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Aramis

Hermínio, bendita agitação musical!

Hermínio Bello de Carvalho fica uma fera quando o chamam de pesquisador. Insiste em dizer que não é pesquisador. No máximo aceita a adjetivação de animador cultural. Ou melhor, agitador cultural. E que agitador! Ao longo de mais de 30 de seus bem vividos, amados e poetados 53 anos - completados no último dia 28 de março - Hermínio tem dado a maior contribuição a garimpagem da música popular. Sua biografia - rica de uma vivência poética e musical, desde a infância, passando pelos tempos do movimento Menestrel, desembocando no Rosa de Ouro e chegando a inúmeros projetos que, com tanta competência desenvolve há um década na divisão de Música Popular da Funarte e credenciam como uma das personalidades mais importantes de nossa vida cultural. Dezenas de discos e espetáculos musicais da melhor qualidade produzidos a partir dos anos 60, valorizando sempre os talentos mais importantes e , imerecidamente esquecidas, HBC é tema para muitos enfoques, ele que está sempre disposto a novas iniciativas. Como se não bastasse ser o poeta maravilhoso, cuja sensibilidade poetou parceiros da dimensão de Pixinguinha, Cartola, Jacob do Bandolim e até João Pernambuco, Hermínio também tem uma prosa deliciosa. Textos que se espraiam como uma conversa informal, de mesa-de-bar, ele que sempre soube ver (e entender) a cultura do botequim, dedicando, inclusive, um verdadeiro hino ao papo e a cerveja, em parceria com seu compadre e irmão espiritual Maurício Tapajós ("Mudando de Conversa", aliás um de seus maiores sucessos). Os textos de Hermínio se espalhavam - e quase se perdiam - em gavetas de seu apartamento ecológico na Rua Bartolomeu Portela, no Flamengo. Conferências, textos de programas, contracapas, anotações diversas. Assim, só com muita insistência, há quase três anos concordou em reuni-los num volume referencial para todos que tem algum interesse em conhecer estórias ligadas a nossa cultura popular - pois embora centrado basicamente na música, seu raio de interesse ilumina tudo que diga respeito as coisas que vem do povo. No ano passado, envolvido também nas comemorações do centenário de nascimento de Heitor Villa-Lobos (uma de suas maiores admirações), animou-se a reunir outros textos mostrando um aspecto importantíssimo em relação ao autor de "As Bachianas": sua relação com a MPB. O resultado é um volume magnífico. "O Canto do Pajé" (Editora Espaço e Tempo, 190 páginas, Cz$ 700,00), cujo lançamento não poderia ficar sem uma comemoração especial. Assim, em mais uma doação de afetividade, Hermínio interrompeu sua agenda de múltiplos compromissos para rever amigos - ele que os tem em profusão, Brasil (e mundo) afora - em São Paulo, Belo Horizonte - na semana passada - e agora em Curitiba (auditório Salvador de Ferrante do Teatro Guaíra, dia 25, segunda-feira, a partir das 20 horas). Hermínio vai autografar o seu livro mas não fica nisto o evento. Duas das mais belas vozes do Brasil - Zezé Gonzaga (considerada "a cantora dos músicos pela sua afinação) e a soprano Olga Praguer Coelho, acompanhadas ao violão por Marcos Farina, estarão interpretando não só peças de Villa-Lobos (letradas por poetas como Manuel Bandeira, Dora Vasconcelos, Ruth Valladares Correa e o próprio Hermínio), mas outros momentos da maior ternura sonora, como "Azulão" (Jayme Ovalle/Manuel Bandeira) e "Linda Flor" (Henrique Vogeler/Luiz Peixoto/Marques Porto") - só para citar dois exemplos. Ah! Tem mais. Sempre preocupado na integração artística, Hermínio fez questão que do espetáculo, em sua introdução, participasse também um jovem violonista curitibano, Gio Amaral. LEGENDA FOTO - No lançamento de "O Canto do pajé", o autor Hermínio Bello de Carvalho e personalidades musicais. Segunda-feira, HBC estará autografando seu livro no hall do Teatro Guaíra.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
22/04/1988

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