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Helton, vivendo para promover a melhor MPB

Qual a receita para fazer de um bar-restaurante mais do que um estabelecimento comercial, um ponto de encontro cultural? Muitos procuram a fórmula para conquistar um público legal num ambiente descontraído, amigo - em que o importante não seja o luxo e a sofisticação, mas a qualidade. Da comida, da bebida, do serviço, da música e, especialmente, das pessoas que o freqüentem. Um mestre com PhD nesta área é um mineiro-paulista que tem hoje a melhor casa musical paulista em termos de convivência e programação: Helton Altman, do "Vou Vivendo" em São Paulo. Há muito que o "Vou Vivendo" virou uma espécie de griffe musical, identificando os melhores momentos da música ao vivo dentro de um verdadeiro projeto cultural que se transformará, em breve, numa etiqueta "para discos especiais", ao lado de outros eventos. Assim como Sérgio Bittencourt, double de engenheiro e dono da noite, tenta fazer em Curitiba com seu "Habbeas Coppus" - que no ano passado editou um elepê e um livro de poesias, Helton, há alguns anos, desenvolveu através da (quase) extinta Copacabana, o projeto Bom Tempo, pelo qual lançou hoje históricos discos de Vicente Barreto, Eliete Negreios, conjunto Época de Ouro e dos compositores-intérpretes Celso Biáfora, Jean e Paul Garfunkel ("Trocando Figurinhas"). Estes discos foram apenas parte das muitas agitações etílico-culturais-musicais que Helton vem fazendo há mais de dez anos na noite paulista. Em 7 de abril de 1980, sua paixão pela melhor música instrumental brasileira o levava a transformar o "Clube de Choro" - que havia nascido quatro anos antes (quando o boom nacional por este ritmo deslanchado a partir do espetáculo "Sarau" atingia várias cidades) - num ambiente de endereço fixo. Com o afastamento do presidente-fundador do clube, o maestro Benjamin Silva Araújo (1900-1985) da sede da entidade - premiada por inúmeras dificuldades de sobrevivência - Helton, com sua visão jovem, entendeu que para os ideais sonoros de prestigiar a mais autêntica música brasileira não soçobrarem frente as dificuldades econômicas, tornava-se indispensável uma sustentação empresarial. E o "Clube do Choro" ganhava uma estrutura, "mas sem perder as características afetivas". Comercial - Instalado na Rua João Moura, 763, o Bar "Clube do Choro" nascia com o alto astral de amigos como Paulinho da Viola, Hermínio Bello de Carvalho, Radamés Gnatalli, Elizeth Cardoso, Roberto Silva e tantos outros que ali faziam shows movidos pelo significado de resistência musical que o local oferecia. - "Mais do que os cachês que podiam ser pagos, era a sobrevivência de nossa música" - diz Helton, que sempre sensível, ali promoveu momentos memoráveis, como a festa de aniversário de 50 anos de um dos mais queridos pesquisadores, desenhistas e colecionadores brasileiros, Miécio Caffé, em 30 de maio de 1982 - que se espalhou pela rua tal o número de amigos que apareceram. Nascia então a idéia da "Rua do Choro", que aos domingos, transformava a João Moura, no bairro dos Jardins, num espaço aberto à MPB. A Prefeitura colaborou, a Brahma entendeu a importância do evento que realizava, na prática, algo que muitos tinham sonhado mas nunca concretizado. O Bar "Clube do Choro" ganharia quatro anos depois - em 11 de junho de 1984, alguns quarteirões adiante, um "irmão" nascido em melhores condições: o "Vou Vivendo" (Rua Pedroso de Morais, 1017, fone 815-8129). Já planejado para um bar-restaurante com dois ambientes - embaixo apenas com suave música mecânica (naturalmente só MPB), e, no segundo andar, para shows de terça-feira a domingo, a casa não poderia ter melhores padrinhos. O paranaense Elifas Andreato, mago das cores e dos desenhos, também um apaixonado pela música, bolou a decoração, criando uma escultura do patrono da casa - "São" Pixinguinha - que também refastelado numa romântica meia lua seria o luminoso da casa, transformado em logotipo. Fervilhando de idéias, auxiliado por amigos como Celso Biáfora, Helton tem feito do "Vou Vivendo" um roteiro musical com nomes dos mais expressivos - agrupados em séries como Instrumentistas, Compositores e, agora, Alguém Cantando. Neste mês, por exemplo, ali tem se alternado expressões como Luiz Vieira, Célia, Manduka, Gereba, Dominguinhos, Ivor Lancelotti, Paulo César Pinheiro, Nelson Mota Melo e Tetê Espíndola. Virtuoses como o violonista Rafael Rabello e Sebastião Tapajós tem feito questão de se apresentar no "Vou Vivendo", cujo público "comporta-se mais respeitosamente do que a de muitos teatros", como diz a jornalista Déa Bertran, responsável pelo eficiente trabalho de divulgação da casa. Mineiro de Belo Horizonte, 31 anos comemorados - com muita música - no dia 5 de junho, ao lado de seus dois irmãos - Ricardo e Arnaldo - "que cuidam das coisas administrativas", Helton formou-se em Economia pela Fundação Alvarez Penteado mas se orgulha de se identificar hoje como "um botiqueneiro musical". Hermínio Bello de Carvalho, que não perde oportunidade de aparecer na casa, do alto de sua experiência de três décadas e meia como um dos maiores animadores culturais deste País, avaliza: - "O Helton faz um trabalho em seus "Vou Vivendo" e "Clube do Choro" que vale por mais do que muitas secretarias de cultura deste País. LEGENDA FOTO - Helton Altman, a alegria de viver promovendo e divulgando a nossa melhor música.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
15/09/1991

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