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Aramis

Mais um pacote com melhor jazz

A confirmação de (excelentes) atrações para a quinta edição do Free Jazz Festival - aberto este ano para a participação de instrumentistas de todo o país, na parte nacional - estimula, naturalmente, que as gravadoras ampliem os seus catálogos de jazz, gênero que, felizmente, vem sendo fortalecido nos últimos anos - tanto com lançamentos contemporâneos como de gravações históricas. Mais um bom pacote está na praça com álbuns como "The Genius of Coleman Hawkins" (Verve/Polygram) e "Duke Ellington e Johnny Hodges" ("Side by Side", Polygram/Verve) - e também gente nova, ainda desconhecida, como Johnny Bates (BMG/Ariola). Entre os news temos Steve Gadd, corretamente definido por Tarik de Souza como o baterista de nove entre dez estrelas nas gravações em estúdios, que no álbum "Here & Now" (CBS), traz sua The Gadd Gang, formada por Ronnie Cuber (sax-barítono), Cornel Dupree (guitarra), Eddie Gomez (baixo) e Richard Tee (teclados). Uma música comportada, de certa forma como o espírito cool e refinado dos próprios músicos - em traje black-tie na capa (e contracapa), puxando até para a nostalgia ("A Whiter Shade of Pale", por exemplo) nas seis faixas do disco, no qual composições como a latina "Che Ore So" (P. Daniele) ganham uma interpretação bem adocicada. O baixista Eddie Gomez (Santurce, Porto Rico, 04/10/1944), presença generosa em "Here & Now", com 34 anos de execução ao baixo (aos 11, começou a tocar este instrumento), tem uma respeitável carreira - a partir de seu curso na Julliared School of Music e que inclui passagens pelos grupos de Marian McPartland, Paul Bley, Gary McFarland e, especialmente, a partir de 1966, com o pianista Bill Evans (1929-1979), com quem trabalhou regularmente até a morte do tecladista (juntos estiveram no Guaíra, em 1978, poucos meses antes da morte de Bill). Dono de uma sonoridade suave, refletindo influências positivas dos mestres Ray Brown e Charles Mingus, há muito que Gomez ganhou asas próprias para gravações, o que se sente neste excelente "Power Play" (CBS), suavíssima amostragem de seu lado de compositor, com sete temas próprios - apenas um de um grande amigo, Jeremy Steig, flautista ("Mr. Go"), que viveu muito tempo no Rio de Janeiro, casado com uma brasileira. Instrumentistas excelentes - como Steve Gadd na bateria, Michael Brecker (marido da pianista paulista Eliana Elias, hoje famosa nos EUA no sax-tenor), o já citado Steig, Dick Oats no sax alto (excelente sua intervenção em "Mel"), Michael Coehare e Lee Ann Logderwood nos teclados enaltecem este renovador álbum para quem aprecia o baixo acústico nas mãos de um mestre, na última faixa ("Forever"), a correta utilização de um coral com vozes de Ann Bristol e Kimiko Itoh. Embora ainda desconhecido no Brasil, Bobby Enriquez ("Wild Piano", CBS), tem um belo currículo: além do piano, toca outros 25 instrumentos e, citando mais uma vez o amigo Tarik, a imagem precisa: "Parece comandar os teclados com o chicote desenhado na capa" deste seu primeiro elepê a chegar ao Brasil. Já acompanhou Lionel Hampton, Chico Hamilton e Tito Puente, entre outros. Mas atenção! Os que esperam grandes vôos jazzísticos, inovadores, podem se decepcionar com o estilo arrumado de Enriquez - bem mais comunicativo àquela fatia (imensa) que prefere um estilo de fácil assimilação - mesmo sem chegar a concessões de um Cavallaro ou Cleyderman. Entretanto, é bom reconhecer que nem só de piruetas vanguardistas e experimentalistas vive o jazz. Prova disto é que Ornett Coleman (Fort Worth, Texas, 19/03/1930), saxofonista, pistonista, violinista e compositor, fez vôos avançados nos anos 60/70 (lembramos um espetáculo dificílimo, que assistimos no Carnegie Hall, NYC, em setembro de 1973), mas que num álbum recentíssimo ("Virgin Beauty", CBS) retoma uma linha facilmente assimilável, ao longo de 11 temas próprios, nos quais revela o talento de seu filho, Denardo, 35 anos, na bateria, percussão e teclados, ao lado de um inusitado quinteto de guitarras - Al McDowell, Chris Walker, Bern Nix, Charlie Ellerbe e Jerry Garcia, numa simbiose bastante curiosa - e cujos arranjos ele próprio cuidou. Aos 59 anos, Coleman está rejuvenescido, vigoroso - e comunicativo neste álbum de grande beleza. Comunicativo é também Johnny Hates, líder do trio Johnny Hates Jazz - formado com Mike Nocito e Calvin Eyes, em lançamento BMG/Ariola. Só que neste caso, de jazz há muito pouco: embora com bons acompanhamentos e um afinado grupo vocal de três vozes, Hates é um vocalizador de temas românticos - de vários autores, mas todos jovens - que nada têm em relação ao jazz. Mas a palavra está no nome de seu grupo.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
12
07/05/1989

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