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Se existe um aspecto da fonografia brasileira realmente descuidado pelos nossos record-man é o das contracapas dos lps. Enquanto nos EUA e na Europa é raro sair um disco sem um objetivo e quase sempre didático texto de contracapa, aqui ocorre o contrário: são poucos os produtores que se lembram de convidar jornalistas, pesquisadores e estudiosos dos diversos gêneros para enriquecerem os lançamentos com depoimentos, notas e mesmo pequenos artigos capazes de facilitar ao comprador a apreciação da música, do intérprete ou do instrumentista que participou da gravação. Ao contrário, 90% dos discos se limitam a ter nas contracapas os nomes das músicas, propaganda de outros lançamentos da fábrica ou, no máximo, textos em inglês, pois nem ao trabalho de traduzir se dão as gravadoras, no caso dos lançamentos internacionais. Por isto, Jonas Silva, que há 4 anos bravamente vem fazendo da Imagem uma etiqueta com excelente catálogo (clássicos e jazz) merece também a admiração pelo cuidado com que trata de seus lançamentos: e para fazer as contracapas dos discos de jazz, tem a ajuda de um velho amigo, José Domingos Rafaelli, 47 anos, jazzófilo desde 1943, dono de uma das maiores coleções no Brasil e também um dos grandes teóricos. Filho de um comerciante da Rua do Acre, Rafaelli sempre soube dividir seu tempo entre os negócios e o amor ao jazz - o que o levou por cinco vezes aos Estados Unidos, inclusive uma vez a convite da revista "Down Beat", por ter vencido um concurso de crítica de jazz instituído por aquela "bíblia" dos jazzmaníacos de todo o mundo. Com pais italianos, José Domingos até os oito anos só falava italiano e em casa só ouvia ópera. Mas quando descobriu a música norte-americana conheceu também Jonas Silva, um homem sempre voltado ao comércio fonográfico e nasceu desde então uma amizade que só tem crescido com o tempo. Presente em todos os acontecimentos de importância ligados ao jazz no Brasil, Rafaelli é um dos poucos homens que poderia, com segurança e profundidade, escrever uma coluna diária sobre jazz ou apresentar um bom programa de rádio. Entretanto, embora tivesse feito várias tentativas, nunca conseguiu romper a barreira dos "profissionais que mesmo sem entender nada de jazz, dizem que entendem". E por esta razão, vindo a Curitiba a serviço da firma de planejamento econômico na qual está trabalhando há alguns meses - deixou os negócios da família após ali passar quase toda a vida - teve a alegria de receber o convite para colaborar com textos sobre jazz em O Estado, nas edições dominicais o que passará a fazer a partir de fevereiro próximo. Casado, um filho de 9 anos, "que, meu maior orgulho, já aprendeu a amar o bom jazz e procura estudar a fundo os vários estilos". Rafaelli, desde 1969, quando a Imagem começou a editar discos de jazz, passou a fazer as contracapas, sempre com comentários inteligentes, informações precisas e, muitas vezes exclusivos depoimentos pessoais. Agora, com a experiência de quem já participou de três clubes de jazz criados na Guanabara, está auxiliando a um grande amigo, Orestes Correia e Castro na estruturação de uma nova entidade, "pois sempre os jazzófilos tem que insistir".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
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13/01/1974

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