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Aramis

Imagem traz os clássicos que os húngaros produzem

Mesmo competindo com padrões de exigências cada vez maiores da refinada faixa de público que coleciona música erudita - e que em sua maioria, dispondo de amplos recursos, prefere edições em CDs, de primeiríssima qualidade - algumas gravadoras ainda mantém lançamentos convencionais - embora, em muitos casos, façam edições simultâneas em CDs e, nos últimos tempos também em fitas de cromo (área na qual a Polygram foi a pioneira). Numa coincidência de sua programação de lançamentos de produções da Deutsche Grammophon no Brasil, Leo Barros, diretor da área internacional da Polygram, havia programado dois novos álbuns da Berliner Philharmoniker, regida por Herbert von Karajan, que saíram poucos dias após a sua morte, aos 81 anos, em 16 de julho último. O mais famoso maestro contemporâneo, mesmo gravemente doente, vinha supervisionando regravações do imenso repertório da Filarmônica de Berlim, da qual foi o poderoso regente por 35 anos, quando sucedeu a Wilhelm Furtwangier (1886-1954). Até, agora, passados três meses de sua morte, ainda não foi sacramentado o substituto oficial de von Karajan na mais famosa orquestra alemã - e uma das melhores do mundo, embora candidatos não faltem. Assim como não faltam suas gravações nos suplementos da Deutsche Grammophon, como estes dois álbuns, nos quais estão as sinfonias nº 29 e 39 (registradas em fevereiro e setembro de 1987, respectivamente), ao lado de duas outras obras de Mozart: o divertimento em Ré maior e a chamada "Serenata Noturna", também com registros em épocas diversas: setembro de 1983 e abril de 1987, respectivamente. Como há muito, devido a saúde debilitada de Karajan o obrigava a afastamentos prolongados da Filarmônica de Berlim, existem dezenas de outras gravações sob regências de outros maestros. É o caso, do álbum incluído por Maurício Quadrio, diretor de projetos especiais da CBS, na série Masterworks, com Daniel Barenboim, hoje no vigor de seus 47 anos, regendo a Filarmônica com as Sinfonias nº 3 e 5 de Franz Schubert (1797-1828). O Clássico dos húngaros Há vinte anos exatamente que o bravo Jonas Silva merece nossa admiração pelo esforço que faz através de sua pequena e independente etiqueta - Imagem/Musisom - em colocar ao alcance dos colecionadores brasileiros, excelentes gravações de jazz e clássicos. Não possuindo os tentáculos que fazem as multinacionais disporem de imensos catálogos, Jonas é uma espécie de guerrilheiro cultural que busca pequenas etiquetas nos Estados Unidos e Europa, capazes de lhe confiarem os direitos de edições sem grandes exigências. Se, por compreensíveis razões de ordem financeira, suas produções nem sempre tem a qualidade industrial desejável - e mesmo a continuidade que seria de se esperar valem pela dedicação e esforço em colocar ao alcance de nosso mercado, tão reduzido em opções internacionais, gravações que, de outra forma, aqui jamais chegariam. Recentemente, Jonas conseguiu os direitos para o Brasil da etiqueta estatal da Hungria - a Hungarotom, que dispõe de um excelente catálogo, com orquestras, pequenos conjuntos e solistas, naturalmente desconhecidos no Brasil. Para os especialistas que já conhecem basicamente tudo o que há em termos de música na Europa Ocidental, a chegada de gravações húngaras pode trazer interessantes revelações e uma vantagem especial: tratando-se de produções em edições convencionais chegam a preços bastante razoáveis. Num primeiro pacote, temos um belo álbum com o violoncelista Lazzlo Polgar executando peças de Johan Sebastian Bach ("Cantatas nº 82 e 86"), acompanhado pelo coral da Capella Savaria, mais orquestra de câmara. Uma obra húngara das mais interessantes é a "Ludus Danielis" (A Representação de Daniel), cantada em latim pela Schola Hungarica, um grupo coral que tem como maestro Lazlo Dobskay e destaca neste registro a percussão de Gabor Kosa. Com direção de Janka Szendrei, esta obra interessantíssima tem uma tradição milenar, conforme é exposto em longo texto do musicólogo Benjamin Rajeczky, traduzido pelo especialista Carlos Gonzales. Outra obra com base religiosa é a "Missa Choralis" de Liszt Ferenc, em interpretação de um coral e conjunto de jovens, regidos por Kalman Straus e destacando em solos o organista Zsuzsa Elekes e o pianista Istvan Elekes. Já uma das Missas de Beethoven, em gravação da Orquestra Estatal de Budapeste o coral oficial do Estado, regidos por Miklos Erdelyi e Matyas Antal, respectivamente, constituem outra produção interessantíssima para quem deseje conhecer registros por intérpretes de países do Leste Europeu. xxx Dentro das edições da Imagem, mais um destaque: o duo formado pelo violoncelista Mstislav Rostropovich, 62 anos e o pianista Sviatoslav Richter, 75 anos. Reconhecido como um dos maiores violoncelistas do mundo, Rostropovich já esteve algumas vezes no Brasil, com sua esposa, a extraordinária soprano Galina Vischvenvskaya, 63 anos. O casal abandonou a União Soviética em 1975 e Rostropovich tornou-se regente da Sinfônica Nacional de Washington em 1977. Já o pianista Sviatoslav Richter ganhou o prêmio Stalin há 40 anos e é considerado um dos mais brilhantes concertistas russos, sendo especialmente aplaudido por suas interpretações de Beethoven, Schubert, Schuman e Prokofiev. Chegou a formar um famoso trio com Leonid Kogan (1924-1982), extraordinário violonista e Rostropovich. Infelizmente, não há data da gravação do encontro de Richter e Rostropovich no qual executam a sonata em Mi para cello e piano de Brahms e uma outra sonata, para a mesma formação, de Grieg.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
24
01/10/1989

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