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Aramis

John Lennon

Seis anos após a morte de John Lennon - assassinado na entrada do Edifício Dakota, na noite de 8 de dezembro de 1980 -, o mais talentoso e famoso dos Beatles continua a ser revelado em aspectos inéditos. Ainda agora, um LP, um programa de televisão e três vídeos trazem imagens e músicas deste que foi uma espécie de anti-herói da contracultura de consumo musical durante duas décadas - e cuja morte em trágicas situações somente fez crescer o seu carisma. O material que deixou gravado vem sendo astutamente editado por sua viúva e herdeira - Yoko Ono, uma das mulheres mais ricas do mundo - e se os três últimos álbuns póstumos de Lennon (sempre com a participação de Yoko) aqui saíram pela Polygram, agora temos um novo disco de Lennon, cuja edição é feita pela EMI-Odeon - praticamente simultaneamente em todo o mundo - e que coincide, em termos de interesse/entusiasmo para o público com o novo álbum dos Rolling Stones ("Dirty Work", CBS), este o mais veterano grupo pop em ação (embora não muita, haja vista as divergências cada vez maiores de seus integrantes). Como Tarik de Souza acentuou num belo texto ("Jornal do Brasil", 4/4/86), "Live in New York City" é um novo disco de Lennon porque apesar da ficha técnica carimbar a data ao vivo no Madison Square Garden (30/8/72), o disco tirado de uma fita inédita pulsa como se tivesse sido gravado ontem. Lennon e Yoko (que se restringe aos teclado, nesta vez) e a Plastic Ono Elephants Memory Band (onde se destacam a guitarra de Wayne "Tex" Gabriel e a bateria de Jim Keltner) fazem uma cozinha do repertório de vários discos. E o ponto do caldo é a essência visceral do rock. Alguns números ("Instant Karma", "Mother", "Cold Turkey") crescem tanto ao vivo que parecem escritos na hora. Entusiasmado, Tarik classifica: "Barulho: gênio trabalhando". Aqueles defeitos de gravação ao vivo - microfonias, som sujo, as commandas de Lennon para os músicos (o sax meio fora de tom e até uma desafinada de guitarra do mestre, na introdução do "It's so Hard") apenas enriquecem emocionalmente esta apresentação de Lennon em Nova Iorque, há 14 anos passados, num concerto beneficente organizado pelo jornalista Geraldo Riviera para ajudar as crianças deficientes mentais. Lennon e Yoko sempre estiveram presentes em eventos políticos e beneficentes, começando com o Festival pela Paz, em Toronto, em 1969. Yoko lembra que na época do concerto do Madison Square Garden - o último de Lennon - coincidiu com a época do lançamento do político álbum "Sometime In New York City". - "Tratava-se de nossos ideais políticos postos em música à la Bertold Brecht. Nesta época, protestos contra a guerra do Vietnã borbulhavam; o movimento feminista despertava (uma das músicas daquele álbum era "Woman Is The Nigger of the World", não incluída agora nesta gravação ao vivo). Assim, o concerto de Lennon, há 14 anos, em New York, estava "repleto de amor, irmandade, fraternidade" como diz Yoko: - Distribuíamos tamborins para o público - nossa maneira de reiterar: vocês são a Plastic Ono Band. Todos se juntaram a nós no final cantando "Give Peace a Chance". As pessoas não se contiveram e marcharam Quinta Avenida abaixo cantando "Give Peace a Chance". Este foi nosso esforço no sentido de viver a política de base - tudo em que John e eu acreditávamos. xxx Um disco-documento que só cresceu com o tempo, este "John Lennon Live In New York City". Vale a pena curti-lo.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
3
13/04/1986

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