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Aramis

"Hitler", uma biografia com atualidade política.

Mais do que um filme, uma aula de política. Assim pode ser visto "Hitler - uma carreira. Uma carreira?" (Cinema 1, segunda semana, as 15, 20 e 22 horas), documentário que, para surpresa geral, conseguiu atrair um grande público nos primeiros dias de exibição. Entende-se que numa época de efervescência política, com os partidos discutindo a fórmula de enfrentar o pacote de Novembro, casuísmos e ações oficiais que provocam muita polêmica, não deixa de ser válido (re)ver um exemplo de autoritarismo político que, ha menos de 50 anos passados, descambou na mais cruel ditadura de todos os tempos, levando o mundo a uma hecatombe. A personalidade neurótica de Adolf Hitler (Brumau, Áustria, 1889 Berlim, 1945?) já mereceu inúmeras biografias e estudos, o que somado ao material filmado da ascensão (e queda) do III Reich, possibilitou que documentários dos mais diversos tenham sido realizados. No caso deste documentário realizado por Joachim C. Fest (Berlim, 1926), autor de um imenso livro a respeito do Ruhrer (editado no Brasil, há 3 anos, pela Nova Fronteira) em colaboração com Christian Herrendoerfer, conhecido pelo seu trabalho na televisão alemã, o que o difere dos inúmeros outros que trataram do mesmo assunto é sua concentração sobre Hitler. Ele é iluminado de um modo não preconceituoso e até compreensivo - razão da polêmica que o filme causou na Europa. Aparentemente a maior parte da metragem sobre Hitler aqui apresentada nunca foi amplamente exibida. Entretanto, jamais foi divulgada tão intensamente. O rosto em close-ups, as caretas após terminar uma sentença, o fanatismo, os orgasmos mímicos no auge de seu poder e a visível decadência lá pelos anos 44/45, tudo documentado neste filme. Como observou um crítico da "Variety", o desenvolvimento da linguagem corporal e oral de Hitler, desde certa falta de jeito inicial até ao comportamento imperial de seus dias de apogeu é visto em quadros minuciosamente estudados e ilustrados com o lúcido e desapaixonado comentário de Jachim C. Fest, que complementa e completa as imagens da tela. É preciso, historicamente correto, mas leve e fácil de compreender. Jamais o comentário se torna superficial, ingênuo e sensacionalist. No todo, este frio e imparcial processamento de um não muito distante, incrível e fantasmagórico segmento da história representa um esforço intenso e atinge muito mais profundamente do que poderia ser conseguido por uma versão diretamente acusadora e carregada de emoção. xxx O que impressiona, sobretudo, ao assistir "Hitler, uma biografia. Uma biografia?" é um terrível sentido de atualidade em termos dos problemas de deram condições a que o nazismo tenha chegado ao poder na Alemanha dos anos 30. A inflação, a desordem, a crise do poder, o medo ao comunismo, foram condicionantes que, há 50 anos, possibilitaram que uma minoria radical conduzisse um dos povos ais cultos da história a um movimento de massa totalmente irracional, mergulhando o mundo numa guerra mundial. Neste meio século que se passou, problemas semelhantes continuam a existir, em muitos países - inclusive no nosso, o que faz com que todo e qualquer documentário que se mostre, colocando os perigos do radicalismo político, tornam-se sinais de alertas a quem ama e defende a real democracia. Como acentua Joachim Fest em certa altura de seu filme, Hitler utilizou a democracia para chegar ao poder. Assim, no momento em que uma abertura, ainda restrita mas já importante, possibilita que voltemos [à] prática do exercício democrático, com as próximas eleições, é salutar se rever os riscos do radicalismo e ao que ele pode conduzir. Se todos os homens públicos e políticos - como o secretário Luis Roberto Soares, de Cultura e Esportes - devorador de livros e um dos parlamentares de maior bagagem intelectual do Estado, que se entusiasmou com o filme, na sessão de sábado último, fossem assistir a "Hitler", por certo, os (felizmente raros) radicais da direita que, vez por outra, colocam suas manguinhas de foram, teriam a resposta que merecem, "Hitler" é uma lição de democracia por alertar sobre os riscos [do] radicalismo da Direita. LEGENDA FOTO: Hitler: uma biografia indispensável de ser vista.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
6
08/12/1981

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