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Aramis

Gente apaixonada ou os estranhos da Louisiana

Há ao menos um ponto comum entre "Quando Me Apaixono" (Bristol) e "Gente Diferente" (Palace Itália): as histórias se passam na Louisana. Mas em cenários diferentes: "When I Fall In Love" acompanha 25 anos na vida de um casal - seus sonhos, esperanças e a dura realidade. "Shy People" é a visão de um cinesta russo (Andrei Konchalovsky) de uma das regiões mais agrestes do Sul dos Estados Unidos - os overglades, onde, no espaço de alguns dias, explodem choques culturais e emotivos de pessoas de uma mesma família - mas de diferentes formações. A idéia de falar de pessoas ao longo de um quarto de século nos Estados Unidos em transformação nas décadas de 60/70 não é novidade: Arthur Penn fez isto com genialidade em "Amigos Para Sempre" e, mais recentemente, "Amigas Para Sempre" - deu uma espécie de visão feminista do mesmo tema. "Quando Me Apaixono" não chega a aproximar-se destes dois exemplos maiores: a história de Gavin Gry (Dennis Quaid), o fantasma cinzento - grande craque de rugby na sua juventude, mas que sofre com a passagem do tempo, e de sua dedicada esposa, Babs (Jessica Lange), tem uma narrativa convencional, com o diretor Taylor Hackford menos inspirado do que em "A Força do Destino". Sua visão romântica, mesmo com o empurrão de alguns standarts sonoros dos anos 50 - incluindo a própria música-título ("When I Fall In Love, na voz charmosa de Nat King Cole) não consegue ultrapassar as limitações de um bom personagem, o jovem Donnie (Timothy Hutton), sobrinho de Gavin, apaixonado por Babs - que dela recebe uma única noite de amor na cena mais bela do filme. Em compensação, "Gente Diferente" é um filme seco, direto e objetivo: a viagem que uma sofisticada jornalista da revista Cosmopolitan, Diana Sullivan (Jill Clayburgh) e sua filha adolescente, Grace (Martha Plimpton) fazem ao interior dos pântanos de Louisana, na procura de um ramo esquecido de sua família, vale por uma temporada no inferno: um choque cultural que provoca explosões emotivas e sensuais - embora encerrando com a exaltação familiar. O encontro entre o moderno e o primitivo - as primas urbanas em visita à família mantida a pulso de ferro pela matriarca Ruth Sullivan (Barbara Hersey, excelente - premiada como melhor atriz em Cannes-87), faz de "Shy People" um filme para reflexões maiores, que Andrei Konchalovky, cineasta russo com boa carreira nos EUA ("Os Amantes de Maria", "Expresso para o Inferno", "Sede de Amar") oferece imagens (belissimamente fotografadas por Chris Mandes) que parecem fazer o pântano invadir junto com os personagens uma história densa.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
30/01/1990

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