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Lélio e Bettega falam dos filmes que amaram

Simultaneamente, a bibliografia de cinema é enriquecida com duas oportunas contribuições de críticos paranaenses: "Filmes Vistos e Anotados", de Francisco Bettega Netto (Cadernos do MIS/nº 12, edição do Museu da Imagem e do Som do Paraná, 60 páginas; ainda sem data de lançamento) e "CineAstral - I" de Lélio Sottomaior Júnior (32 páginas, edição do autor, circulação dirigida). São duas edições modestas, praticamente editadas de forma reprográfica e que não trazem ilustrações (apenas no "Caderno dos Mis", na capa há uma desbotada cena de "O Eclipse", 62, de Michelangelo Antonione, com Monica Vitti). Trata-se, entretanto, de duas excelentes contribuições para documentar a contribuição de duas inteligências da crítica cinematográfica paranaense, com textos produzidos basicamente no início dos anos 60. A edição destas coletâneas de filmes exibidos há quase 30 anos no Brasil - mas que adquire atualidade, haja visto que muitos deles retornam agora em vídeo ou em reprise pela televisão - mostra que, mesmo inexistindo uma crítica cinematográfica regular no Paraná, com raras exceções, talentos não faltam. A reflexão que a (re)leitura destes textos - inéditos para uma nova geração, mas já conhecidos dos mais velhos, através de suas edições originais nas páginas da "Última Hora" entre 1962/64 (Bettega Netto) e dos 5 volumes de "Ci(S)ne" de Lélio Sottomaior Júnior, proporcionou que se (re)avalie aspectos do cinema, especialmente internacional (só Bettega aborda duas produções nacionais, "O Pagador de Promessas", de Anselmo Duarte e "A Ilha", de Walter Hugo Khouri), por parte de vocações para a crítica que, penalizados por uma falta de mercado profissional para justificar uma continuidade de um trabalho regular, praticamente se afastaram de análise profissional do cinema. Bettega Netto, 58 anos, artista plástico, ex-diretor do MIS-PR (87/88), assessor da COPEL (hoje na área cultural da Fundação Copel), foi um dos raros casos de crítico cinematográfico a ter remuneração no Paraná por seu trabalho - exercido por dois anos, no início dos anos 60, quando o jornalista Ary de Carvalho aqui desenvolveu a experiência de fazer da "UH-Paraná" um veículo abrangente, inclusive na área cultural, há mais de 20 anos não produz novos textos críticos. Só a insistência de amigos - essencialmente de Valêncio Xavier, que o substituiu na direção do MIS-PR, fez com que selecionasse 22 textos críticos de filmes importantes lançados em Curitiba entre 1962/64. O tempo não envelheceu os textos de Bettega, bem (in)formado, vigoroso na amarração de suas interpretações e que, por certo, se tivesse dado seqüência a sua produção (interrompida com o golpe militar de 1º de abril de 1964 que fechou a "Última Hora" no Paraná, e sua recusa em continuar a escrever sobre cinema sem ter uma digna remuneração) por certo a pobreza da cultura cinematográfica não seria tão grande. Lélio Sottomaior Jr., 44 anos - a serem completados no próximo dia 12 de abril, representou, também no início dos anos 60, um pensamento rebelde, inquieto, que nas páginas de O Estado, "Diário da Tarde" (suplemento "Vanguarda") e "Diário do Paraná", uma primeira voz em defesa de cineastas até então vistos de forma marginalizados. No ano passado, "Caderno do MIS" dedicou seu sexto volume a uma síntese de textos da série "Ci(S)ne" e, agora, paralelamente a este primeiro volume de "CineAstral", o MIS deverá editar um novo trabalho de Lélio, no qual analisa 12 cineastas contemporâneos. Sem nunca ter recebido um centavo por seu trabalho crítico, Lélio não deixou de escrever, embora bissextamente - reunindo seus ensaios, sempre com profunda reflexão e intuição, em edições, particulares ou, nos últimos meses, em telegráficos (e excelentes) textos críticos divulgados neste ALMANAQUE (domingo passado, 25, seu artigo "A Vanguarda de Godard" foi creditado, por um engano gráfico ao jornalista Luís Carlos Rizzo). Pela importância da reunião de críticas de Lélio e Bettega em edições que, mesmo modesta, deverão alcançar repercussão nacional, voltaremos a falar, com maiores detalhes, nestes lançamentos, nos próximos dias. LEGENDA FOTO - Francisco Bettega Netto - na foto, ao lado da produtora Tânia Speditz - em revisão crítica: selecionou 22 textos publicados na "Última Hora" para um novo volume dos "Cadernos do MIS".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
04/03/1990

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