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Lauro Maia, o cearense que criou o "balanceio"

Para a maioria das pessoas, o nome de Lauro Maia talvez não se associe, imediatamente, a música. Afinal, entre tantos e tantos autores, quem seria mais este compositor de obra restrita a uma época de nossa MPB! Entretanto, se for lembrado que há 30 anos, em seu terceiro elepê na Odeon, o baiano João Gilberto incluiu uma deliciosa canção chamada "Trem de Ferro", talvez a memória se avive e ao menos os que tem maior interesse pela nossa cultura popular se liguem a esse compositor cearense, que morreu ainda jovem e cuja obra acaba de merecer o mais completo levantamento que só um estudioso e pesquisador apaixonado como Miguel Angelo de Azevedo - o Nirez (ver texto abaixo) poderia fazer. "O Balanceio de Lauro Maia" (Secretaria da Cultura, Turismo e Desporto do Ceará, 107 páginas, 19 ilustrações, 1991), acrescenta-se a bibliografia de nossa MPB. Como "Zequinha - Obra Musical" (edição da Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 30 páginas) e "Jesse Silva - Época de Ouro", de Danilo Uchoa (Editora Palomas, 80 páginas) - edições que comentaremos em próxima coluna - traz preciosas informações sobre a vida musical deste século, através de compositores-músicos que trabalham e viveram fora do Eixo Rio-São Paulo. xxx Lauro Maia, embora tendo vivido a maior parte de sua vida em Fortaleza tem ao menos duas ligações com o Paraná. Seu filho, Lauro, 45 anos, casado com Vilma, paranaense de Londrina, mora naquela cidade, onde nasceram os filhos Tatiana (1977) e Lauro Maia Telles Neto (1979). A cantora Stelinha Egg, a nossa vocalista que mais se projetou nacionalmente, há 41 anos, gravou postumamente uma das músicas de Lauro "Catolê", criada sobre motivos populares da região de Cariri. Humberto Teixeira (1916-1979), cunhado e o principal parceiro de Lauro Maia, fez algumas alterações sobre a canção original entregando-a ao maestro Lindolfo Gaya (1921-1987), que acompanhou a Stelinha, sua esposa, na gravação feita pela Capitol em 1950 (posteriormente a Sinter reeditaria o mesmo 78 rpm). Lauro Maia Teles (Fortaleza, 06/11/1913, Rio de Janeiro - 05/01/1950), filho de uma família modesta, começou a estudar música com sua mãe, professora de teoria musical e, em 1938, já formava um primeiro grupo musical (Quinteto Lupar). Embora pianista profissional e trabalhando na Rádio Clube do Ceará (onde chegou a diretor artístico), nunca fez nenhuma gravação. Em compensação, deixou dezenas de composições, todas levantadas por Nirez, que não se limitou apenas a fazer a sua biografia: estudou cada uma das músicas, comentou as letras, fez observações interessantíssimas. Também a época em que Lauro viveu - desde o ano de seu nascimento - é rememorada. No Rio de Janeiro, para onde veio em 1945 - quando já haviam sido aprovadas sete de suas músicas (uma delas por Orlando Silva, "Eu Via a Chica Boa"), Lauro conheceu o seu cunhado, Humberto Teixeira, nascendo uma grande amizade e parceria, entre as quais dois sucessos carnavalescos - "Só uma Louca não Vê" e, especialmente, "Deus me Perdoe" (1946, na voz de Ciro Monteiro). Trabalhando como pianista na editora dos irmãos Vitale, atuou também em cassinos e algumas rádios. Criador de ritmos - o "balanceio" seria sua marca registrada - Lauro poderia ter sido parceiro de Luiz Gonzaga (1912-1989). Conta Nirez: - "Quando começou a lançar os ritmos no Nordeste como o balanceado, a ligeira e o miudinho, o cantor, acordeonista e compositor Luiz Gonzaga que também vinha lançando ritmos nordestinos como o xamego e o calango, tentou com ele fazer parceria no baião, mas Lauro, avesso a responsabilidade junto a outras pessoas, pois gostava de compor só, ou com Humberto Teixeira que burilava suas peças, encaminhou Gonzaga a Humberto, como advogado com escritório montado na Avenida Calógeras. E foi assim que nasceu o baião urbanizado". Se não tivesse sido modesto, talvez Lauro Maia não seria hoje um nome quase esquecido. Felizmente, Nirez o retirou deste quase anonimato e seria ótimo se o Leon Barg, da Revivendo, se animasse a produzir um elepê com os maiores sucessos do compositor cearense.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
20
27/04/1991

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