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Aramis

Houve uma vez um verão

O general inverno, que em 1812 derrotou Napoleão e 129 anos depois tornaria a derrubar outro invasor - Hitler - na tentativa de conquistar a Rússia, este ano, pela ausência, está derrotando dezenas de comerciantes curitibanos. Dos poderosos proprietários de cadeias de magazins aos pequenos lojistas, todos estão numa mesma trincheira de desespero e de liquidação: nunca houve um inverno tão quente como o deste ano da graça de 1977, em que, em 28º dia do mês de julho, até agora não houve necessidade de ninguém procurar os casacos de couro, os sobretudos, as mantas, as peles, as malhas e as luvas. Ao contrário, em plenas enluaradas noites de julho, é possível sair às ruas com camisas esportes - no máximo com a proteção de leves malhas. xxx Para uma Capital em que, há 2 anos, na manhã de 17 de julho, amanheceu com uma paisagem européia - recoberta de neve, que cairia novamente às 10 horas da manhã, sem dúvida, um inverno tão leve, pode alegrar a população, mas está entristecendo os empresários do setor de roupas. As compras de roupas, cobertores, luvas etc. Foram feitas entre fevereiro/abril, as duplicadas emitidas mas as vendas têm sido na faixa de 20% em relação aos anos anteriores. Ao mesmo tempo que os primeiros compromissos bancários começam a vencer - enquanto as prateleiras das lojas continuam entupidas de estoques, surge uma nova preocupação: se a temperatura cair a partir de agora, o que é também improvável, segundo os meteorologistas - o inverno poderá estender-se, então, até novembro/dezembro, prejudicando a temporada de verão, para 1977/78, [comercialmente] falando. xxx Somente uma organização de Curitiba comprou Cr$ 5 milhões de mantas e cobertores. Mais grave ainda é a situação das que investiram na moda feminina para "o inverno de 1977", oscilando mais do que folha de palmeira, os modismos para as elegantes comprometerão, sem dúvida, as criações deste ano, tornando-as superadas para o próximo ano (ao contrário das luvas, ceroulas, camisetas, etc., que, [tranqüilamente], poderão ser guardadas para o inverno/78). Mineiramente, os comerciantes, já asfixiados pelo incômodo calor que lhes tira o tilintar das moedas em suas máquinas registradoras, estão diminuindo as compras para os próximos meses. Um experiente empresário do setor, analisando a situação dizia ontem: "Forma-se um ciclo vicioso: não se vende, não se compra / o comércio perde e as fábricas deixam de produzir". Enfim, as [conseqüências] são bem maiores do que se pode imaginar. xxx As [liqüidações], que normalmente só ocorreriam no final de agosto, foram antecipadas em 60 dias, mas, até agora, sem maiores resultados, apesar dos preços atraentes oferecidos. E nunca os comerciantes quiseram tanto o clima glacial em Curitiba, com as geadas, (talvez até aquela histórica nevada!), o ventinho tão característico de nossa cidade - com a [gripe] que o acompanha. Afinal, se a população não tiritar de frio, os comerciantes tiritarão por outra razão: sem vendas, não há lucros e sem lucro a situação fica preta. E assim, nada mais belo do que uma nevada. Ou, no mínimo, uma geadazinha.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
4
28/07/1977

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