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Kleiton & Kledir, o gauchismo com a receita do bom sucesso

O Rio Grande do Sul é um dos Estados mais musicais do Brasil. Dezenas de festivais, uma discografia em ascensão e eventos como o I Acorde Brasileiro, seminário que vai discutir a música regional a partir do dia 10. Há muitos talentos nativistas surgindo - e o movimento cresce também no Paraná, onde o I Cante Terra, de Campo Mourão, realizado há poucos meses, foi registrado em LP. Ayrton dos Anjos, o incansável Patinete, a quem a música gaúcha tanto deve pelo seu esforço na gravação dos compositores, cantores, conjuntos vocais e instrumentistas gaúchos, costuma lembrar que foi visitando o trovador Gílson de Freitas, que Kleiton e Kledir Ramil ouviram os irônicos versos do "Gaúcho Bunda Mole" que, transformado num vanerão-chic acabou projetando-os nacionalmente. Membros de uma família musical, Kleiton Alves Ramil, 31 anos e Kledir, 36 anos, pelotenses mas não fanáticos, formaram com Quico (Eurico Guimarães de Castro Neves, 34 anos), outro pelotense e mais Gilnei Ferreira da Silva (gaúcho de Jaguarão, 36 anos) e o porto-alegrense João Batista (Guimarães Carvalho, 33 anos) o grupo Almôndegas, que a partir de 1972 começou a aparecer em mostras regionais e, em 1975, faria seu primeiro lp (Continental), no qual lançaram, entre outras, as músicas "Sombra Fresca" e "Rock no Quintal" (Zé Flávio), "Vento Negro" (Fogaça) e "Almôndegas" (Gilnei e Kledir). Seria, entretanto, canções como "Vira Virou", "Navega Coração" e, especialmente, "Deu Pra Ti" que colocariam Kleiton & Kledir no pódium dos artistas mais bem sucedidos nos últimos anos. Enquanto um irmão mais moço, Victor Ramil, partiu para um esquema de vanguarda - inicialmente até bem comportado ("Estrela, Estrela", Polygram, 1981), depois assumido em todos seus riscos (lp RBS, 1984, fracasso de vendas), Kleiton & Kledir acumularam sucessos - e, ao vivo, formam hoje uma dupla das mais requisitadas. Já gravaram na Argentina com Mercedes Sosa, tem músicas incluídas em álbuns de outros intérpretes e a cada ano trazem um novo punhado de canções - como as doze músicas reunidas no último lp que fizeram (Polygram), Há desde um oportunista hino de paz ("1986") até uma insinuante proposta ("Tô a Fim de Ficar Contigo"), passando por homenagens fellineanas ("Diário de Bordo/SOS"), indagações filosofais ("CQD") e também aquela simplicidade que os marca como autores que apesar do sucesso não esqueceram as origens rurais - colocado com precisão em "Laranjal" (Uma noite linda de luar/Na lagoa lá do meu lugar/As estrelas mais perto do chão/E o coração mais feliz"). Se Vítor Ramil não teve mais chance de gravar discos (depois do fracasso de vendas de seu elepê na RBS/Sigla), ao menos os irmãos lhe dão uma colher de chá em duas faixas, com suas complexas composições "Mais um Dia" (uma longa letra, extremamente bem construída) e, especialmente "N", com uma estrutura moderníssima - ambas com seu vanguardismo do manos Vítor, Kleiton e Kledir resgatam a memória de um dos mais simples intérpretes gaúchos, o falecido José Mendes, regravando seu maior êxito: "Para Pedro". De Pery Souza - um dos grandes talentos gaúchos, em parceria com o poeta Luiz de Miranda (que acaba de lançar seu sexto livro, "Amor de Amar", L&PM Editores, 79 páginas, Cz$ 30,00) temos outro momento dos mais interessantes: "Pampa de Luz". Já na primeira estrofe a sensibilidade de Luiz de Miranda: Tudo o que morre em mim Vive dentro de ti É uma estrela perdida Nave de luz na noite. Produção cuidadosa, com excelentes instrumentistas acompanhando a dupla nas diversas faixas, o disco tem ainda um destaque especial: a participação especial da bela cantora Berê, dizendo um texto em latim na faixa "Cheio de Vida" (Kleiton). Esposa de Ayrton dos Anjos, está na hora de Berê - cantora premiada em vários festivais nativistas - voltar a fazer um novo elepê, pois, afinal, já se passaram mais de dez anos desde aquele belo disco que fez na Continental. LEGENDA FOTO - Kleiton e Kledir: caminhos nacionais.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
4
30/11/1986

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