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Aramis

Justiça em julgamento

Pouco mais de um mês após "Querem Me Enlouquecer" ter sido lançado em Curitiba, outro vigoroso filme sobre o mundo dos tribunais americanos chega na mesma tela (Bristol, 5 sessões) e, igualmente, com mínimo público, o que praticamente condena a sua substituição na quinta-feira. O que é lamentável! "Sob Suspeita", a exemplo de "Nuts", de Martin Ritt, é envolvente, dentro de uma temática que já rendeu tantas obras cinematográficas - gerericamente classificou de "cinema jurídico", que pode sempre ser reapreciado com novas óticas. Em "Querem Me Enlouquecer", um defensor público (Richard Dreyfuss) é designado, contra sua vontade, no caso de uma assassina (Barbra Streisand), que todos - família, sociedade a própria justiça - queriam considerá-la insana - e condená-la a um manicômio judicial, sem um julgamento pelo crime que havia cometido. Neste "Suspect" é uma defensora pública, Kathleen Riley (Cher), que, exausta, há um ano sem férias, é designada para defender um surdo-mudo, veterano do Vietnã, Carlo Wayne Anderson (Liam Neeson), que vive às margens do Rio Potomac, em Washington D.C., acusado de ter assassinado uma funcionária do Ministério da Justiça para lhe roubar US$ 9. Deste plot, o roteirista Eric Roth construiu uma história densa, com um suspense que nada fica a dever a Alfred Hitchcook em seus anos dourados e que cresce sobretudo pela dunúncia da corrupção da justiça americana. Com a ação em Washington D.C. (embora as cenas de estúdio tenham sido feitas em Toronto), "Sob Suspeita", vai colocando o dedo na ferida,denunciando paralelamente a corrupção da justiça, também o poder dos lobbies no Congresso - através de Eddie Sanger (Dennis Quaid), profissional da área, que, convocado para ser jurado, transforma sua irritação inicial na disposição de interferir nas investigações. A construção do roteiro de Roth é perfeita e "Sob Suspeita" se inclui naquela categoria de filmes que perdem muito se não forem vistos, com muita atenação, do início ao fim - conservando-se a surpresa do final. Peter Yates, inglês, 59 anos, 18 longa-metragens, que ao chegar no cinema americano praticamente introduziu o "marketing da perseguição automobilística "urbana" em "Bullit", há 20 anos, fazendo-o um dos maiores êxitos de bilheteria de todos os tempos, tem demonstrado que ao lado do corretor realizador de thrillers movimentados, é também um intimista ("Johnny & Mary", "O Fiel Camareiro") e, em "Sob Suspeita" atinge um nível de segurança excelente. Filmado no primeiro semestre de 1987 - logo após Cher ter feito uma personagem totalmente diferente, a viúva Loretta Castorini em "Feitiço da Lua", que lhe valeu o Oscar de melhor-atriz-88, a advogada Kathllee Riley mostra o potencial dramático desta cantriz, revelada em "Silkwood" e premiada em 1985 em Cannes por "Marcas do Destino". Dennis Quaid, irmão do ator Randy, da nova geração de atores (visto em "Inimigo Meu") é um ator seguro, mas a revelação maior é Liam Neeson (pequenos papéis em "Krull", também de Yates; "A Missão") como o trágico Carl Wayne Anderson. Os personagens são bem trabalhados e a esplêndida trilha sonora - de Michael Kamen, com a The National Philarmonic Orchestra (editada no Brasil pela SBK Songs) é desenvolvida em forma de duas nervosas suítes - na melhor escola que o mestre Bernard Hermann sabia fazer para os filmes do velho Hitch. "Sob Suspeita" tem tudo para agradar é só a imbecilidade do público em não prestigiá-lo é que condena-o a uma tímida semana de exibição.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Nenhum
3
02/08/1988

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