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Aramis

Imagens da época das "big bands"

"Música e Lágrimas" resiste a uma revisão? Eis uma questão que se formula não só frente a este filme, mas a tantas outras obras que, há 30 ou 40 anos, entusiasmaram o público e a crítica e que hoje mostram sinais de envelhecimento. No caso de "The Glenn Miller Story", o filme resiste na proporção em que seja visto pelo público interessado em sua música. Produção simpática, com o roteiro de Valentine Davies glamorizando a sua vida e buscando mesmo toques de humor, o filme foi "supervisionado" pela viúva Helen Miller, (interpretação esforçada de June Allyson, na época com 31 anos), que, obviamente não concordaria com nada que mostrasse qualquer aspecto polêmico da personalidade de Miller. Aliás, em recente indiscrição, um dos (poucos) sobreviventes de sua banda original, confidenciou que era a própria Helen que dirigia, com mão de ferro, a orquestra, rigorosa no trato com os músicos. E o amor de Glenn e Helen, tão mitificado, não resistiu a separação provocada pela decisão do maestro em ingressar no Exército e dirigir uma orquestra para animar os soldados no front de batalha na Europa. Tanto é que, a pressa que fez com que embarcasse num vôo para Paris - e cujo avião desapareceria sobre o Canal da Mancha - tinha uma feminina razão: na Cidade Luz, o aguardava uma bela francesa, com quem mantinha inflamado caso amoroso. Fofocas a parte, o que "Música e Lágrimas" mostra é a trajetória de Glenn Alton Miller, nascido em Clarinda, uma pequena cidade no Sudoeste de Iowa (1/3/1904), no mundo musical americano, numa época em que as big bands cruzavam os Estados Unidos, com sons dos mais marcantes. Miller teve fases de grandes problemas na tentativa de formar sua orquestra, acumulou prejuízos mas, enfim, encontrou um caminho que o fez popular e rico. Trabalhando com elemmentos reais - e inclusive a participação de muitos dos que conviveram com o maestro (que, na época da produção do filme, ainda viviam), Anthony Mann realizou, no mínimo, um filme simpático. A trilha sonora, supervisionada por Hernry Mancini (então, um anônimo maestro-arranjador dos estúdios da Universal), é perfeita - e não foi sem razão que, há pouco, a WEA lançou um álbum com a sua gravação em estéreo, tal como se ouve no filme). Como lucidamente acentuou o crítico Rubens Ewald Filho, a música é perfeita no lugar certo. Assim há o momento de rir, de chorar (com a utilização da canção "Little Brown Jug"), de demonstrar patriotismo (a música tocada sob o ataque aéreo). Há, principalmente, a coleção das canções belíssimas, inesquecíveis, como "Tuedo Junction", "Little Brow Jug", "St. Louis Blues", "In the Mood", "String of Pearls", "Pensylvania 6-500" e "American Patrol", sem falar na indispensável "Moonlight Serenade". "Música e Lágrimas" é o tipo do filme que, se editado em vídeo, seria adquirido por todos aqueles que curtem a música americana dos anos 30/40. Por exemplo, só a sequência em que aparecem Louis Armstrong (1900-1971), o baterista Gene Krupa (1909-1975), e Ben Polack (1903-1973) é antológica, fazendo com que o filme mereça, inclusive, revisões por estes momentos do melhor jazz. James Stewart, na época das filmegens com 44 anos, compõe bem o personagem-título: aproveita sua capacidade histriônica, dá os enlevos românticos ao personagem e, bom ator, cria a imagem do múscico (naturalmente dublado por um profissional). June Alyson era (há muitos anos já se aposentou) uma atriz extremamente simpática - sem ser bonita, sardenta, idealizava, entretanto, a americana típica, leal, honesta e decidida companheira. Charles Drake, Henry Morgan e George Tobias fazem personagens de composição. O filme também oferece a oportunidade de se ver (e ouvir) a cantora Frances Langford, vocalista que chegou a ter grande sucesso nos anos 40/50, mas hoje está esquecida. Também participações especiais dos grupos The Modernaires e dos The Archie Savage Dancers. Enfim, "Música e Lágrimas" é um mergulho no túnel do tempo. Nostálgico, tocante e emocionante - tão sentimental quanto "Moonlight Serenade" que, passando o tempo que for, sempre embalará sonhos & ilusões.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
13
05/02/1987

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