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Aramis

Jornalismo & Política

"A Honra Perdida de Uma Mulher"(cine Condor, 5 sessões, somente até sexta-feira) está na categoria dos grandes filmes-debate, que justificariam que os coordenadores dos cursos de comunicação social das nossas Universidades o incluíssem como de visão obrigatória para os estudantes, seguidos de exaustivas mesas redondas, Acredito, mesmo, que desde o clássico "A Montanha dos Sete Abutres" (The Big Carnival ou Ace in The Hole, 1951), de Billy Wilder, o cinema não apresentou uma análise tão cáustica do jornalismo sensacionalista, irresponsável e capaz de causar vítimas. Mas se o filme de Billy Wilder, realizado quando o cineasta austríaco-alemão estava no vigor de seus 45 anos, recém saído do êxito de "Crepúsculo dos Deuses" (Sunset Boulevard, 50), partida de um caso individual - um jornalista decadente (Kirk Douglas), numa cidade do Interior, aproveita-se de um acidente numa mina para explorar nacionalmente o drama de um homem preso na galeria (suborna o xerife e retarda a operação resgate, acabando por causar a morte da vítima), o filme de Wolker Sclondorff não individualiza o fato na imprensa. Assim, o seu filme - co-realizado por Margarita Won Trotta, é uma análise mais ampla, do próprio sistema político-social - econômico da Alemanha Ocidental contemporânea (a ação do filme é de fevereiro/75), com as implicações do nazismo, do poder econômico e, principalmente, da divisão política das duas alemanhas. O tema imprensa tem uma ampla filmografia, principalmente nos Estados Unidos, geralmente apreciada de um ponto de vista superficial, com os jornalistas transformados em heróis simpáticos - personagens interpretados por atores famosos dos anos 40/50, como Clark Gable, Gary Grant ou Willian Holdem. Mesmo um jornalista e roteirista sensível como Bem Hecht (1892-1964) sempre tratou do tema com uma certa romântica gaiatice, patente na sua peça "A Primeira Página", refilmada, aliás, há 3 anos pelo mesmo Billy Wilder, cujo "A Montanha dos Sete Abutres" permanece como uma obra a parte, por sua coragem na época. Embora para o grande público, um jornalista como Werner Totges (Pieter Lafer), repórter do sensacionalista "Bild Zeitueng", responsável por toda a tragédia de Katherine Blum, possa identificar uma certa espécie da imprensa - nos parece que a intenção de Schlondorff não foi em apenas realizar um libelo contra o sensacionalismo irresponsável. Pois, igualmente, condena as forças políticas e econômicas, de um sistema, que leva uma pobre empregada a se tornar bode expiatório de um crime que não cometeu. O epílogo, quando o covarde amante de Katherine, o empresário e professor Alois Straubleter (Karl-Heinz Vosgerden) sussurra ao ouvido do editor do "Bild Zeitueng" que em seguida faz um demagógico discurso sobre a liberdade de imprensa, é altamente sintomático. Como são algumas rápidas alusões à proteção que é dada a um antigo membro do partido nazista. Volker Schlondorff, 38 anos, é um dos mais vigorosos criadores do novo cinema da República Federal da Alemanha, inquieto e de clara visão política. Graças ao Goethe Institut, seus filmes tem sido projetados em Curitiba - "O Jovem Torles" (1966, exibido no sábado dia 12, na sala Arnaldo Fontana), "A Súbita Riqueza da Gente Pobre de Kombath" (1970), "A Moral de Ruth Halpfass" (1971), "Fogo de Palha" (1972). Entretanto, só agora, com a distribuição comercial via CIC, em cópia dublada para o inglês, deste seu novo filme, o grande público toma conhecimento deste cineasta extraordinário que, partindo de um romance de Henrich Boll, Prêmio Nobel de Literatura em 1972, realizou um dos filmes mais importantes dos últimos anos. A colaboração com Margareth Von Trotta resulta na sensibilidade feminista no tratamento da personagem Katherine Blum, seu relacionamento com o terrorista Ludwig Gotten (Jurgen Prochnow), seus patrões - o casal Blorna (Heinz Bennet/ Hannen Lorem), seus tios e o agente policial (Mário Adorf). Um filme adulto, realizado numa linguagem tradicional - a fotografia de Jost Vacano não tem preocupações de inovar, a música de Hans Werner Henze, funde muitos recursos de sonoplastia, mas que é uma reconciliação do grande público com o melhor cinema alemão - aquele cinema de antes da II Guerra Mundial, dos anos em que Pabst e Lang realizavam obras-primas na Alemanha anterior a Hitler
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
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16/03/1977

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