A Lapiana Filomena comanda agora CNPq
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 16 de abril de 1987
Pela primeira vez uma mulher chega a um dos mais importantes cargos executivos do Conselho Nacional de Pesquisas: Filomena Gebran é há alguns dias a nova superintendente deste órgão que tem sede em Brasília.
Quem conhece Filomena não se surpreende. Afinal, nos últimos vinte e poucos anos esta lapiana filha de pais libaneses tem se revelado uma mulher em construção, inquieta, criativa, decidida e sempre galgando novas posições. Desde seus tempos de colegial foi sempre uma pessoa intelectualmente preocupada em saber (e discutir) cada vez mais. Quando de seu primeiro casamento, soube fazer de uma permanência inesquecível em Paris do início dos anos 60, um aprendizado de vida, mergulhando em cursos de antropologia e história.
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Na Curitiba, da segunda metade dos anos 60, Filomena se destacou com incrível agilidade. Foi uma das primeiras mulheres a apresentar um programa de notícias na TV Paranaense, quando a então emissora do pioneiro Nagib Chede funcionava, improvisadamente, na rua Emiliano Perneta - por coincidência, duas quadras de sua casa. E na residência de Filomena, entre montanhas de livros e uma pinacoteca de fazer inveja para muitos museus, uma geração de jovens aprendeu também a fazer teatro, em leituras de autores como Buchner, Brecht e Tennessee Williams, que, na época, eram desconhecidos da inteligentzia curitibana.
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Filomena, ao lado de outra pessoa admirável na fermentação cultural daquela época, o artista gráfico, comunicador, criador de jóias, etc., Cleto de Assis (hoje em Brasília) criou a "Forma", que com apenas dois números editados permanece, até hoje, como a melhor publicação cultural já feita no Brasil. Houve também a experiência de uma galeria de arte avançadíssima, a "Toca", na qual aconteceram grandes momentos culturais.
Um dia, Filomena deixou Curitiba. Foi para o Rio, onde como professora universitária conseguiu chegar as mais altas posições no Departamento de História da Universidade Federal, inclusive dali desalojando uma das mais abomináveis figuras da repressão e dedodurismo nos anos da ditadura militar. Filomena traduziu livros para seu amigo Fernando Gasparim, da Paz & Terra, aprofundou teses, fez conferências, deu cursos, viajou bastante. Mulher intensa, de posições assumidas, em duas entrevistas históricas - para a revista "Quem" e, posteriormente, no suplemente "Cláudio" - surpreendeu a muitos por suas posições em relação a vida, ao amor e ao sexo. Dizendo-se uma guerrilheira do amor, assumiu paixões inflamadas e somente cresceu como pessoa & mulher.
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Hoje, enquanto vê uma de suas duas filhas, Cristina Gebran, realizar uma obra cada vez mais pessoal e sincera de poeta, Filomena consegue dividir a responsabilidade de professora e executiva com a de mulher de seu tempo. Admiravelmente feminista na defesa de seu sexo, jamais deixou de ser extremamente feminina - e isto a fez uma pessoa que rompeu as limitações provincianas e se ajusta num universo real.
A sua escolha para superintendente do CNPq é uma conquista natural de quem sempre soube buscar o seu espaço.
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