"Kardápio" político na busca de novos espaços
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 24 de setembro de 1985
Com a temporada de "Kardápio", a partir de hoje, num bar do Batel (Rainha Careca), o grupo Arte-Zão-Nato propõe-se a tentar os (difíceis) rumos profissionais de novos espaços artísticos. Optando pelo espetáculo na linha do chamado cabaré político, esse grupo, que se compõe de jovens entusiastas para o teatro de idéias, reúne, em um show alegre, divertido e debochado, vários temas do momento - da política [à] Aids, colocando o dedo, em especial, nos preconceitos de ordem sexual.
O Arte-Zão-Nato é um dos muitos grupos de teatro nascidos, amadorísticamente, nos últimos anos, mas que buscam trabalho regular numa cidade em que, surpreendentemente, ampliou-se ,a partir do final dos anos 70 (e especialmente nesta década ), o movimento de um teatro não oficial.
Assim, enquanto " Kardápio" fará apresentações no "Rainha Careca" (de terça a quinta feira, 22 horas), outro grupo, o Teatro Vó Célia, está em cartaz com "Morgasmos de Lux" (Teatro de Bolso, Praça Rui Barbosa, até dia 29) e, num novo teatro (o do Sesc, Rua Visconde do Rio Branco, esquina com a Fernando Moreira), Regina Gastos e Mário Schoemberger apresentam a comédia "Por Telefone", de Antonio Fagundes.
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Um simpático bar, que tem na classe artistica, em estudantes e na jovem boemia intelectual seu principal público - o "Camarin's" muito apropriadamente localizado ao lado do Auditório Bento Munhoz da Rocha Neto, pretende ser um cabaré político, ao estilo daqueles que inflamavam as noite de Berlim dos anos 20, com textos de Brecht e Kurt Valentim. Até um palco foi inaugurado há 10 dias com "Barba Azul", a satírica peça feminista de Nitis Jacom, com 17 integrantes do grupo Proteu, de Londrina.
Há 3 anos, implantando o Ponto de Encontro, bar do Teatro da Classe, Zé Maria Santos tentou fixar um espaço também para esse tipo de espetáculos, infelizmente, após a temporada de abertura, com a revista one-show-man "Nem Gay, Nem Bicha", o espaço foi adulterado e hoje é ocupado apenas pelo grupo musical feminino Arco Iris.
Já o Rainha Careca localizado num bairro de passado aristocrático, cede, temporariamente, o som elétrico-pop para, numa experiência que merece ser estimulada, abrigar o humor, a irreverência e a malícia levemente erótica de "Kardápio", espetáculo concebido e escrito pela sensual Margareth Bernardon, paranaense de União da Vitória, 32 anos desde 1975 residindo em Curitiba. Atriz, cantora e escritora (em "O Alegre Desbum", de Oduvaldo Vianna Filho, tinha bela presença), Margareth concebeu um espetáculo flexível e possível de ser atualizado a cada nova apresentação , com novas piadas (como, aliás, deve ser no chamado "cabaré político"). Seu marido, o músico Sidney Bernardon (que, para garantir o pão nosso de cada dia, é analista de sistema do Ippuc) assina a direção geral.
No elenco, estão dois atores - Paulo Maia e Ronald Pinheiro - e três digestivas atrizes - Rosana Pesch, Virginia Campato e Marina Machado, todas provindas de várias experiências teatrais montadas na cidade, especialmente no miniauditório Glauco Flores de Sá Brito.
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Espetáculo basicamente musical, "Kardápio" traz uma dúzia de cancões de Margareth e Sidney Bernardon, todas com relação direta aos quadros apresentados. Exige-se, assim, de seu elenco uma dupla mostra de talento: como cantores e, também, comediantes.
O calendário do miniauditório Glauco Flores de Sá Brito tem estado lotado com temporadas de novos grupos que se propõem a oxigenar nosso teatro. Alguns, como o Arte-Zão-Nato, dão um salto profissional, partindo para outros espaços, com essa temporada em um palco improvisado em bar e, posteriormente, ocupando também algumas datas no Teatro do Sesc, que, nascendo há uma semana, já começa com agenda disputada por [gente] que faz um teatro não oficial, marginal - mas capaz de eventualmente surpreender pela qualidade e talento.
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