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Jânio Quadros, contista...

Raras vezes o lançamento de um livro transforma-se num acontecimento tão badalativo como a tarde de autógrafos que ex-presidente Jânio Quadros fará amanhã, em Curitiba, na Ghignone da Rua das Flores, no final da tarde. Afinal, o polêmico político vem aproveitando o lançamento de seu livro ("15 Contos", Editora Nova Fronteira, 191 páginas) para fazer contatos com governadores, parlamentares e líderes políticos, aparecer na imprensa e televisão enfim se manter em evidência. Sua estréia como ficcionista, dentro do português correto que o caracteriza, mereceu longas apreciações da crítica literária, nem sempre com os elogios que, por certo, esperava. De qualquer forma, independente dos méritos, este seu livro de contos deverá vender bastante ao menos nas tardes de autógrafos e provocar discussões. A partir da capa, é destacado o fato de dois nomes de grande expressão terem escrito prefácios: o senador (e imortal da Academia Brasileira de Letras) José Sarney e o romancista Märio Palmério, autor de um dos maiores best-sellers da literatura brasileira "Vila dos Confins" - e hoje vivendo nos confins da Amazônia, a bordo de um grande barco. Xxx O senador José Sarney em seu curto prefácio lembra que em Jânio Quadros sempre existiram muitos homens. Há o Jânio político, há o Jânio pintor, há o Jânio gramático e dicionarista, há o Jânio professor, há o Jânio tribuno, há o Jânio poeta. Junta-se a estes, agora, o Jânio contista. "A síntese de todos eles pode ser um Jânio indivisível na pluralidade, que é o intelectual. Intelectual de estirpe, preocupado com as coisas do espírito, a buscar, sempre, na política e na literatura aquele substrato da alma de que nos fala Bergson". Sarney fala das "dificuldades do conto" que exige do autor a escolha de "um acontecimento significativo, que não só valha por si mesmo, mas também seja capaz de atuar no leitor, como um fermento que projete a inteligência e a sensibilidade em direção a algo que vai muito além do argumento e que dá conteúdo ao seu trabalho". E, no entender de Sarney, Jânio Quadros reduz seu campo de visão sobre alguns fatos, para contar suas histórias. Diz ainda que o ex-presidente do Brasil dá a seus contos uma intensidade que nos leva ao seu desfecho. "Às vezes se estende em situações menores, em incidentes pouco significativos, mas não perde a caminhada: existe a tensão necessária ao interesse do leitor, pelos meandros das histórias". As estórias que Jânio conta são as seguintes: "Mister Saraiva", "Marta", "Bromildo", "A diamond is forever", "In expremis", "O patrono lincolniano", "O conselheiro silenciado", "Caipora", "Um, dois, três...", "A chave", "Pesadelo", "Confidência", "Cuca", "Sarará", e "Berço". Xxx Citando Raquel de Queiroz - "Não acredito em prefácios e não gosto de prefácios. Se o livro é ruim o prefácio não adianta e não gosto de prefácios. Se o livro é ruim o prefácio não adianta e se o livro é bom o prefácio é uma excrescência" - Mário Palmério faz uma introdução informal a "estas primeiras quinze histórias de Jânio Quadros", na qual faz várias observações. Uma delas é "o apuro de linguagem do senhor Jânio Quadros, que o público já sabe, de antemão e de sobejo, o que irá encontrar, em matéria de linguagem, neste seu livro de contos". Mais adiante, lembra o autor de "O Chapadão do Bugre":. "Contos, porém, não se escrevem só com linguagem, por mais correta e esmerada que seja Jânio Quadros não o ignora. Sabe ele - e de cor e salteado da receita para fazê-los substanciosos e completos, confeitados de graça e discrição, ao bom gosto do leitor. Personagens não lhe faltam, inspiradas nas pessoas conhecidas ao transcorrer de uma vida riquíssima de experiência humana. Agora, ao convocá-las para tomar parte de suas histórias, Jânio Quadros selecionou um grupo mais ou menos reduzido suficiente para este primeiro exercício de novelística. Um ensaio suponho eu - para ajuizar das potencialidades de sua inspiração, e por à prova, desta vez na ficção, o talento artístico de que já deu exuberante mostra em seus disputados quadros de pintura a óleo".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
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24/11/1983

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