Kinsey indígena
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 08 de outubro de 1974
Ao embarcar amanhã para Paris, onde o espera seu filho, Cláudio, 25 anos, o médico Moisés Paciornik leva não apenas inéditas contribuições científicas para três congressos médicos dos quais participará, mas também um filme de 16 mm, rodado na região de Barracão, entre as tribos de índios Kaingangues e Guaranis. Com sua esposa, Helena - que o acompanhara a Europa e seu filho e colaborador, Moisés desenvolve há anos um trabalho de prevenção do câncer ginecológico, através de campanhas coordenadas pela Organização Pioneiras, presidida no Paraná por dona Helena. E as pesquisas que tem realizado junto aos índios constituem o núcleo dos trabalhos de informação que estará apresentando nos congressos de cancerologia e ginecologia dos quais participará em Florença. E, de 28 a 30 de outubro, em Tel-Aviv, além de reuniões com outros especialistas em Roma e Lisboa, Cláudio Paciornik, já há quatro meses na Europa, levou alguns dos elementos pesquisados, que revelados a ginecologistas e obstetras de Berlim e Hamburgo entusiasmaram os mestres, interessados agoram em virem ao Paraná aprofundar os estudos. Ao proceder exames em 176 índias das tribos kaingangues e guaranis - onde constatou 1 caso de câncer ginecológico -, foi realizado simultaneamente um interessantíssimo inquérito sobre hábitos sexuais. Para a elaboração deste questionário de 100 perguntas íntimas, Cláudio Paciornik baseou-se no célebre Relatório Kinsey, elaborado pelo biologista e estatístico norte-americano Alfred Charles Kinsey (1894-1956), publicado em 1948 com o título de "Sexual Behavior in the Human Male" (Comportamento sexual do macho humano), ao qual seguiu-se, cinco anos depois o "Sexual Behavior in the Human Female" (Comportamento sexual da fêmea humana). Pela natureza científica do trabalho, Cláudio e Moisés Paciornik evitaram até agora a divulgação desta espécie de "Relatório Kinsey indígena", mas não há dúvidas de que no mesmo há muitas revelações importantes e até hoje inéditas, mesmo aos estudiosos dos problemas de nossos silvícolas. Aliás, em suas periódicas campanhas de prevenção do câncer ginecológico, principalmente nos municípios mais subdesenvolvidos do Estado, o Centro Paranaense de Pesquisas Ginecológicas, dirigido por Paciornik, tem efetuado levantamentos sobre os hábitos sexuais das mulheres examinadas, informações importantes ao aspécto médico-científico para as campanhas que, idealisticamente, promovem há vários anos em nosso Estado.
LEGENDA FOTO: Moisés
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