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Aramis

Lembranças de Hollywood, sonhos de Akira e memórias da II Guerra

Mais uma boa fornada de bons filmes nesta temporada pré-Oscar - o que significa a época das vacas gordas cinematográficas após a imbecilidade da produção que chega nas férias de dezembro a fevereiro. Quatro estréias importantes, enquanto outros filmes (como "As Montanhas da Lua", de Bob Rafaelson, no Luz; "Black Rain - A Coragem de uma Raça", de Shohei Imamura, no Groff), continuam em cartaz. Catapultado por indicações ao Oscar - inclusive a de melhor atriz como a campeã de nominations, Meryl Streep - "Lembranças de Hollywood" (lançamento nesta sexta-feira, Plaza), ganhou uma promoção extra com a vinda de Shirley MacLaine - que, na opinião de muitos mereceria também uma indicação ao Oscar - ao Rio/São Paulo para shows em casas de espetáculos (temporada que poderia ser estendida a Curitiba, se aqui existisse um empresário artístico realmente disposto a bancar produções internacionais). Baseado no livro autobiográfico da atriz Carrie Fischer (filha de Debbie Reynolds e Eddie Fischer), sobre seus problemas de relacionamento familiar, drogas, alcoolismo e sexo. "Postcards from the Edge" é mais uma expiação hollywoodiana sobre seus vícios e pecados. Só que o diretor Mike Nichols, competente, não forçou a barra e o filme flui suavemente, com humor e ironia, amparado num ótimo elenco (Meryl e Shirley magistrais), fotografia do alemão Michael Ballhaus captando todo o sol da Califórnia e a belíssima canção "I'm Checking Out" que revela Meryl como cantora e que valeu à autora, Carly Simon, indicação ao Oscar - que poderá levar na noite do próximo dia 25. Dennis Quaid - visto até ontem no ótimo "Bem Vindos ao Paraíso", de Alan Parker (infelizmente saiu de cartaz do Bristol, quando mereceria ter continuação), Gene Hackman e Richard Dreyffus tentam defender a performance masculina neste filme concebido especialmente ao redor de duas superatrizes. Nota-se, ainda, a participação da atriz negra C.C.H. Pounder, revelada pelo alemão Percy Adlon em "Bagdá Café", como a enfermeira Julie Maraden e o cineasta Rob Reiner ("A Princesa Prometida", "Conta Comigo"), numa ponta, fazendo o produtor Joe Pierce. Um filme de visão obrigatória, e que tem condições de atrair um bom público. Akira Kurosawa, 81 anos, o maior nome do cinema japonês, teve seu "Sonhos" exibido hors concours em Cannes, no ano passado, e, reduzido em vídeo, este filme simbólico e extremamente introspectivo do diretor de "Os Sete Samurais" pode retirar sua beleza original. Por isto preferimos esperar para vê-lo na tela ampla (Cinema I), no qual se reflete melhor a belíssima fotografia de Takao Saito e Masaharu Ueda, a direção de arte de Yoshiro Muraki e Akira Sakuragi e iluminação de Takeji Sano. Desde 1950, quando seu "Rashomom" recebeu o Leão de Ouro do Festival de Veneza, Akira Kurosawa (Oscar honorífico em 1990) se tornou o grande nome do cinema japonês, merecendo, inclusive, um curso permanente de pós-graduação na New York University. Apesar de todo o seu prestígio, Kurosawa só tem podido desenvolver seus projetos com apoio de produtores-cineastas bem sucedidos como George Lucas ("Guerra nas Estrelas") e Francis Ford Coppola, que depois de bancarem "Kagemusha" (Palma de Ouro, Cannes-80), viabilizaram a produção de "Sonhos", dividido em nove episódios. O próprio Kurosawa assim explica o espírito deste seu filme: - "Ele mostra nove histórias, cada uma inspirada num sonho. Os sentimentos que dormem em nosso coração, as esperanças secretas que carregamos dentro de algum canto secreto de nosso espirito, exprimem-se honestamente através de nossos sonhos. O filme se apodera destas impressões e as exprime sob uma forma verdadeiramente livre". xxx Programado na semana passada e adiado na última hora, "Menphis Belle - A Fortaleza Voadora" estréia hoje no Astor. Inspirada em fatos reais - a ação de um grupo de pilotos americanos nas B-17, as chamadas "Fortalezas Voadoras" da II Guerra Mundial, em perigosas missões nos anos de 1944, "Menphis Belle" será um novo teste para sentir se há ou não interesse do público por ver ainda mais guerra na tela. A experiência de "Air America - Loucos pelo Perigo", de Roger Spotiswood, que fracassou na semana passada no Plaza, parece mostrar que o público - que maciçamente vê a guerra a toda hora que liga sua televisão, não está muito afim deste gênero. "Air America", em tom de comédia ficcionista, satirizou um fato político-militar grave: o envolvimento da CIA e do Exército americano no tráfego de drogas do Sudoeste da Ásia durante a guerra do Vietnã. "Menphis Belle", recuando no tempo, surgiu das memórias de um dos participantes do grupo de oficiais-aviadores americanos, William Wyller, que foi um dos grandes cineastas americanos. Sua filha, Catherine, mostrou um documentário que o diretor de "Sublime Tentação" realizou na época ao produtor David Putman ("Os Gritos do Silêncio" e "A Missão"). Para dirigi-lo, confiaram num novato inglês, Michael Caton Jones ("Escândalo", o filme sobre o affair Profumo/Christine Keller), que reuniu um bom elenco jovem: Mathew Modine, Eric Stoltz ("A Estrela"), Tate Dovan D.B. Sweeney, Sean Astin e - estreando como ator - a nova estrela da música americana: Harry Donnick Jr. Considerado o "novo Frank Sinatra", aos 22 anos, Harry já tem quatro esplêndidos álbuns gravados - editados no Brasil pela ex-CBS, agora Sony, que em março traz também um vídeo com suas performances jazzísticas. Assinando alguns temas da trilha sonora - coordenada por George Fenton ("Nunca te Vi, Sempre te Amei"), só pela sound track já vale a pena verificar este filme movimentado. LEGENDA FOTO - Em nove estórias, com poesia e belíssimas imagens, Akira Kurosawa mostra sua forma, aos 81 anos, em "Sonhos" (Cinema I, a partir de hoje).
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Nenhum
17
01/03/1991

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