Login do usuário

Aramis

Histórias de Darcy Ribeiro

Incrível este Sr. Darcy Ribeiro! Vice-governador do Rio de Janeiro, acumulando meia dúzia de cargos, candidato a sucessão do Sr. Brizola, ainda encontra tempo de escrever. E como escreve! Há alguns meses, pela Editora Guanabara, lançou o delicioso "Aos Trancos e Barrancos - Como Brasil deu no que deu", deliciosa cronologia do Brasil de 1900 a 1980. Ano a ano, recorrendo basicamente a uma biblioteca notável - mas com muito bom humor - Darcy reconstituiu uma história "não oficial" do Brasil, com textos curtos, objetivos. Claro que há alguns enganos. Pequenas falhas de nomes ou informações mas que, em absoluto, prejudicam o valor deste livro delicioso. E Darcy Ribeiro não pára: dentro de alguns dias a mesma editora Guanabara deve lançar seu novo trabalho - "América Latina: a Pátria Grande", igualmente recheada de sutis críticas bem-humoradas - como se pode observar pelo capítulo que "Ele & Ela" (abril/86, Cz$ 25,00) antecipou aos leitores. xxx Aos 64 anos, mineiro de Montes Claros, antropólogo sem formação oficial, ministro da Educação e chefe da Casa Civil no governo Goulart, exilado por mais de 10 anos, autor de três romances ("Maíra", "O Mulo" e "A Utopia Selvagem") e estudos antropológicos como "O Processo Civilizatório", Darcy Ribeiro assim explicou seu "Aos Trancos e Barrancos": - "Acho que ninguém sabe (principalmente os jovens) o que aconteceu a este país nos últimos 80 anos. A idéia do livro é tentar explicar por que o Brasil não deu certo. Não deu no que deu por acaso. É porque, por exemplo, o Sr. Rui Barbosa era um liberal-reacionário, e era o modelo, o padrão de personalidade do país. A intelectualidade brasileira na relação quantidade-qualidade é muito fútil. Ela não está comprometida com o seu país, não é pensamento crítico do Brasil". Darcy Ribeiro não pretendeu fazer um livro de tese. Diz que começou ocasionalmente a escrevê-lo, juntando dados sobre o século XX. Era a tentativa de elaborar um série de flashes factuais ano por ano. Para cada ano deu um nome: Ano do Mosquito, do Avião, de Rondon, de Brasília etc. E em cada ano colocou 50, 60 fatos desde o samba que mais se cantou, o filme realizado, quem ganhou o carnaval, o livro que se publicou, o que aconteceu na política, etc. "O país é isso porque decisões malandras foram tomadas. Há uma classe dominante infecunda mancomunada para manter esse país atado ao atraso". "Aos Trancos e Barrancos" (262 páginas, preço de lançamento - Cz$ 84,00) é, portanto, uma reconstituição política de nossa vida cívica e cultural que se lê com gosto. Atravessa-se esses 80 anos de nossas vivências como quem degusta um romance saboroso ou folheia uma boa revista com interesse crescente, rindo das caricaturas, ótimas (a concepção visual do livro, com seleção das ilustrações, de Fortuna, é excelente) e mais ainda das tiradas do autor. Mas também aprendendo a ser brasileiro de forma mais crítica e mais ativa. xxx Quem não deseja emagrecer? Ou ao menos não engordar? Por isto é que tantos best-sellers sobre dietas mágicas são publicados. Agora, uma novidade: "A Dieta Japonesa" (212 páginas, Cz$ 64,90, Editora Record). Afinal, a expectativa de vida no Japão é mais longa que em outros países e isto se deve, em parte, a hábitos alimentares que excluem quase inteiramente a gordura, o colesterol e o açúcar. Tais hábitos, além de tornarem irrelevantes o risco de doenças cardíacas e outras enfermidades da vida moderna, trazem outra vantagem tão importante quanto charmosa: ajudam a emagrecer. Sopa de miso, salada de daikon, fatias em pepino em sushi, titiyaki de salmão são algumas das iguarias desta "Dieta Japonesa" que, segundo seus autores, o nutricionista Ioko Takahashi e o gourmete Bruce Cassiday, garante a perda segura e permanente de sete quilos em 30 dias. Números à parte, parece não haver dúvida sobre um aspecto positivo da dieta, desenvolvida de acordo com a milenar tradição culinária japonesa - os pratos são tão deliciosos que fazem esquecer os sacrifícios em geral impostos pelos regimes comuns de emagrecimento. xxx Há 30 anos, num simpósio intitulado "Os Livros mais neglicenciados dos últimos 25 anos", "Call It Sleep" de Henry Roth, foi incluído como obra-prima pouco reconhecida. Foi reeditado em 1960 (a primeira edição é de 1937, época da depressão) e desde então já teve 20 outras edições. Agora, em tradução de José Sanza e com o título de "Um Fio de Esperança" (não confundir com o livro de Ernest G. Kahn, que inspirou em 1954 o filme "The Might And The Power", de William Wellman - que no Brasil se chamou "Um Fio de Esperança"), este romance está agora ao alcance dos leitores brasileiros. É a história de um imigrante judeu, David Schearl, que no início do século, subindo dos porões nauseabundos, infestado de ratos, por escadas escuras, para chegar à liberdade arejada dos telhados de Nova York, olha o seu mundo. Através de seus olhos vemos tanto o feio como o belo. Os terrores da pobreza, os conflitos sexuais de seus pais, sua própria iniciação sexual por uma mocinha aleijada, a violência das "gangs" de rua - cenas descritas por um autor de poderosa linguagem que levaram Walter Allen a considerar o livro de Henry Roth como "Uma das grandes realizações das letras norte-americanas neste século". xxx Obras específicas, com público crescente: a Francisco Alves edita "Tratamento de Adolescentes Psicóticos" de Eduardo Kalina e "Estruturas e Abordagens em Psicoterapias" de Hector Juan Fironi. Kalina, psicanalista argentino, 49 anos, em seu livro aborda o trabalho com jovens, rejeitados pela sociedade, que de emoção só conhecem a raiva e que utilizam sexo e a droga para preencher os seus vazios afetivos. Já na coleção Novas Buscas em Psicoterapia, da Summus, temos "Resignificando - Programação Neurolinguística e a Transformação do Significado" de Richard Brandler e John Grinder (232 páginas, Cz$ 104,00). Resignificar, palavra criada para o texto e o título desta edição brasileira dos autores de "Sapos em Príncipes", exprime um processo criativo que aparece já nos contos de fadas. Se mudamos a "moldura" na qual uma pessoa percebe os eventos, muda seu significado. Mudando o significado, mudam as respostas e os comportamentos das pessoas. Resignar é, assim, explicam os autores, colocar um evento qualquer, até um lugar-comum, num novo enfoque, tornando-o "diferente", talvez até ridículo. Os resultados desta modalidade terapêutica são palpáveis e os autores relatam muitos casos, que vão de incompatibilidades pessoais, problemas profissionais, até aspectos físicos - obesidade, por exemplo.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Leitura
8
04/05/1986

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br