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Aramis

Haja tempo para assistir os filmes destes Festival

Apesar da modéstia e falta de maior experiência da parte de seus organizadores, o I Festival de Cinema Cidade de Curitiba (até domingo, no Cine Ritz) traz opções a quem se interessa em conhecer especialmente curtas, médias e longas que habitualmente não freqüentam os circuitos comerciais. Por exemplo, da programação competitiva em 35mm, os dois documentários apresentados ontem a noite - "Rio-Leningrado", de Carlos Ribeiro Prestes e "Ori" de Raquel Gerber, dificilmente terão lançamento normal no circuito comercial (a não ser que a Fucucu saia de seu imobilismo e se interesse em programá-los para as salas oficiais do município). Dos curtas e, especialmente, médias metragens, também há muitos que não chegarão aos cinemas comerciais. Por exemplo, as produções em 16mm não tem condições de serem programadas nos circuitos equipados com 35mm e os média metragens, pela sua própria duração, não se enquadram em horários compatíveis com os cinemas - mesmo aqueles que antes do lucro deveriam procurar dar a programação informativa ao público (como é o caso do circuito oficial, mantido pela Prefeitura - salas Ritz, Guarani, Luz e Groff). Só mesmo a Cinemateca do Museu Guido Viaro, incômoda e que tem uma pequena freqüência normalmente, é que se abre para obras como "Bandeiras Verdes", do maranhense Murilo Santos; "Eva Vicente", de Laís Prado; o belíssimo "Caramujo Flor", de Joel Pizzini; "Carlota/Amorosidade", de Adilson Ruiz; "Mulheres, Uma Outra História", de Eunice Gutzman - todos na categoria de média metragem. xxx Se aos trancos e barrancos os curta-metragens (duração máxima de 14m) estão conseguindo, na base da lei, o seu espaço nos circuitos comerciais, os média-metragens permanecem marginalizados, restritos apenas ao circuito especial. Além de, na maioria das vezes, serem rodados em 16mm, sua duração entre os 16 e 60 minutos, os inviabiliza comercialmente. A única solução seria reuni-los em programas especiais - dois médias ou um média e três curtas - para cumprir a programação. Entretanto, embora esta idéia já tenha sido levantada e discutida em vários festivais, nada de concreto a respeito foi feito. Assim, como o projeto de constituir um circuito especial, de salas de exibição mantidas por instituições (oficiais ou privadas), discutida por ocasião da Jornada de Cinema da Bahia (setembro/88) não passou daquele encontro, embora até uma comissão executiva para levar o projeto a frente tenha sido criada. O fato dos realizadores de curta e média-metragens não terem recebido passagens e hospedagem para acompanharem a projeção de seus filmes no Festival de Curitiba (só os diretores de longas é que tiveram convites), inviabilizou qualquer reunião para que se discutissem as questões relacionadas a filmes nestas metragens. Por certo não faltariam assuntos a serem debatidos, em especial a crise na qual o cinema brasileiro encontra-se há dois anos, a queda brutal na produção e a falta total de recursos da Fundação do Cinema Brasileiro - a quem cabe hoje a parte cultural de nosso cinema. Os poucos curta-metragistas que aqui se encontram - como o cearense Nirton Venâncio, jornalista, radicado em Brasília e autor do belíssimo e emotivo "Um Cotidiano Perdido no Tempo" (grande premiado na Jornada da Bahia-88), vieram por sua conta e, pelo menos até ontem, não viram condições de fazer qualquer reunião paralela que pudesse resultar em algum documento-denúncia sobre a situação caótica de nosso cinema. O que não deixa de ser lamentável, pois uma das finalidades dos festivais de cinema está justamente em proporcionar democráticos debates da categoria. Lamentável, também, que a excelente programação selecionada por Valêncio Xavier para o chamado "Ciclo do Cinema Francês" - e que oferece uma visão histórica do cinema naquele país - esteja tendo projeções num horário (16h) que inviabiliza a maioria dos interessados em assisti-los. Clássicos do cinema francês de várias épocas - como "Zéro de Conduite", 1933/35, de Jean Vigo (1905-1934); "Sangue de Poeta", 1930/32, de Jean Cocteau (1889-1963); "Toni", 1934, de Jean Renoir (1894-1979); "Acossado" (A Bout de Soufle), 1959, de Jean Luc Godard - não tenham a chance de uma segunda projeção, que poderia acontecer na próxima semana, bastando para tanto que a coordenação de cinema (?) da Fucucu ou mesmo alguma outra instituição ligada ao cinema (afinal, o que fazem os cine-clubes da cidade?) mantivessem contatos com a Maison de France / Embaixada Francesa. O simpático monsieur Ravel, diretor cultural da Aliança Francesa - e que vem procurando apresentar filmes franceses, com legendas, na sede da instituição - não pode programar esta seleção, porque o pacote veio diretamente para o Festival. Mas condená-los a uma única projeção, geralmente com 5 ou 8 espectadores, é um desperdício de energia e esforços. Já a mostra de cinema alemão, que o Goethe Institut trouxe também como um evento paralelo ao Festival, tem ao menos o público garantido pelos alunos que freqüentam a sua sede (Rua Reinaldino S. de Quadros, 33). Nesta quinta-feira, será exibido "A Variante Grunstein", 1984, de Bernhard Wicki (16 e 20h30, entrada gratuita), e para amanhã está programado "O Pequeno Procurador", 1986, de Hark Bohm. LEGENDA FOTO - Cena de "Ori": documentário fadado a ficar longe do circuito comercial.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
28/09/1989

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