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Aramis

A hora e a vez das crianças

Se há um setor fonográfico que merece a nossa máxima acolhida é o da produção de discos destinadas as crianças. Pois não há necessidade maior para formar novas gerações de consumidores de boa música, bom tempo, bom cinema, enfim a boa arte, do que começar a interessar, desde a mais tenra idade as crianças. Infelizmente, ao menos no campo fonográfico são poucas as vezes que os produtores lembram-se deste imenso mercado e sempre que isto acontece as gravações tornam-se sucessos. Na já longa historia de produção de discos especialmente para o público infantil dois nomes merecem destaque: Paulo Tapajós, 60 anos compositor, cantor ( o melhor interprete de modinhas no Brasil, 2 lps gravados na Sinter, reeditados na série d "no tempo dos bons tempos") criador da etiqueta Carroussell, na qual produziu algumas dezenas de importantíssimos discos de histórias infantis e João de Barro (Carlos Alberto Ferreira Braga, 67 anos) responsável durante anos pelo Diquinho. Outros produtores, justiça se faça, também se interessaram pela realização de discos infantis, mas motivos diversos levantaram a desistir do setor, e entre eles lembre-se Fernando Lobo que na Philips, há 8 anos fez o bonito lp "O menino e o trem". Decidida a cobrir vários setores esquecidos pelas grandes gravadoras, a Companhia Industrial dos Discos graças a visão de Harry Zuckermann, está se voltando para o setor infantil. O pianista e o compositor Durval Ferreira, nome respeitável da Bossa Nova, hoje dedicando-se exclusivamente a direção artística da CID, já lançou mais de uma dezena de compactos duplos na série Carroussell, cujos direitos foram adquiridos por Zuckermann e agora, pela mesma etiqueta, é feita uma experiência bem mais (saudavelmente) audaciosa: a gravação de "Pluft, o fantasminha", de Maria Clara Machado (Carroussel/CID 10012, novembro/74)sem dúvida a mais conhecida e montada peça infantil no Brasil. Como escreveu o critico Macksen Luiz (JB, 26/10/74) num pais onde a dramaturgia não possui tradição cultural "Pluft, o fantasminha" por de ser considerado um clássico do teatro brasileiro. Representada até mesma por índios, "Pluft" é uma peça na qual as crianças reconhecem um fantasma cheio de humanidade e que ao sentir medo de gente se aproxima poeticamente do universo infantil. No sótão onde vive em companhia de sua mãe e do sonolento tio Gerúndio, Pluft inverte uma relação tradicional mostrando que um fantasma (como qualquer pessoa) pode sentir medo". Maria Clara Machado escreveu a peça em 1954, em sua forma atual, ainda que houvesse um esboço anterior para uma versão com bonecos. A estréia nacional foi no Tablado por todas as razões sua casa, em 1955. Cinco anos mais tarde, quando Michel Simon fez uma tradução para o francês, a peça foi levada na Casa do Brasil na França. Aqui, mesmo no Brasil já foi montada por centenas de grupos pelo Interior, além de ter sido levada ao cinema por Romain Lesage e de ter sido transformado em conto e publicada em livro ilustrada por Ana Leticia. Remontada em 1964, "Pluft" voltou ao palco do tablado em outubro último em decorrência da proposta da CID em gravar um disco com "Pluft". Maria Clara ensaiou o disco, gravou e ficou tão entusiasmado com o trabalho, que partiu para uma nova encenação, com cenários do nosso Juarez Machado, que havido criado a bela capa do disco. Tanto a nova montagem de "Pluft" como o disco narrado por Maria Clara e com os diversos personagens nas vozes dos artistas do Tablado foram grandes acontecimentos de 74. E o disco está aí, para todos os papais comprarem para que seus filhos comecem a aprender a gostar de nosso melhor teatro infantil.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Jornal do Espetáculo
10
17/01/1975

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