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Lições de Leonardo no campo editorial

Seria interessante que o professor René Dotti, em sua próxima viagem a Belém do Pará - cidade escolhida pelos ilustres secretários para sediar a nova reunião do seu Fórum Trimestral de Cultura - incluísse, no retorno, uma escala no Recife e agendasse uma visita à Fundação Joaquim Nabuco. Conheceria então o admirável trabalho que o pesquisador e escritor Leonardo Dantas Silva vem realizando junto à editora Massangana, pertencente àquela instituição do Ministério da Educação e Cultura - fundada e dirigida até a sua morte pelo sociólogo Gilberto Freyre. Leonardo Dantas Silva é o exemplo da competência que concretiza bons projetos. Depois de passar por várias unidades culturais de Pernambuco - em todas deixando sua griffe de energia criativa - assumiu a editora Massangana, que se encontrava semi-paralisada há anos. De princípio, Leonardo revitalizou a comercialização dos volumes já editados, incluindo uma preciosa coleção de uma dezena de gravações, ao mesmo tempo que agilizou as edições - repetindo, aliás, o que havia feito em plano do Estado, quando foi diretamente responsável pela publicação de mais de meia centena de títulos, todos ligados a Pernambuco - sua história, economia, política, geografia e cultura. xxx Só na Série Abolição, criada dentro dos festejos do centenário da assinatura da Lei Áurea, Leonardo publicou 20 livros, quatro dos quais por ele próprio coordenados: "A abolição em Pernambuco", "Alguns documentos para a História da Escravidão", "A Imprensa e a Abolição" e "Estudos sobre escravidão negra" (volume I). Nesta coleção estão também livros de Joaquim Nabuco ("Campanha abolicionista no Recife", "O abolicionismo", "A escravidão") e Gilberto Freyre ("Estudos afro-brasileiros"), além de outros estudos sobre os diversos aspectos da escravidão - como uma análise do clero e a escravidão, de Anselmo da Fonseca; "Costumes africanos no Brasil", de Manuel Querino e a "Memória da abolição", na qual Ilka Loureiro coordenou uma pesquisa nos jornais do arquivo Joaquim Nabuco. xxx É amplo o catálogo da editora Massangana - com volumes a preços que não ultrapassam a Cz$ 4 mil e que podem ser solicitados pelo reembolso postal (rua Dois Irmãos, 15, Apipucos, 52.071, Recife). Na coleção Gilberto Freyre, estão os livros "Açucar - em torno da etnografia da história e da sociologia do doce no Nordeste canavieiro do Brasil"; "Vida social no Brasil nos meados do século XIX", "Rurbanização, o que é" (este por apenas Cz$ 1.380,00, e que deve interessar particularmente o prefeito Jaime Lerner, que utilizou o termo criado por Freyre - rurbana- para um projeto de integração do homem à cidade, que agora deverá ser reaquecido em Curitiba), "Oh de casa!" e "Tempos perdidos, nossos tempos" (em parceria com Rubens Rocha Filho). xxx Outros lançamentos da editora Massangana, que convém registrar, considerando o interesse que os leitores possam ter para solicitá-los pelo reembolso postal (já que, nas livrarias, do Paraná inexistem estas obras). José Antonio Gonçalves de Mello é o autor de "Tempo dos flamengos - influência da ocupação holandesa na vida cultural do Norte do Brasil". Carlos Daghlian estudou "Os discursos americanos de Joaquim Nabuco", enquanto Glacyra Lazzari Leite fez uma pesquisa sobre a estrutura e comportamento sociais em Pernambuco-1817. O tradicionalismo católico em Pernambuco tem um livro de Tiago Adão Lara, enquanto "O imaginário e a simbologia da passagem" é de Danielle Perin Rocha Pitta e custa menos que um ingresso de cinema: apenas Cz$ 460,00. Mais dois livros de Joaquim Nabuco; "Cartas aos abolicionistas ingleses" (Cz$ 690,00) e "Minha Fé" (Cz$ 920,00). A quem se interessa por poesia: "Três poetas apaixonados por Fernando Pessoa", organizado por Edson Nery Fonseca e "Biopolítica de Manoel Bandeira" de Joaquim Francisco Coelho (Cz$ 460,00). Um dos setores mais atuantes do Instituto Joaquim Nabuco é o Centro de Pesquisas Folclóricas, dirigido por Mário Souto Maior, autor de inúmeros livros, inclusive o famoso (e proibido por anos) "Dicionário do Palavrão". De Souto Maior, temos a "Antologia pernambucana do folclore", que organizou em colaboração com Waldemar Valente (Cz$ 3.450,00). Na área da cultura popular, há o estudo de Lelia Coelho Frota sobre mestre Vitalino; "Bumba-meu-boi, o maior espetáculo popular do Maranhão", de José Ribamar Souza dos Reis. Aqui já comentado, um importante livro para a bibliografia de nossa MPB que foi lançado por Leonardo Dantas Motta, um dedicado pesquisador de nossa música: "Baião dos dois: a música de Zédantas e Luiz Gonzaga", tese universitária de Mundicarmo Maria Rocha Ferreti (Cz$ 3.450,00). Há também obras curiosas como "Santo também come" de Raul Lody, ficção ("Contos de Pernambuco", organizados por Cyl Galindo), no amplo catálogo da editora do Instituto Joaquim Nabuco. Na coleção de discos, a Cz$ 920,00 cada um (baratíssimos, considerando que os elepês em lojas chegam a Cz$ 6 mil ), estão em catálogo 12 volumes: "Capiba, ontem, hoje e sempre"; três volumes da série "Compositores Pernambucanos" (Nelson Ferreira/Getúlio Cavalcanti); "Manuel Bandeira, Augusto dos Anjos e sua sombra"; "Pinto de Monteiro: vida, poesia e verdade"; "Gilberto Freyre em prosa e verso", "Mauro Mota em prosa e verso"; "Nilo Pereira: o velho solar", "Waldimir Maia Leite: a voz e a poesia" e "Os melhores do Espação Aberto - I". xxx É de ficar com água na boca, ver um trabalho sério e dedicado como Leonardo realiza em Pernambuco. São livros e discos, lançados regularmente - e agora promovidos em escala nacional. No Paraná, um catálogo de obras editadas não passaria de magros 10 ou 15 t;ítulos, somando-se todas as tentativas feitas nestes últimos anos. E ainda se falou em criar uma custosa editora estatal! xxx A propósito, aos trancos e barrancos, mas com muita garra, a idealista Leilah Santiago de Oliveira está conseguindo fazer a Scientia et Labor, da Universidade Federal do Paraná, funcionar: ontem, no saguão do edifício D. Pedro I, houve o lançamento da obra "A face oculta da nutrição: Ciência e Ideologia", da professora Maria Lúcia Magalhães, do Setor de Ciências da Saúde da UFP.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
10/12/1988

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