi-Odeon), que parece até um CD: 46 minutos e 13 faixas, com os mais variados matizes surgidos em seus trabalhos anteriores. Herbert, Bi e Barone, após os desdobramentos de "Alagados" e a comunicação do "Passo do Lui", neste disco-88 trazem 10 músicas de Herbert (só não está presente em "Bundalêlê" e "Don't give me that") e, entre os convidados especiais está o argentino Charly Garcia - por sinal também com seu LP-solo, pintando agora no Brasil.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
12
04/09/1988

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