Guia negro de Glauco para o nosso turismo
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 31 de maio de 1986
Autodidata antes de tudo, Glauco Souza Lobo, 48 anos, secretário de Turismo de Curitiba, levou para a recém-criada pasta uma importante experiência de quem há mais de 30 anos participa das coisas da cidade. Da presidência de escolas de samba (Não Agite, Embaixadores da Alegria) à liderança do movimento umbandista - de cuja federação foi um dos organizadores - Glauco tem também uma respeitável quilometragem na noite, como freqüentador de bares, restaurantes e boites.
Assim, ninguém melhor do que ele para conhecer aqueles ambientes que merecem recomendação e, especialmente, os muitos que devem ser evitados - não apenas por turistas mas pelos próprios curitibanos.
Em suas pesquisas etílico-gastronômicas, Glauco tem tido experiências chocantes. No Nilo Samba Choro, no Setor Histórico, chegou a flagrar nada menos do que uma água mineral falsificada - motivo para justa irritação. Dias depois, jantando na pizzaria Palácio, no Batel, encontrou entre os ingredientes do prato que lhe foi servido, nada menos que um enferrujado prego. O mais grave é que apesar de chamado à mesa, para dar alguma explicação, o proprietário fez ouvidos de mercador e não deu a mínima satisfação. Glauco não deixou por menos: encaminhou à Coordenação de Defesa do Consumidor denúncia oficial a respeito.
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Se o próprio Glauco Souza Lobo, figura conhecida e ocupando a função de secretário de Turismo, é vítima de ambientes que não têm o gabarito mínimo para oferecer bom atendimento aos fregueses, imagine-se o que sofrem os consumidores anônimos. Por isto mesmo, a Secretaria Municipal de Turismo já iniciou o levantamento de todos os ambientes da cidade - restaurantes, bares, casas noturnas, lanchonetes etc. - para criar a sua própria classificação e, após um exame criterioso, elaborar dois livros: o branco, com os endereços recomendáveis e, especialmente, o negro - dando nomes aos bois - e explicando as razões - por que aqueles locais devem ser evitados.
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A intenção da Secretaria de Turismo é positiva. Mas também corajosa e polêmica, pois Glauco sabe que está mexendo numa casa de marimbondos já que há uma tendência de autoproteção do comércio, mesmo quando há casos comprovados de irregularidade.
Só que hoje o consumidor começa a se tornar mais exigente. Não apenas em questão de preços - exigindo nota fiscal, observando o congelamento etc. - mas também dos serviços, que contam muito.
Caso o livro negro do turismo curitibano seja, realmente, editado, a cidade ganhará com isto. Os turistas e os curitibanos.
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