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Helena Kolody, 81 (ou 18?) anos de iluminação poética

Helena Kolody, profissão poeta.Ninguém melhor do que esta ucraniana-brasileira de eterna juventude que os 81 anos parecem apenas um número ao contrário (18), para justificar esta identificação. Helena é brilho, luz, magia - que a faz, há muito, não só a grande poeta do Paraná, mas uma das maiores do Brasil. Se o Rio Grande do Sul tem Mário Quintana, nós temos - para muito orgulho! - Helena Kolody, hoje, merecidamente, tendo sua obra reconhecida nacionalmente. Brilhante como uma estrela, terna com a imagem pastoril dos verdes campos de Cruz Machado, onde nasceu em 12 de outubro de 1912, Helena é a identificação maior da poesia que encontra a cada manhã, como um estímulo ao otimismo tão necessário - que sempre soube marcar suas palavras. Esta Helena tão querida e admirada merece nesta manhã de sábado mais uma homenagem. Na Livraria Ypê Amarelo (Rua Comendador Araújo, 92), o lançamento do Caderno do Museu da Imagem e do Som, numero 13 - "Helena Kolody - poetisa", reúne dois depoimentos - num texto referencial, para uma autora cuja importância para nossa literatura ainda não mereceu um estudo universitário. E quando se pensa em tantas bobagens que resultam em dissertações de mestrados de professores cabeça-de-bagre, é de se lamentar, que até agora, a obra de Helena Kolody não tenha sido interpretada em termos profundos. Mas de certa forma é até positivo que isto aconteça. Sua poesia é tão pura, espontânea e sincera - que a não ser que exista alguém de muita sensibilidade, o risco é que se acabe escrevendo um amontoado de besteiras a seu respeito. xxx Valêncio Xavier, 53 anos, apaixonado pela obra e pessoa de Helena Kolody, não poderia ter sido mais inspirado no momento em que decidiu reunir num volume de 38 páginas (edição xerocada, apenas mil exemplares) dois depoimentos da grande poeta: um que se gravou em 21 de dezembro de 1973 - e que se perdeu na bagunça que por tantos anos caracterizou o nosso "Museu da Imaginação" (aonde estão os depoimentos de Radamés Gnatalli e Elizeth Cardoso, que há muito sumiram?) - e o segundo, gravado em 25 de agosto de 1989, quando Xavier já dirigia a instituição - finalmente agora em uma boa fase. Felizmente, em sua organização de mestre que educou várias gerações ao longo de mais de três décadas que esteve no Instituto de Educação, dona Helena teve o cuidado de guardar as perguntas e respostas da primeira entrevista-depoimento. E se a fita perdeu-se, ficaram as anotações - em sua letra clara, que, em fac-símile, ocupa as 7 primeiras páginas deste boletim. Depois, as respostas da entrevista gravada no ano passado. O resultado, como diz Valêncio Xavier, na apresentação, é um documento dividido em duas partes - separados pelo espaço de 16 anos. Um, pensado, escrito, respostas para um questionário, porém com o belo texto preciso da poetisa (que preferimos chamar de POETA - preferencialmente de letras maiúsculas, sem distinções). O outro, resposta de viva voz a perguntas imprevistas: a poesia nascendo ao nascer da fala. xxx Sempre generosa e paciente, dona Helena tem gravado vários depoimentos. Há alguns anos, recolhemos um para a extinta revista "Quem", no qual participou uma ex-aluna, Lúcia Camargo, hoje secretária municipal da Cultura. No ano passado, em vídeo e áudio, a equipe do projeto Memória Histórica do Paraná, emocionou-se com seu depoimento de mais de três horas. Um jovem videomaker, apaixonado por sua obra, vem registrando tudo que é possível sobre sua vida. Colegiais e universitários a procuram sempre - atendendo a todos com intensa paciência. É bom que haja esta preocupação. Pessoas iluminadas como Helena Kolody tem que ser reverenciadas e homenageadas em vida, com toda dedicação. Uma mulher-poesia, que ao longo de seu depoimento não deixa de intercalar sempre a sua lírica. Por exemplo, ao falar sobre sonhos - "uma coisa misteriosa, porque o que a gente sonha, quer dizer, é o exercício da imaginação", acrescenta um poema: "No silêncio interior a alma sonâmbula se põe a bailar a sombra de seu bailado traça leves arabescos na face do sonho e desperta palavras da canção. É isso, porque a canção nasce daquele bailado da imaginação, um bailado da palavra".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
31/03/1990

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