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Aramis

Influência brasileira no jazz de David e Ritenour

Às vésperas de seu 53º aniversário - no próximo dia 26 de junho, Dave Grusin, americano de Denver, Colorado, é um dos compositores e pianistas mais jovens em sua extraordinária criatividade. Coincidentemente com o seu próximo aniversário, Grusin chega ao Brasil com um verdadeiro festival fonográfico, dentro do pacote que inaugurou a representação de sua etiqueta - a GRP (associado ao engenheiro de som e produtor Larry Rosen), que a CBS passou a aqui editar, numa injeção para o que há de melhor no jazz contemporâneo. Além de um álbum solo ("Once of a Kind"), os teclados de Grusin se ouvem, marcadamente, em três outros álbuns deste suplemento inaugural: o álbum coletivo "GRP Live - In Session" (aqui comentado na semana passada) e nos discos de Gerry Mulligan ("Little Big Hord") e Lee Ritenour ("Rio"). Para as próximas semanas, na segunda fornada da GRP-CBS, deve chegar o "Dave Grusin and The NY-LA Dream Band", onde lidera uma espetacular banda de 40 figuras e solistas do quilate de Lee Ritenour, Eric Gale e Steve Gadd, dentre outros (um disco que, como diz Francisco o chefe de promoção da CBS, "prova que as big-bands não morreram: transfiguram-se"). O COMPOSITOR DAVE Quem acompanha a melhor música para o cinema, já conhece e admira Dave Grusin, por suas esplêndidas trilhas sonoras, dos filmes "Os Três Dias do Condor" ("Three Days of the Condor", 75, de Sidney Pollack), "Willie Boy" ("Tell Them Willie Boy Is Here", 69, de Abraham Polonsky), "Por Que Tem Que Ser Assim" ("The Heart Is A Lonely Hunter", 68, de Roberto Ellis Miller), entre outros - além de arranjador para trilhas de outros autores - como fez, há 20 anos, para "A Primeira Noite de Um Homem" ("The Graduate", 67, de Mike Nichols), com músicas da (então) dupla Simon & Garfunkel. Também séries de televisões ("Trial of Chaplain Jenson", "Good Times", "Maude", "Dan August", "Bold Ones", "The Name of the Game", etc). tem recebido o talento musical de Grusin, que durante algum tempo, no início dos anos 60, trabalhou com outro mestre de músicas para imagens, Quincy Jones. Durante os anos em que foi marido da cantora Ruth Price (desconhecida no Brasil) a acompanhou em clubes e gravações e, posteriormente, desenvolveu trabalhos com a cantora Peggy Lee, Tom Scott, Jerry Mulligan, Sarah Vaughan, Carmem MacRea, Aretha Franklim, Robert Flack, entre outros. Marcante também foi sua associação, durante algum tempo, com Sérgio Mendes & Brasil 68 - o que é demonstrado claramente ao menos numa faixa deste seu "One of a Kind": a gravação de "Catavento" (Milton Nascimento), com um arranjo para 4:04', extraordinariamente moderno e envolvente. De E.Granados é "Playera", outro momento de latinidade, enquanto do próprio Grusin temos os três "Montage" (9:20'), "Modaji" (7:42) e a envolvente "The Heart Is A Lonely Hunter", parceria que fez com a cantora Peggy Lee, com a trilha do filme que Robert Ellis Miller realizou com base no magnífico romance de Carson McCullers (1917-1967), publicado em 1940. Só esta faixa, pela ternura e criatividade - tão grande quanto os personagens daquela história - recomenda este álbum moderníssimo, com Grusin trabalhando com músicos excelentes como os saxofonistas Grover Washington Jr., o percussionista Ralph MacDonald, o baixista acústico Ron Carter, ao lado de outros menos conhecidos, mas igualmente fascinantes como Steve Gadd (bateria), Dave Valentim (flauta), Francisco Centeno (baixo elétrico) e até o produtor e engenheiro de som, Larry Rosen, no triângulo. Se no álbum de Dave Grusin, a influência brasileira está na faixa "Catavento", já o guitarrista Lee (Mack) Ritenour (Hollywood, califórnia, 1/11/1952) tem uma identificação muito grande com a nossa música, advinda inicialmente do período em que trabalhou com Sérgio Mendes & o Brasil 77, e consolidada nas inúmeras temporadas que tem passado no Rio de Janeiro, onde, inclusive gravou a maior parte deste disco. Guitarrista da nova geração, da chamada Costa Oeste, tendo trabalhado inicialmente com Joe Pass, Howard Roberts e Duke Miller, executando guitarra desde os 12 anos, Lee formou em 1973 o seu primeiro grupo - e no ano seguinte começava a tabalhar com Grusin. Formado pela USC School of Music, inclusive em violão clássico, Ritenour é considerado um jovem e prodigioso instrumentista, com uma já extensa fonografia em solo ou com nomes dos mais ilustres (de Herbie Hancock a Carly Simon). Neste "Rio", Ritenour traz um repertório dos mais incrementados, grande destaque para seus amigos brasileiros, como Oscar Castro Neves (violão), Chico Batera, Roberto Pinheiro, Marçal, Rubens Bassini (percussão), Paulinho Braga (bateria), Luizão Braga (baixo), que, ao lado de americanos com o Don Grusin (keyboards), Ernie Watts (sax/flauta), Jeffe Mironov (guitarra rítmica), emolduram esta viagem up to date pela sonoriedade de temas como "Rainbow", "San Juan Sunset", "Rio Funk", "It Happened Everyday", "Ipanema Sol", "Simplicidad" e "A Little Bit Of This And A Little Bit Of That" - cujos títulos já definem o alto astral das gravações.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
7
07/06/1987

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