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Hermínio e os seus três novos livros

Poeta, letrista, produtor de discos e shows antológicos, idealizador de grandes projetos voltados a preservar e difundir a cultura brasileira (Seis e Meia, Pixinguinha, Ary Barroso, Projeto Lúcio Rangel de Monografias etc.), Hermínio Bello de Carvalho após a publicação de dois livros enfeixando textos avulsos que constituem uma espécie de panorâmica de sua vida cultural, tem um projeto maior: um romance, "a primeira tentativa que farei no gênero". Em "Mudando de Conversa", publicado há 2 anos, reuniu vários textos ligados especificamente à MPB. Agora, em "O Canto do Pajé" (lançamento amanhã, 20 horas, do hall do auditório Salvador de Ferrante do Teatro Guaíra), estão vários artigos, anotações e sínteses de conferências relacionadas a mostrar as ligações de Heitor Villa-Lobos (1887-1959) e a música popular brasileira. Afinal, Villa-Lobos, ao lado de sua obra dita clássica, foi, antes de tudo, um apaixonado pela cultura popular e devesse a sua amizade com Leopoldo Stokovski o fato de em 1940, um grupo de instrumentistas, compositores e cantores (entre os quais Cartola, Pixinguinha e Donga) terem gravado, a bordo do navio Uruguay, 40 canções que, posteriormente, foram editadas nos EUA, pela CBS e que só em novembro/87, finalmente, foram aqui lançadas no elepê mais importante do ano passado (edição do Museu Villa-Lobos/Pró-Memória). Sobre o projeto de seu romance, Hermínio não antecipa muita coisa. Limita-se a dizer que são apenas dois personagens com o mesmo nome, monitorados por um narrador desvairadamente sensual que erotiza a relação dos dois ex-amantes que prometem se rever após 30 anos de separação. - "Antônio & Antônio" está por enquanto ensimesmado numa gaveta, de personagens perscrutando e me espreitando de soslaio". Há também um outro livro em projeto: "Cartas ao Poder". - "Essas estão sendo selecionadas entre as muitas que escrevi compulsivamente na imprensa ou que fazem parte do meu arquivo. É que sou um epistológrafo incorrigível que esperneia diante de qualquer iniquidade. Elas contém minhas indignações contra o arbítrio, a desfaçatez camuflada, a incompetência prepotente acasalada com a má fé. São, enfim, manifestos contra qualquer poder mal exercido. São as direitas travestidas de esquerda e vice-versa, é a cultura manipulada por cabeças inábeis, tentando a cooptação do artista enquanto esvazia seus espaços". Herminio, mesmo sendo um executivo na área oficial - é há 10 anos o responsável pelo setor de música popular da FUNARTE - tem mantido uma admirável independência, o que o faz um crítico respeitado. Explica: - "A minha passagem pela área cultural me fez testemunha privilegiada de ascensões por caminhos políticos os mais purulentos e ardis, os mais condenáveis; me fez espectador de encenações as mais grotescas, com os personagens utilizando verdadeiras gazuas para se encastelarem no poder, o mais mínimo dos mínimos, mas que lhes permitam o orgasmo de trocar a lapela do paletó de um ministro, de entrar num carro chapa branca ou de refestelar-se numa poltrona com o dedo em riste, ordenando um café, ainda que intragável, a um contínuo constantemente vergastado por um berro ameaçador". Finalmente, há um terceiro livro em projeto: "Divinas Damas". Será "o exercício literário de idólatra que confessadamente sempre fui", narrando seus encontros que povoam seu universo de poeta: Aracy de Almeida, Ingrid Bergman, Elizeth Cardoso, Marlene, Nellie Lutcher, Eneida, Sarah Vaughan, Ava Gardner, Elis Regina e tantas outras mulheres que tão bem pode conhecer nesta sua vida de poesia e amor.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
24/04/1988

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